Nathan Oak 08/02/2021
Diálogos, conversas e 'causos'
Escrita densa para quem é acostumado com a prosa fluida dos romances de aventuras contemporâneos, como eu. Diálogos importantes para entendermos as bases do pensamento ocidental, como o Fedro, com suas discussões sobre o amor sensual, e a retórica, com suas manifestações na estrutura dos discursos e linguagem científica da época, expressando a opinião de Platão sobre o tema, claro.
Sócrates fora acusado de crimes contra dos deuses da cidade por seus detratores e preparava-se para sua defesa quando encontra Eutífron, que acabara de acusar seu próprio pai de ter assassinado um servo. Mesmo sendo um ato defensável, o de Eutífron para com seu pai, era tido como um ato de moral questionável. Uma atitude não muito piedosa, nos dizeres de Platão. O diálogo é breve, porém carregado de conceitos e discussões rocambolescas sobre costumes, leis, ética e moral.
A Apologia é o livro mais recomendado para se ter uma introdução da filosofia de Platão, na opinião de alguns especialistas, embora eu tenha começado nesse mundo pela República. A Apologia de Sócrates é um monólogo de Platão, exceto pelas respostas dos interlocutores - e acusadores - de Sócrates quando este estava na corte de Atenas diante do júri para sua defesa contra os crimes dos quais fora acusado. era acusa do de sedução da juventude e de impiedade, aparentemente um dos mais graves crimes da cidade onde vivia, por ser perpetrado contra os deuses do Estado. Sócrates já sabe que seu destino está selado e será acusado, por isso não dispensa esforços em defender suas concepções filosóficas e a conduta que deve guiar um cidadão de Atenas. Ponto curioso é que Sócrates se orientou pelo que chamou de dáimon, uma espécie de consciência ou uma divindade menor entre os deuses e os seres humanos que tutelava os indivíduos, e por isso não teria desrespeitado os deuses da cidade, mas estava desempenhando ações inspiradas por este e pelo oráculo de Delfos. Os seus discípulos mais ricos, como Críton, Apolodoro e o próprio Platão, sugeriram ser financiadores de Sócrates e pagar uma multa como pena alternativa, mas a opção fora descartada. Sócrates defendia que nenhuma pessoa estava acima da lei, mesmo que estas fossem leis injustas, deveriam ser cumpridas.
Esse diálogo se passa no período em que Sócrates está na prisão, depois de seu julgamento, esperando a execução da pena, quando recebe a visita de seu amigo e discípulo Críton. Críton tenta convencer Sócrates de fugir da prisão para um lugar onde não estivesse sob a jurisdição das leis de Atenas. o prisioneiro opôs-se à fuga e ao suborno dos guardas, pois insistia que até a lei mais injusta devia ser respeitada. A conversa entre os dois gira entorno da justiça e sua aplicação na prática e despertava o questionamento: Até que ponto a lei, que tem em vista a justiça, consegue atingi-la na prática? A lei, como ferramenta da justiça, em sua execução prática pode tornar-se instrumento de injustiça, carecendo de discernimento para sua utilização, argumenta Sócrates. Como a lei pode tornar-se um instrumento da injustiça em sua prática? A essa discussão segue-se a crítica de Sócrates aos sofistas, que defendiam pessoas indiciadas que os pagassem para tanto, desprezando a verdade e a justiça levados pelo poder.
Nesse diálogo, Platão descreve as últimas horas de vida de Sócrates antes de ele beber a cicuta. O diálogo não é narrado pelo próprio Sócrates, mas por Fédon, que esteve com Sócrates nos seus últimos momentos na prisão. Fédon conversa Equécrates contando a este como ocorreu o seu último encontro com Sócrates e seus outros amigos e discípulos (Cebes, Símias e Críton, entre outros) quando conversavam sobre o tema da morte iminente de Sócrates. A principal questão do diálogo é sobre a imortalidade da alma e sua migração do mundo material para o Hades, depois da morte do corpo. Com uma demonstração fluida usando de exemplo mitológico, Platão discute sobre a doutrina da metempsicose, onde há o retorno da alma imortal para o mundo dos vivos encarnando em um outro corpo.