Pandora 27/10/2018Rio de Janeiro, início do séc. XX.
Numa época em que os jornalistas praticamente não saíam da redação, João do Rio foi às ruas entrevistar as pessoas; subiu o morro para saber como viviam aqueles que, na modernização do Rio de Janeiro, no início do séc. XX foram expulsos de suas habitações no centro da cidade e acabaram criando as favelas; defendeu a colônia portuguesa, em especial, os pescadores, o que lhe valeu muitos inimigos. Foi membro da ABL. Circulou pelas altas rodas sociais, mas também fez amigos entre as pessoas mais humildes. Morto aos 39 anos em virtude de um enfarte fulminante, estima-se que 100.000 pessoas, de todas as classes sociais, compareceram ao seu velório.
Escreveu: “Se a minha ação no jornalismo brasileiro pode ser notada é apenas porque desde o meu primeiro artigo assinado João do Rio eu nunca separei jornalismo de literatura, e procurei sempre fazer do jornalismo grande arte.”
Como jornalista e leitora entusiasta, concordo e agradeço. João do Rio é uma grata descoberta - tardia - neste 2018.
Crônicas:
Com a mesma desenvoltura como transitou entre pobres e ricos, João do Rio escreveu sobre sociedade, miséria, religião, hedonismo, esporte, paixão, homossexualidade, trabalho, questões superficiais e questões profundas.
Todas as crônicas são maravilhosas, mas destaco algumas:
Gente às janelas
O último burro
Na favela
O reverso
Impotência
Ódio
A honestidade de Etelvina, amante...
O Brasil lê
27/03/18 - ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️
Folhetim:
São duas histórias: “A profissão de Jacques Pedreira” e “Memórias de João Cândido, o marinheiro”.
Decidi ler primeiro sobre João Cândido, o Almirante Negro, pois era a novela mais curta. Fiz bem, pois exceto pelo relato de João Cândido na prisão, todo o mais, incluindo a Revolta da Chibata, da qual foi o líder, é muito superficial e corrido. Fiquei decepcionada.
Já a outra história é sobre um dândi da alta sociedade, muito mimado, que passa a ser pressionado por seu pai para que trabalhe. Horrorizado, ele até comparece ao escritório uma vez ou outra, mas acaba desviando sua atenção para outros propósitos. É possível sentir a ironia de João do Rio nesta narrativa cheia de futilidades, mas o problema é que Jacques Pedreira carece de simpatia. Não me conquistou.
29/05/18 - ⭐️⭐️⭐️
Teatro:
Eu tenho uma certa dificuldade em ler textos teatrais por causa do formato. Mas me senti muito à vontade lendo as peças de João do Rio. Das três, “As quatro fases do casamento”, “Eva - a propósito de uma menina original” e “Que pena ser só ladrão”, a que menos me agradou foi Eva, que das três é a mais famosa. Gosto das sutilezas e ironias de João do Rio quando escreve sobre a alta sociedade, mas o enredo não me agradou, só quando há um acontecimento insólito - e aí realmente fiquei interessada -, mas que acaba servindo de base para um romance, o que achei bem aborrecido.
Gosto igualmente das outras duas por motivos diversos: “As quatro fases do casamento” é um teatro mais psicológico; em quatro atos com nomes das fases da lua, retrata o curto período de um casamento, da véspera à espera do primeiro filho e os sentimentos que o acompanham: a empolgação, o desejo, a tranquilidade, a desconfiança, o descaso, a desilusão... é curto, mas muito impactante.
Já “Que pena ser só ladrão” me divertiu muito, mas também me fez apreciar um texto inteligente contado de forma extremamente elegante; certas questões colocadas na peça são muito pertinentes, inclusive nos dias de hoje.
27/10/18 - ⭐️⭐️⭐️⭐️
João do Rio é definitivamente alguém que eu adoraria ter conhecido.