Léia Viana 13/11/2016
"O regime nazista havia transformado a população do país em cúmplices, voluntários ou não, dos seus crimes e da sua insanidade."
Poderia descrever aqui todos os horrores e crueldades que uma guerra é capaz, mas seria insuficiente todos os adjetivos, para classificar o estado que esse livro me deixou todas as vezes em que eu o li. A Rússia me deixou em choque, assim como os casos de estupros e canibalismo. O Japão não ficou muito atrás.Como esse livro é tão rico em detalhes, foi tão bem pesquisado e narrado que prefiro deixar aqui algumas partes em que marquei com o meu post-it. Porque foram trechos que me deixaram sem chão, aterrorizada e com medo do que o ser humano é capaz de fazer e de como, por maior que seja as atrocidades vividas pelas vitimas da guerra, o ser humano se adapta ou padece (comete o suicídio) a toda e qualquer transformação em sua vida.
"Para as vítimas subsequentes da Alemanha, a tragédia foi que uma massa crítica da população, desesperada por ordem e respeito, estava ansiosa por seguir o criminoso mais temerário da história. Hitler conseguiu apelar para os seus piores instintos: ressentimento, intolerância, arrogância e, o mais perigoso, um sentimento de superioridade racial. Qualquer resquício da crença em um Rechtsstaat, uma nação baseada no respeito à supremacia da lei, caiu por terra com a insistência de Hitler em que o sistema jurídico servisse à nova ordem."
“Só em novembro os olhos se abriram para a verdadeira natureza do governo de Hitler. Após o assassinato de um funcionário da embaixada alemã em Paris por um jovem judeu polonês, tropas de assalto nazistas lançaram o pogrom alemão conhecido como Kristallnacht por causa das vitrines quebradas de todas as lojas. Com as sombras da guerra sobre a Tchecoslováquia naquele outono, a “energia violenta” fermentou no Partido Nazista. A tropas de assalto SS incendiaram sinagogas, atacaram e assassinaram judeus e estilhaçaram as vitrines das suas lojas, levando Goring a reclamar sobre o custo em divisas estrangeiras para substituir todos os vidros planos que provinham da Bélgica. Muitos alemães comuns ficaram chocados, mas a política nazista de isolar os judeus logo conseguiu persuadir a vasta maioria dos cidadãos a permanecerem indiferentes à sua sorte. E muitos foram tentados pela facilidade de se apropriar dos bens saqueados, dos apartamentos expropriados e da “arianização” dos negócios judeus. Os nazistas foram excepcionalmente espertos em atrair cada vez mais cidadãos para o seu círculo criminoso.”
“Quase todos os sobreviventes poloneses foram executados depois da batalha.
‘'A cara da guerra é terrível', escreveu um soldado alemão da 269º Divisão de Infantaria à família em 20 de maio. 'Cidades e aldeias em ruínas, lojas saqueadas por toda parte, valores pisoteados pelos coturnos, gado em manadas abandonado, cães esquivando-se furtivamente pelas casas [...] Na França vivemos como reis. Quando precisamos de carne, uma vaca é esquartejada e só os melhores cortes são usados, o resto se descarta. Há abundância de aspargos, laranjas, bebidas destiladas, cerveja, tabaco, cigarros, e charutos, além de jogos completos de roupa lavada. Devido as longas distâncias que temos de marchar, perdemos contato com as nossas unidades. Com os fuzis nas mãos, invadimos uma casa e saciamos a fome. Terrível, não é? Mas a gente se acostuma a tudo. Graças a Deus isso não ocorre em nosso país.'"
