Henri B. Neto 07/11/2015Resenha: PerdidoFazem 2 dias que terminei de ler "Perdido", de Maggie Stiefvater, e ainda sinto que não consigo organizar as minhas ideias de maneira lógica e coerente. Tanto é que tive que escrever três vezes sobre ele no Instagram, já que nas duas primeiras o texto ficou tão grande que o próprio app me cortou... Mas esta confusão de sentimentos é simplesmente maior do que eu. Foi através de "Os Lobos de Mercy Falls" que eu conheci a escrita rebuscada, poética e completamente sensorial da autora. Foi através da trilogia que eu descobri que livros de romance sobrenaturais podem ser mais do que aparentam, e foi a Maggie quem me apresentou os primeiros lobisomens Jovem Adulto que considerei dignos de nota. Então, sim, foi muito difícil guardar o livro novamente na estante e sentar para falar sobre ele.
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Mas enfim, sei que parece que estou enrolando, pois estou mesmo! Ainda aqui, de frente para a tela no notebook, eu tento encontrar as palavras certas para externar o que eu senti com "Perdido". O caso é que o livro foi tudo o que eu esperava, e nada do que eu imaginava. Ele foi surpresa e reencontro. Foi caos, fogo e sensualidade. Pois é isto o que Cole St. Clair e Isabel Culpeper são: Um incêndio de verão. Antes de mais nada, eu já preciso deixar claro que sim, eu consigo amar tanto eles quanto Grace e Sam, o casal protagonista da trilogia original. A segunda dupla sempre dividiu muito as opiniões, mas sou apaixonado pela dinâmica tranquila deles. Pois eles são um reflexo dos três livros principais: Inverno, calmaria, maturidade, abraços quentes e chocolate. O que é completamente diferente do líder da banda NARKOTIKA e da filha do homem mais poderoso da cidade de Mercy Falls. Sempre vi os quatro juntos como uma grande unidade de um mundo de opostos, e não sabia como a Maggie traria apenas um dos lados para finalizar a equação. Mas ela faz de uma forma mágica, como se "Perdido" fosse um grande espelho invertido de "Calafrio", o primeiro volume da série.
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Diferente dos livros de Grace e Sam, a história spin-off dos rebeldes de Mercy Falls não transmite a calma, o aconchego e a paz do inverno. Ela é turbulenta, e pegajosa, e barulhenta. Isto é um reflexo não só da personalidade do casal como também do cenário escolhido. Saímos das florestas geladas de Minnesota, do coração misterioso da Alcatéia de Bech e voamos para Los Angeles. Na cidade da costa dourada, Isabel se prepara para ingressar na faculdade de Medicina e Cole assina um contrato para protagonizar um reality show de uma polêmica produtora... O que, na verdade, é apenas uma desculpa para ir atrás da garota por quem é apaixonado. Mas as coisas não são fáceis. Ela não acredita que ele mudou, e ele precisa provar que mudou - mesmo que nem o próprio tenha tanta certeza disto. E partindo desta premissa, a autora nos presenteia com uma história sobre reencontros, descobertas, superação e auto conhecimento.
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Em "Perdido", o lobo não é mais um problema crônico, uma doença degenerativa que avança com o tempo e contra o tempo. Agora ele é droga, é vício, é fuga da realidade. É incrível a capacidade da autora em transformar uma barreira sobrenatural em um desafio da vida real. Ela faz isto com maestria, de uma forma completamente diferente da trilogia original. A vida de Cole e Isabel não se limita ao segredo que o garoto esconde. Eles não irão salvar o mundo ou lutar contra o mal. A luta é para se descobrirem, reconhecerem os seus erros, para sobrevirem no cruel mundo adulto e que tipo de pessoas eles se tornaram a partir de agora. O inimigo não é mais o dna do Lobo. O inimigo são eles mesmo.
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E não existe outra palavra para descrever isto além de INCRÍVEL. Em caixa alta mesmo. Pelo final agridoce cantado já em "Sempre", eu conseguia imaginar os desafios que Cole e Isabel precisariam enfrentar para estarem juntos. Digo até que minha mente inocente e extremamente sonhadora saltou esta parte e foi direto para o final feliz. Mas eu sabia que nem tudo seria flores, e muito menos fácil. Toda a história de "Perdido" mostra exatamente isto. E com uma narrativa visceral, repleta de sentimentos caóticos, Maggie Stiefvater nos mostra que, por mais obscuro que seja o nosso momento, nós temos a chave para a saída. E, de uma forma incrível, não soa piegas ou paternalista. Para falar a verdade, é crível e fantástico. Real e mágico. Como um livro da autora sempre é.
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Henri B. Neto
''Na Minha Estante''
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