Paulo Silas 29/08/2017Palavras que rasgam e dilaceram. Versos que assombram e ofendem. Narrativas que atormentam. As "crônicas dos meus pés descalços" de Marcelo Amado foram redigidas sem a intenção de agradar - ou pelo menos não foram feitas para aqueles de estômago mais fraco.
Para os leitores que apreciam o gênero literário que o título e a capa do livro fazem presumir que o seja, o escrito é uma excelente escolha. Conforme aduz o autor, "a morte tem o poder de encantar. Ela pode ser sedutora, fazer com que você se apaixone e realize seus desejos mais intensos, terríveis". E é sobre a morte e tantos outros temas sombrios envoltos que o livro trata, carregando sempre a temática em suas duras linhas.
As fisgadas que cada linha proporcionam, alcançam o âmago dos sentimentos do leitor. Não há pudor. Não há certo ou errado. Não há. Simplesmente não há. O que há é a beleza da feiura estampada nas páginas presentes no livro. A cada linha, um sentimento incômodo - prazer no viés literário e repulsa nos sentimentos.
Linhas tortuosas, mas belamente escritas. Para além do horror, a denúncia contra o conformismo, o grito contra a hipocrisia e o escancarar do real, não importando a moral e os bons costumes, vez que aquilo que é, é.
Marcelo Amado logra êxito em agradar até os leitores mais exigentes. Não se trata de apenas exposição do horror pelo próprio horror. Há toda uma beleza nas linhas da pequena obra que convencem. O literário é agradável, belo, bem escrito, pontual e dinâmico.
"Só queria voar meus sonhos diurnos e gozar o riso, sem pensar no disfarce embutido em minha face". É assim que o autor constrói sua obra de linhas, versos, frases, crônicas e narrativas reunidas. Um soco no estômago que consegue ser agradável.
Vale conferir!