“Está é uma guerra de extermínio'", disse Hitler aos seus generais em 30 de março. 'Os comandantes devem estar preparados para sacrificar os seus escrúpulos pessoais. A única preocupação dos oficiais de mais altas patentes era o efeito sobre a disciplina. Os seus instintos viscerais - antieslavos, anticomunistas e antissemitas - se alinhavam com a ideologia nazista, embora alguns não gostassem do partido e seus funcionários. A fome, ouviram, seria uma arma de guerra e, segundo estimativas, 30 milhões de soviéticos morreriam à míngua. Isto dizimaria parte da população, deixando o suficiente para serem escravizados em um " Jardim do Éden " colonizado pela Alemanha. O sonho do Lebensraumn de Hitler por fim parecia estar ao seu alcance."
“’O russo é um oponente duro’, escreveu um soldado alemão. ‘Quase não fazemos prisioneiros, em vez disso matamos todos.’ Ao marchar adiante, alguns divertiam-se atirando a esmo na massa de prisioneiros do Exército Vermelho levados para campos improvisados, onde eram largados para morrer a céu aberto. Alguns oficiais alemães ficaram estarrecidos, mas a maioria se preocupava mais com a falta de disciplina.”
“Qualquer soldado alemão que demonstrasse piedade para com o sofrimento dos prisioneiros soviéticos era ridicularizado pelos companheiros. A grande maioria considerava as centenas de milhares de prisioneiros como pouco mais do que vermes. O seu estado deplorável, imundos devido ao tratamento que recebiam, só servia para reforçar os preconceitos criados pela propaganda dos oito anos anteriores. As vítimas foram, assim, desumanizadas em uma espécie de profecia cumprida. Um soldado que vigiava uma coluna de prisioneiros contou em uma carta que eles comiam “grama como se fosse gado”. E quando passaram por um campo de batatas “se jogaram por terra, cavaram com as mãos e as comeram cruas.“ Apesar de o principal elemento no plano da Barbarossa teria sido as batalhas de cerco, as autoridades militares alemãs deliberadamente haviam feito pouco para se preparar para as massas de prisioneiros. Quantos mais morressem por negligência, menos bocas teriam para alimentar.”
“Em setembro de 1944, uma conversa entre o general de blindados Heinrich Eberbach e o seu filho da Kriegsmarine foi gravada secretamente quando eram prisioneiros britânicos. ‘Em minha opinião’, disse o general Eberbach, ‘pode-se chegar a dizer que a morte destes milhões de judeus, ou seja lá quantos foram, se tornou necessária aos interesse do nosso povo. Mas não era preciso matar mulheres e crianças. Isso foi ir longe demais.’ Ao que o filho respondeu: ‘Bem, se é para matar os judeus, então é preciso matar as mulheres e crianças também, ou pelo menos as crianças. Não é preciso fazer isso em público, mas de que me serve matar gente velha?”
"Na realidade, comida era poder, tanto para o indivíduo corrupto quanto para o Estado soviético, que há muito usava para forçar à submissão ou se vingar das categorias de pessoas desfavorecidas. Os operários, as crianças e os soldados recebiam rações completas, mas outros, como as donas de casa e os adolescentes, recebiam apenas a ração dos "dependentes". O seu cartão de racionamento ficou conhecido como smertnik - o cartão da morte. Com uma relação verdadeiramente soviética diante da hierarquia, eram considerados "bocas inúteis", ao passo que os chefes do Partido recebiam rações suplementares para ajudá-los a tomar decisões favoráveis ao bem comum." São 866 paginas fora as notas de rodapé que somadas temos 951 páginas. Estou lendo e marcando com post-it e pesquisando muito. A leitura está muito interessante uma verdadeira aula a respeito da segunda guerra mundial Stalin Churchill exercito vermelho e muito mais!!!"
“’As pessoas transforma-se em animais diante dos nossos olhos’, escreveu alguém em seu diário. Alguns enlouqueceram de fome. A história soviética tentou fingir que não houve canibalismo, mas observações casuais e fontes de arquivo indicam o contrário. Umas duas mil pessoas foram presas pelo ‘uso de carne humana como comida’ durante o sítio, 886 delas no primeiro inverno de 1941-1942. ‘Como cadáveres’ era consumir a carne de alguém já morto. Alguns chegavam a roubar corpos dos necrotérios ou das fossas comuns. Fora de Leningrado, alguns soldados e oficiais ingeriram cadáveres e até os membros amputados nos hospitais de campanha.”
