Lucas1429 14/10/2019Quem é o impostor?Javier Cercas é um dos meus escritores favoritos, por essa feita, qualquer livro que ele lança já atrai instantaneamente meu interesse.
Não é por menos.
Todos os seus livros são devorados por mim em poucos dias, mas a culpa é sempre dele, por esse grandioso talento literário.
Em "O impostor", Javier desnuda Enric Marco, uma emblemática figura da história espanhola, um ex-presidente de uma associação de sobreviventes dos campos de concentração que em 2005 foi desmascarado como um mentiroso que nunca havia passado por um campo de concentração.
Mas o livro não é só isso, o livro também é uma contínua aula de história da Espanha, onde Javier mostra todo o seu talento de historiador mesmo sem formação, onde trabalha as fontes e levanta suposições plausíveis. Onde respeita os limites e dialoga consigo mesmo.
O livro também é uma aula de filosofia, pois Javier indaga Enric e a si mesmo o tempo todo sobre as razões da mentira, seja ela Nietzscheana, seja ela de Montaigne ou seja ela platônica. Reflete sobre a política, a história, a ontologia de Marco e de si.
O livro também é uma aula de literatura comparada. A ficção salva? Enric Marco é um Dom Quixote ou é um Alonso Quijano? Javier Cercas é um Javier Cercas ou um Truman Capote? Nas páginas se descobre...
Mas, principalmente, o livro é um mea culpa. O livro é também uma aula de autocrítica. No final, Javier responde aos seus anseios do começo do livro: seria ele também um impostor ou somente Enric Marco? Seríamos todos impostores?
Para descobrir, apenas adentrando nessa maravilhosa construção narrativa que não poderia vir de outras mãos, que não as de Javier Cercas.