Daniel 12/05/2017Champanhe & CicutaEste volume reúne os três primeiros livros da saga Patrick Melrose. Apesar de todas terem o mesmo personagem central e serem partes de uma mesma história, são três livros com climas bem diferentes.
Na primeira parte, correspondente ao primeiro livro, “Não importa”, a ação acontece em 1967, na casa veraneio do casal Melrose em Lacoste, no sul da França. O dinheiro veio da família americana dela, Eleanor. David Melrose abandonou a medicina assim que se viu rico com o casamento. Patrick é o filho deles, solitário e triste no meio de tanto dinheiro e tanto esnobismo. A família está recebendo dois casais num final de semana: Victor Eisen, um filósofo deslumbrado pela riqueza, e a jornalista americana Anne Moore, que logo capta toda a infelicidade daquela família por trás de tanta ostentação. O outro casal é o Nicholas Pratt, amigo de David, e a alpinista social Bridget. Alguns destes personagens reaparecerão nos outros livros: Nicholas está em todos os volumes. Anne reencontrará Patrick em Nova York na segunda parte, e numa festa na terceira parte; e Bridget reaparecerá na terceira parte. Um acontecimento chocante afetará Patrick profundamente, para o resto de sua vida. É aquela velha história do pobre menino rico. Mas desta vez, não sem razão: com uma mãe ausente, Eleanor, sonâmbula em seu alcoolismo, Patrick é vítima de um pai cruel e imoral, David Melrose, um dos personagens mais detestáveis em toda a literatura que já li.
A segunda parte, “Más notícias” (também publicada em 1992) é passada em Nova York em 1982, e é claustrofobia e angustiante: acompanhamos Patrick, agora com 22 anos, num mergulho no submundo da cidade, após receber a notícia que seu odioso pai faleceu. Patrick tem que viajar para a cremação... e viaja de cabeça nas drogas pesadas. Esta parte é tão angustiante que em muitos trechos fica hilária.
A terceira parte, “Alguma Esperança” (publicada em 1994) se passa em 1990. Será o primeiro evento social que Patrick, agora sóbrio, sem drogas ou álcool, participará após sua reabilitação, um grande teste para sua força de vontade de se manter “limpo”. A festa é o aniversário do marido milionário de Bridget, que o leitor conhece da primeira parte, quando ela era a namora interesseira de Nicholas. Aqui surge uma multidão de personagens, a mais fina aristocracia inglesa (incluindo a Princesa Margaret), e isso lembra aquelas festas dos livros de Proust, onde a gente fica meio perdido em meio a tantos nomes e tantas intrigas – parafraseando Cazuza, tomando “champanhe e cicuta / com comentários inteligentes”. Neste ponto Patrick percebe que carregar tanto ódio e ressentimento talvez seja pesado demais... Foi a parte que me agradou mais e me animou ler o segundo volume, que reúne as duas partes finais desta história, justamente as mais aclamadas pela crítica.
Acho que vale a pena aqui ressaltar: que espetáculo a adaptação para TV destes livros, com Benedict Cumberbatch no papel título. Tudo perfeito: roteiro fiel ao original, atores, locações, trilha sonora. Um caso raro no qual podemos dizer, sem dúvida: o filme (no caso seriado) é tão bom quanto o livro.