"Os mais valentes de todos em Stalingrado foram as jovens enfermeiras, que se expunham aos tiros para recolher os feridos e arrastá-los. Às vezes elas revidavam o fogo alemão. Macas não existiam, então a enfermeira carregava o ferido nas costas ou o arrastava pelo chão em um lençol ou uma capa. Os feridos eram levados a um dos postos de embarque para evacuação ao longo do imenso rio, onde corriam risco sob o fogo da artilharia, metralhadoras e ataques aéreos. Frequentemente havia tantos que às vezes passavam horas ou dias sem atendimento. Os serviços médicos estavam sobrecarregados. E nos hospitais de campanha, que careciam de banco de sangue, enfermeiras e médicos ofereciam o próprio sangue para as transfusões de braço a braço. 'Se não o fizerem, os soldados morrem', informou a Frente de Stalingrado a Moscou. Muitos desmaiavam ao doar sangue."
“’Os generais que tentaram assassinar o Fuhrer’, escreveu um cabo em 26 de julho, ‘sabem muito bem que é preciso uma mudança no regime, porque para nós a guerra não traz nenhuma esperança. Então, seria um alivio para toda a Europa se desaparecessem os três cavalheiros, Hitler, Goring e Goebbels. Com isto, o conflito terminaria, pois a humanidade precisa de paz. Qualquer outra coisa é mentira [...]. As nossas vidas não vão valer a pena enquanto esta administração continuar aí.’ Outros também fizeram comentários tão críticos ao governo que teriam sido presos se as suas cartas tivessem sido lidas por censores.”
“Naquela manhã de 25 de outubro, bem no final da batalha, os japoneses lançaram uma nova arma na forma de ataques aéreos suicidas dos pilotos da 1° Frota Aérea baseada em Luzon. Eles se chamavam kamikaze, ou "vento divino", uma referência ao tufão que no, século XIII, esmagou a esquadra invasora do imperador Kublain Khan. Havia uma vantagem óbvia para a Marinha Imperial japonesa. Os pilotos remanescentes eram, na maioria, inaptos para o combate aéreo, então tudo o que aqueles jovens precisavam fazer era jogar o avião contra um navio como uma bomba voadora, principalmente na pista de pouso dos porta-aviões. Os americanos perderam um porta-aviões escolta e outros três ficaram seriamente avariados, mas o efeito do choque do ataque Kamikaze foi tremendamente contraproducente para o Japão. A mentalidade que isto revelou certamente contribuiu para a decisão de usar armas atômicas contra o país menos de um ano depois, em vez de ser planejada uma invasão convencional das ilhas."
"Mesmo antes dos acontecimentos em Nemmersdorf, muitas mulheres já temiam o que estava por vir. Apesar da ignorância alegada no pós-guerra, grande parte da população civil tinha uma boa ideia dos horrores cometidos no front oriental. À medida que o Exército Vermelho avançava pelo Reich, elas imaginavam que a vingança seria terrível. "Você sabe que os russos estão vindo mesmo na nossa direção", escreveu uma jovem mãe em setembro, "por isso não vou esperar, prefiro matar as crianças e me suicidar."
“Os dois principais hospitais de Berlim, o Charité e o Kaiserin Auguste Viktoria, estimaram o número de mulheres violentadas entre 95 mil e 130 mil. A maioria sofreu vários ataques. Um médico calculou que umas 10 mil morreram em decorrência dos estupros ou por suicídio. Algumas moças foram encorajadas a se matarem pelos pais para limpar a “desonra”. No total, estima-se que cerca de 2 milhões de mulheres e meninas tenham sido estupradas em território alemão. A Prússia Oriental vivera uma violência muito pior, como confirmam diversos relatórios dos comandantes para Beria no NKVD.”
Leitura muito mais que recomendada!