Kristine Albuquerque 01/10/2020
Amora, substantivo feminino.
Um livro de afetos diversos e pessoas diversas, sobre e com mulheres, mas sem restrição de público-alvo - ao contrário! Um livro feito para se pensar o lugar das mulheres nas artes em geral, para se pensar em existências invisíveis e para se identificar com sentimentos que são universais. Um dos grandes méritos da obra é esse mesmo: universalizar as diferenças sem menosprezar vivências específicas. É lindo de ver e de sentir.
Da criança pcd no torneio de xadrez ao casal de idosas que refletem sobre a morte, das primeiras experiências à mulher traída, os contos têm vozes e estilos diferentes, confirmando a versatilidade de Natalia Polesso. O tom dos contos também muda: engraçados, tristes ou dramáticos, felizes, expressivos ou introspectivos, experiências vividas e observadas, dos anos 1980 aos 2000.
Amora, feminino de amor, cria espaços na ficção para visibilidades e reconhecimentos. Amora, fruta silvestre, se faz presente em todo o livro, das cores às divisões. São duas partes: as grandes e sumarentas, com os contos propriamente ditos e que são 80% do livro, e as pequenas e ácidas, com trechos menores que parecem esboços de outras histórias. Ambas são fragmentos de vidas, reais ou não, que deixam à mostra intimidades e memórias das personagens. Que sorte a nossa ter tantas vozes talentosas na literatura brasileira contemporânea.