Luciano Luíz 03/11/2015
Lá por 1994, na extinta TV Manchete, era exibido um animê intitulado OS CAVALEIROS DO ZODÍACO. Com o sucesso da série (que em verdade só começou a chamar a atenção depois de ter umas 3 reprises dos primeiros capítulos) algumas editoras resolveram investir em revistas de conteúdo voltado ao público interessado a séries de TV, mangás, comics, cinema e claro, animação japonesa. Os meses passaram, depois mais uns dois anos, o número de publicações similares aumentou.
Em uma delas, tinha a matéria de capa que deixou alguns possessos. Falava de um tal DRAGON BALL que iria fazer a série dos defensores de Atena comer poeira. Muita gente torceu o nariz. Um dos motivos, era sobre o protagonista, um garotinho de cabelos espetados que usava um golpe que em tradução literal era algo como: Raio da Tartaruga (por ser um golpe de movimento lento para sua execução). Só que os leitores da revista não gostaram nem um pouco da matéria. E um deles escreveu uma carta enorme, mostrando o quanto os Cavaleiros eram superiores. Aliás, falava que seria impossível comparar uma tartaruga a um dragão...
O redator então respondeu a altura. Cavaleiros era novidade na TV. E os fãs não conheciam a obra original, onde os desenhos do autor eram uma lástima. Sempre as mesmas cenas, sequências, posições, rostos, enredos que não mudavam de uma saga pra outra. Enquanto a série do garoto de cabelos espetados, rabo, bastão e nuvem voadora, tinha um autor espetacular em se tratando de quadrinhos. Pois AKIRA TORIYAMA não repetia cenas. Fazia desenhos em perspectiva fenomenais. E o melhor de tudo: apesar do enredo não ser tão foda, criava fantásticas batalhas e fazia seus personagens evoluir. E sabia usar o humor. Ou seja, Dragon Ball começa com a infância de Goku e termina com ele avô. O personagem cresce, se desenvolve. Vira adolescente. Casa. Tem um filho. Morre. Tem outro filho. Um dos seus filhos tem uma filha e assim tudo vai amadurecendo. Os demais personagens também passam por situações semelhantes.
Mas, em meados de 1990, ver Dragon Ball no SBT para o público brasileiro era uma perda de tempo. As pessoas riam da série. Ainda porque Cavaleiros tinha outro grau de ação e violência. Só que pra tristeza do Brasil, Dragon Ball teve inúmeros cortes, tanto em cenas de luta que se tornavam cada vez mais brutais quanto as cenas onde o erotismo era uma mesclagem de humor. Então os seios da Bulma, sua bunda, Goku tocar nas partes íntimas da menina que se tornaria sua esposa, Mestre Kame ficando pequenino e se escondendo ao lado da privada pra ver a Bulma de calça arriada, somente pelo YouTube depois de muito tempo...
O pior de tudo talvez tenha sido o fato de que que o SBT só passava um episódio por semana... E como eram mais de 100, a situação não era nada animadora. Sem contar que quando passava, o sol tava nascendo. Tá certo que no Japão, a exibição das séries de animê é semanal. Mas lá, o motivo é pelo fato de que os episódios estão ainda sendo produzidos. Portanto, os japoneses levaram mais de 10 anos para assistir Dragon Ball completo (ok, incluída a série GT).
Até que chegou um momento que a TV do Silvio simplesmente abandou Goku e sua turma. Audiência baixa e muita gente criticando enquanto olhavam cheios de alegria pra Manchete com suas séries e o carro-chefe, Cavaleiros...
Então veio 1999 e a Band sem qualquer aviso começou a exibir a fase intitulada, DRAGON BALL Z (o mangá original não tem Z. A série de TV apenas recebeu esse subtítulo para separar a fase de Goku criança e adolescente. Assim, em Z, Goku já está casado e com seu primeiro filho, Gohan).
A série foi um estouro. Não haviam muitos cortes. Principalmente nas cenas de lua que mostrava todo o impacto dos golpes dos personagens em lutas espetaculares. Aí eu pensava: e aquele cara que escreveu a cartinha pra revista?! Deve estar se encolhendo e vai ser vítima de bullying. Zoeira total. Ainda tenho essa revista e quando eu tiver um tempo de dar uma olhada nas caixas de papelão com outros livros e quadrinhos, vou conferir a carta e dar umas risadas. O brasileiro tem disso. Só quer saber de visual. Pobre criatura...
Bom, a série foi muito bem na BAND, mas devido a algumas cagadas, a GLOBO acabou adquirindo uma parte dos episódios. E assim jogou na TV Globinho (aliás, dois episódios ficaram com a Band e 3 com a Globo. Eles faziam parte da mudança da fase CELL pra MAJIN BOO, porém, somente quem tinha acesso a TV por assinatura assistiu. Mas hoje com YouTube fica facinho).
