Henrique Fendrich 04/09/2018
Realmente foi uma ótima ideia ler os primeiros volumes da coleção “Mar de histórias”. Terminei agora o primeiro volume, que pega desde as origens do conto, há milhares de anos, até o final da Idade Média. Em verdade, boa parte dos textos são esboços do que viria a ser conto, mas é uma experiência das mais enriquecedoras conhecer a “genealogia” do gênero.
Tem conto egípcio, tem conto grego, tem conto da Bíblia e do Talmude, tem histórias de tradição hindu e budista. Embora boa parte dos contos não escape do natural “envelhecimento”, não causando mais, hoje, o mesmo efeito que tiveram à época, a leitura é bastante simples e sem grandes problemas de entendimento.
Interessante como muitas das histórias de que se serviam os escritores foram sendo reaproveitadas e adaptadas em diferentes partes do mundo. As notas introdutórias de Aurélio Buarque de Holanda e Paulo Rónai são essenciais para compreendermos o contexto da publicação dessas histórias.
Um dos contos que mais gostei foi “De um sábio grego que era retido em prisão; como julgou de um corcel”, que faz parte da coletânea italiana “Novellino”, anterior ao próprio Boccaccio. Mas a divertida história deve ser mais antiga, como sugerem os editores.
Interessante também os contos referentes à “vida dos Santos”, do Jacobus a Voragine – que, entretanto, não tinha a intenção de fazer literatura.
Na parte final, há o próprio Boccaccio, com três contos, e depois tem alguns dos seus “seguidores”. Das “Mil e uma noites” há uma história também, que vem a ser a de abertura, isto é, a que explica como foi que a Sherazade principiou a narrar as suas histórias. Bem divertida também é a história que encerra o livro, “Como um defunto, levado vivo ao túmulo, se pôs a falar e provocou riso”, do Poggio Bracciolini.
Quase todos os contos são curtos e se lê rapidamente, com exceção do célebre “Amor e Psique”, de Apuleio.
É um livro muito interessante de ser lido não apenas por aqueles que estão interessados em saber mais sobre as origens do conto, mas da própria arte de se contar histórias.