Nica 10/11/2011CríticaO livro “A Língua de Eulália” apresenta uma abordagem interessante, fácil e bastante esclarecedora sobre a língua portuguesa, através de um pensamento lingüístico livre de preconceitos e idéias absolutas como “o que é certo” ou “o que é errado”.
Por meio de suas lições, Irene mostra às meninas situações muito comuns no português, assim como em outras línguas. Tais situações, outrora estigmatizadas, são “desmistificadas” por Irene, que sempre oferece exemplos, situações e explicações que ajudam a modificar o comportamento e a abordagem das meninas com relação à nossa língua.
A “professora” Irene, com isso, destrói a antiga polarização dos falantes. Antes, havia o grupo dos que sabiam falar bem / certo e os que falavam mal / errado. Ela prega uma simples variação da língua e o fim de tais rótulos atribuídos a essas variantes.
Dessa maneira, ela abre um mundo de possibilidades para as meninas: a cada lição, elas estão mais ativas, perspicazes e interessadas. Parece que, pela primeira vez, elas estariam realmente vendo a língua portuguesa “como ela é”. Do mesmo modo, ela questiona e desafia o conhecimento gramatical utilizado amplamente nas escolas, que ainda privilegiam um português muito distante daquele com o qual temos contato várias vezes durante o dia.
Tais lições trazem para o conhecimento das meninas novos conceitos como assimilação ou redução. Tendo apreendido tais conceitos e com o horizonte expandido graças a essa nova abordagem do idioma, as meninas começam a fazer suas próprias inferências e deduções. Cada vez que aprendem mais, maior o “arsenal” delas se torna e mais capazes de entender e compreender a língua ela são.
É um processo: cada passo apresenta um novo desafio, que junto com Irene, as meninas tentam redimensioná-lo e relativizá-lo, dando a eles uma nova óptica e retirando destes o peso do “errado”. As propostas de Irene são condizentes com a realidade lingüística da maior parte do Brasil e são sempre dotadas de exemplificações bem ilustrativas e comentários pertinentes.
O grande atrativo do livro “A Língua de Eulália” é mostrar a lingüística como algo “vivo” e sempre presente no dia-a-dia; ele também a mostra como algo muito mais simples e não-preconceituoso do que a gramática normativa das escolas. O fato de as alunas serem crianças reforça essa “crítica” ao ensino escolar da língua como uma simples “decoreba” e um campo extremamente limitado e preso onde quem não está nele não é certo. Outro ponto positivo são as lições em si: cada uma traz um aspecto diferente para se discutir e elas realmente atingem seu objetivo: faz da linguagem um material mais flexível e retira de tal ou tal discurso o estigma de “inferior” ou “errado”.
Por fim, deve-se ressaltar o aspecto “diversão”. Tanto as meninas quanto Irene realmente brincam com a língua: ao mesmo tempo em que aprendem, elas se divertem. Isso mais uma vez ressalta o quão simples pode ser entender um pouco mais sobre a nossa língua. Aprender, para elas, é mais do que um simples jogo de fala e escuta: é, acima de tudo, sobre instigar a mente, apresentar questões e arriscar novas e interessantes abordagens dos “problemas” propostos; tudo isso feito de modo muito consciente, informativo, paciente, investigativo e divertido.
Portanto, “A Língua de Eulália” serve como um ótimo exemplo de como a aprendizagem da língua portuguesa pode ser potencializada através de uma visão simplista, porém realista e em harmonia com a realidade lingüística presente no Brasil.