tiagonbraz 13/06/2023
As Ideias Têm Consequências, de Richard Weaver
"Este é mais um livro sobre a dissolução do Ocidente." De tal maneira trágica, Richard Weaver, historiador e filósofo político, introduz seu livro, que examina as causas e consequências da decadência - particularmente moral - do homem ocidental, e por fim tenta propor algumas soluções para o estado atual das coisas. Com uma abordagem filosófica e metafísica, o autor diagnostica os males da sociedade contemporânea - em 1948 -, e que, com alguns poucos ajustes, poderíamos transportar este diagnóstico para a nossa.
Tornou-se um clichê a geração mais velha reclamar da mais nova, mas os jovens, é claro, não dão ouvidos e os taxam de antiquados, ultrapassados e boomers. Tais críticas, via de regra, são genéricas: reclamações das músicas, dos estilos, do comportamento. E, como já vimos diversas vezes, não surtem efeito. De certa maneira, Richard Weaver faz o mesmo, porém de maneira absolutamente genial e com uma análise precisa dos fenômenos que ocorreram para chegarmos ao estado decadente atual (lembrando que o autor fala de até 1948; minha humilde percepção, desde lá, é de uma descida até o fundo do poço). Não se limita a criticar os pontos observáveis da degradação, mas ultrapassar este observável para um diagnóstico mais apurado, com exame minucioso de uma causa primeira.
Weaver revela que esta origem é a perda da transcendentalidade. A falta de uma conexão com algo além de nós, uma referência moral e de retidão à qual podemos nos ancorar, foi o início de uma transformação radical. A partir desta perda, surgem rachaduras nas estruturas da sociedade, como a família. Perdem-se as distinções entre os seres e as hierarquias - com a esperança na utópica igualdade. Cresce o egoísmo, e a existência do homem se resume a conseguir o seu próprio conforto. O dever, a honra, jogados no lixo. Este cenário pode parecer catastrófico, um exagero - no entanto, ao ler o livro, é impossível deixar de fazer conexões entre as descrições e críticas de Weaver com o cenário atual. E, reitero, o livro tem setenta e cinco anos de existência.
Diante dessa conjuntura, que fazer? Desesperar-se? Aceitar o estado atual das coisas, e resignar-se à vitória do materialismo? Weaver discorda. A próprio ato de escrever o livro é um indício de que ele vê esperança de que o homem pode conhecer e fazer a decisão correta. Para o autor, a propriedade privada é o último direito metafísico remanescente, pois não precisa demonstrar sua utilidade social. Mais do que a subsistência, um fato econômico, sua existência denota o senso de pertencimento e de autonomia - apesar de movimentos recentes tentando subverter este direito. A partir deste espaço, que é um santuário onde temos maior liberdade, podemos pensar em "ofensivas", como diz Weaver. Estas incluem a retomada da exatidão da linguagem, contra o movimento em curso de separação das palavras e conceitos - basta verificar a promiscuidade com a qual passou a se usar "democracia" e "fascismo". Com a imprecisão da comunicação, a desordem. Contra isso, o autor sugere um treinamento em literatura, retórica, lógica e dialética.
Por fim, a piedade luta contra o egoísmo ao reconhecer a existência de algo além do eu. Weaver tem três coisas como foco da piedade, que sem dúvidas foram atacadas incessantemente pelo modo moderno de ver o mundo: a natureza, nossos próximos - todas as demais pessoas - e o passado. Há um profundo desrespeito e desvalorização de cada uma dessas entidades, com uma expansão do valor do "eu".
Sem dúvidas, por ser um livro escrito na metade do século passado, algumas afirmações tornaram-se datadas e foram superadas pela evolução dos acontecimentos - algumas podem parecer polêmicas aos olhos de hoje. No entanto, o cerne da ideia de Weaver e a grande maioria de seus argumentos é atemporal - e o leitor se surpreenderá com a inevitável identificação dos problemas que o autor descreve com a própria realidade.