Na Globo era outra qualidade de imagem e som. Não apenas por causa da emissora, mas era a última fase baseada no mangá e por isso, o tratamento no quesito de animação tava muito superior aquilo apresentado na BAND. O traço era mais dinâmico e as cores mais vivas (aliás, o carinha da carta disse que os melhores animadores da TOEI ANIMATION trabalharam em Cavaleiros, mas não em Dragon Ball... cada merda que o povo fala...).
No dia 11 de Setembro de 2001, houve o ataque terrorista ao World Trade Center. Nesse dia, Goku ia se transformar em Super Saiyajin 3... curioso, não?!
Depois a Globo catou a fase de Goku criança completo (bem, quase completo). Afinal, o público agora tinha interesse em assistir o que vinha antes do famoso Z...
Bom, lá por 2001, também tivemos a primeira publicação de Dragon aqui no Brasil, pela velha editora Conrad. Naqueles dias, os volumes eram impressos em off set, tinham uma média de 100 páginas e também havia a divisão entre Goku pequeno e adulto. Aliás, foi o primeiro mangá publicado com leitura original, de trás pra frente. Aí veio outros tantos títulos, inclusive Cavaleiros que fez os fãs sentirem náuseas ao verem os desenhos originais... decepção das grandes...
Como o brasileiro é foda, imploraram a editora que lançassem a fase Z antes mesmo de terminar a anterior... Então o volume 1 ficou com 150 páginas e Goku com seu irmão na capa...
O tempo foi passando e a Conrad trouxe a Edição Definitiva. Na primeira publicação, eram uns 83 volumes. Na Definitiva, 34. Porém, a editora entrou em colapso e abandonou diversos títulos. E Dragon Ball Definitivo parou no volume 16. Tinha papel importado da Suécia (seja lá o que isso signifique), novas ilustrações pras capas, ilustrações recoloridas (nem sempre boas). E claro, as páginas que eram originalmente coloridas (ou em duas cores) estavam presentes no Definitivo.
Aí, a Panini que tava publicando um monte de mangás, depois de tantos anos, decidiu por trazer Goku mais uma vez. Porém, agora com a edição baseada nos 42 volumes originais. Essa versão foi impressa em papel jornal. E com uma imagem na lombada que forma além do título da série, alguns personagens entre as letras.
A publicação foi concluída em outubro de 2015. Veio com um marcador de páginas (o correto seria vir no volume um...).
Ao que tudo indica, existe a probabilidade da editora dar continuidade (ou melhor, republicar desde o início, a edição Definitiva ou então reiniciar a publicação da série em 42 volumes, mas com papel off set)
Bom, eu não comentei sobre o enredo porque Dragon é mundialmente conhecido. Seja em série de TV ou quadrinhos. Não vejo motivo pra isso. Eu só li a série completa pela Panini. A da Conrad na época perdi vários volumes e quanto a Edição Definitiva, tenho apenas o volume um.
Mas, se fosse pra fazer um breve comentário seria, esse: Goku, um menino superforte que conhece Bulma, a menina que criou um radar que localiza as lendárias Esferas do Dragão que quando reunidas fazem aparecer Shenlong (um dragão) que pode realizar qualquer desejo (desde montanhas de morangos, calcinhas, trazer um morto de volta a vida, etc. e tal). Mas aí entram outros personagens que desejam as esferas. Há também torneios de artes marciais. Todo um aprendizado no segmento de amizade dos personagens. E aí Goku casa. Tem filhos. As lutas continuam por anos a fio. Goku morre. Goku volta. Enfim. O melhor de tudo na série é o humor e as batalhas.
O traço é muito bem trabalhado. O autor simplesmente conseguia inovar em cada capítulo. Mesmo com a estória sendo simplória, havia momentos complexos (como a viagem no tempo e suas linhas). Também dá pra perceber as quebras no traço depois de tantos anos. O autor devia estar esgotado, tanto de ideias quanto fisicamente. Pois o desenhos perderam qualidade em vários momentos. Mas nada que seja considerado ruim. Muito pelo contrário. Ainda mantém o charme. No início era um traço mais arrendondado, depois ficou mais quadrado. Espetado.
Dragon Ball é leitura que vale a pena. Tanto para os jovens quanto para os adultos. É rápido demais ler os 42 volumes. E pra ser sincero, apesar de Goku ser um personagem de coração nobre, não fiquei triste quando ele morreu (nas duas vezes). Mas, senti tristeza quando Vejeta (o eterno rival e mais teimoso personagem que existe no universo) deu sua vida para tentar salvar seu filho, esposa e a Terra.
Bom, se você nunca leu, dá uma conferida. Se já leu, com certeza um dia vai reler.
Nota: 10
L. L. Santos
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