Regis 05/03/2024
Gógol, inaugurando a loucura na literatura russa
Publicado em 1835 em uma coletânea "Diário de um Louco" parece ter sido baseado em uma conversa do autor com um médico, sobre o comportamento de um louco.
Através de uma história, absurdamente, engraçada Gogol faz críticas aos títulos decadentes da nobreza, a burocracia do governo e como o serviço burocrático vai enlouquecendo o homem aos poucos; mas faz isso nos matando de rir com o diário, no mínimo curioso, de Axanti Ivanovich Poprishchin: um homem de origem nobre, mas sem um tostão no bolso e apenas uma posição insignificante no serviço público russo, que parece estar à beira da loucura e que no decorrer da história acaba por enlouquecer de vez.
O conto é narrado em primeira pessoa (essa é o única história de Gógol em primeira pessoa) e conta como a loucura se apossou de Poprishchin depois que ele descobre que Sophie, a filha do diretor de seu departamento, por quem tem uma queda, vai se casar com Teploff, um Comissário da Residência Real.
A forma como ele descobre isso é absurda, mas totalmente hilária! Quase não consegui fazer uma análise mais profunda do conto, pois não conseguia parar de rir, às gargalhadas, de Poprishchin fuçando e roubando a correspondência de duas cachorrinhas (através da qual ele descobre sobre o casamento de sua amada) e tecendo comentários sobre o estilo da escrita, analisando o assunto e ficando indignado por não encontrar o que procurava, nas cartas escritas por um cão:
"O começo até que é bastante inteligente, mas ao final a natureza canina desperta."
A gota d'água foram elas falavado sobre como os ossos de faisão são melhores que ossos comuns e ele surtando indignado:
"(Que diabo! O que é isso? Que besteira! Como se ela não tivesse nada melhor para escrever! Eu verei se não há nada melhor na segunda página.)"
Mas apesar de Poprishchin proporcionar risadas com suas excentricidades, sua condição também causa empatia e pesar. Ele parece sofrer de esquizofrenia e megalomania, o que explicaria a deterioração de sua mente depois da desilusão que sofreu.
Após ser levado, em meio a delírios, para o manicômio nada mais desperta risos e o tratamento, desumano, ao qual é submetido, com choques e banhos gelados, traz a tona todo horror dos tratamentos psiquiátricos no século XIX.
O final do conto é marcado pelo desamparo de Poprishchin implorando pela ajuda de sua mãezinha, pedindo que ela o salve e tenha piedade de "teu filhinho doente".
Assim como todas as histórias do autor, até agora, essa foi uma leitura maravilhosa, que no final, despertou reflexões sobre a imensa solidão desse pobre homem desiludido que acaba por se refugiar nos delírios psicóticos de sua mente cansada.
Essa obra de Gógol pertence ao gênero absurdo, do qual ele é considerado um dos pais, e inaugura, também, o tema da loucura na literatura russa causando grande impacto entre os autores e leitores de sua época.
Recomendo para todos.