Acervo do Leitor 02/02/2018
O Desfiladeiro do Medo – Clive Barker | Resenha | Acervo do Leitor
Porque somos tão fascinados pelo horror? Porque sentir medo pode viciar? Acredito que precisamos de nossa dose, segura, de adrenalina para nos tirar do estado letárgico que muitas vezes o cotidiano nos impõe. Um frio na barriga, a necessidade do choque em nossas terminações nervosas que uma só uma cena chocante ou violenta nos proporciona. O terror que assombra nossos corações podem possuir muitas faces, mas com certeza o autor Clive Barker conhece todas elas.
“O desfiladeiro está cheio de espíritos.
– Eu não acredito em espíritos.
– Você não tem que acreditar – retrucou ela – Isso não tem nada a ver com acreditar ou não. Eles estão aqui. “
O livro começa por volta de 1920 na Romênia quando a devassa atriz Katya Lupi, junto com seu amante Willem Zeffer, resolve visitar seus parentes em um vilarejo miserável. Durante a viagem Willem visita uma antiga fortaleza que serve de moradia para uma ordem religiosa. Negociando com o frei Sandru a compra de relíquias para presentear sua amada, ele acaba descobrindo uma antiga sala nas profundezas desta construção que o fascina. O salão é um grande mosaico de ladrilhos pintados a mão retratando uma misteriosa e obscena caçada. Negociando com o frei alcoólatra e falido, ele transporta toda a “obra” para sua mansão nos EUA. Seria o presente perfeito, caso não fosse um portal para o inferno.
“Eles estavam mexendo com mistérios que nem mesmo frei Sandru, que vendera as peças a Zeffer, compreendeu. Mas a carne ansiosa deles havia descoberto o que o intelecto de metafísicos não tinha conseguido entender. “
A história salta 80 anos no tempo para nos apresentar Todd Pickett, uma decadente estrela de Hollywood. Sentindo o peso da idade em suas rugas, ele se submete a uma cirurgia plástica mal sucedida. Desfigurado resolve se esconder da sociedade e mídia. Sua agente o hospeda na mansão abandonada que outrora foi o palácio dos prazeres de Katya Lupi e sua sala infernal. Sem suspeitar, sua breve estadia se tornará uma jornada inesquecível de prazer, dor, agonia.
“Na verdade, a despeito de toda linguagem bombástica e brutalidade de Katya, era o medo que lhe configurava a vida. Medo de viver, medo de morrer. Medo de ficar, medo de ir embora. Medo de lembrar-se e, sim, medo de esquecer. “
Morte, tortura, mutilações, masoquismo, sadomasoquismo, bestialidade, necrofilia, pedofilia, incesto, sexo entre mortos e animais e todas as possíveis deturpações da mente humana. Violento, pesado e cru. Clive Barker revira todas as camadas da devassidão e podridão humana até nos constranger e perturbar.
SENTENÇA
Divido este livro em “duas partes”. Na primeira metade temos o frescor e o ápice da escrita deste aclamado autor. Tudo que há de profano e assustador revelado de forma pornográfica nas pegajosas páginas deste tomo. Porem, na “minha” segunda parte, vi a história se perder um pouco, ficar muito prolíxica e repetitiva. O escritor esticando, desnecessariamente, ao máximo sua narrativa. Clive Barker sabe revirar seu estômago como ninguém, e quando ele se limita a destilar seu veneno é quase “encantador”. Este medonho livro encontra-se fora de circulação faz um bom tempo. Como um antigo manuscrito macabro proibido pela Igreja Católica só sendo possível encontra-lo em certos Sebos. Acredito que é mais sensato que permaneça assim… ou não? Leia, se enoje e tire suas conclusões.
site: http://acervodoleitor.com.br/o-desfiladeiro-do-medo-clive-barker/