Paulo Silas 06/11/2016Revisando e reconstruindo diversas exposições sociológicas do Brasil feitas por renomados autores deste campo (sociológico e também histórico), Jessé Souza apresenta em seu livro uma leitura crítica acerca daquilo que o brasileiro entende por si mesmo. Afinal, qual seria o fundamento que dá a roupagem de 'brasileiro' ao indivíduo? Quais são as características envoltas no sujeito que o definem como um brasileiro? As concepções hoje tidas como o sendo se sustentam? A proposta do livro é rever alguns conceitos e tecer algumas críticas ao expor alguns percalços de algumas construções.
Há a proposta de reflexão sobre o liame do culturalismo conservador e o economicismo, o que, na visão do autor, acabaria por empobrecer o debate político brasileiro. A ideia é apresentar com profundidade o cenário social atual a fim de resgatar um debate mais amplo e crítico - daí a construção expositiva pela viés da ciência social crítica.
Superando ideias como a da meritocracia, por exemplo, o autor evidencia que a competição social inicia muito antes da fase escolar, já que há de se atentar para os estímulos afetivos que são recebidos pelo indivíduo desde a sua criação - o que muitas vezes acaba sendo desconsiderado na análise da formação das pessoas.
O círculo é vicioso e o próprio sistema (e a forma ingênua com a qual é compreendido) contribui para que assim permaneça. Para o autor, "luta de classes não é apenas a greve sindical ou a revolução sangrenta nas ruas que todos percebem. Ela é, antes de tudo, o exercício silencioso da exploração construída e consentida socialmente".
A intenção livro, enfim, é tentar demonstrar que seria possível reverter a situação denunciada. O economicismo é cego, nas palavras do autor, "em relação [...] à estrutura social". E a crítica constante na obra evidencia isso.
Por fim, necessário destacar que no final da obra há uma manifestação de cunho político-partidária, a qual, mesmo estando velada sobre a interessante exposição pelo campo da sociologia, é observável.
Um ponto crítico, quer se concorde ou não, que vale a leitura!