Renata 21/03/2022
Primeiro, o autor, Joseph Smith, do qual é impossível saber qualquer coisa além de que ele mora na Inglaterra e que The Wolf foi seu primeiro livro publicado. Não há informações disponíveis nem mesmo nas redes sociais e o fato de haver um homônimo famoso só dificulta mais as coisas.
A história, como o título sugere, é a de um lobo, não contada por um observador, mas pelo próprio. Uma fábula.
O lobo vaga por sua floresta em busca de alimento durante um inverno muito rigoroso, e aqui esta estação é descrita e ressaltada em sua beleza e em sua crueldade, é em si um personagem motivador, dispositivo.
De cara somos jogados em meio a uma caçada, onde o lobo tenta abater sua presa, a quem ele chama de um modo genérico de 'fera'.
"Farejo a fera. Seu cheiro, marcante e intenso, sobe dos odores mais leves do mato e me seduz, me atrai até ela". (p.7)
Contudo, o lobo falha na caçada, e isso faz com que ele dispare reflexões sobre si mesmo, sobre sua vida e habilidades, sobre seu poder como um predador temido, e o desespero de assim se manter acena quando a decadência trazida pela fome o ameaça.
Já muito cedo o lobo está encurralado e suas decisões, várias vezes trágicas, se fundamentam neste contexto, e ainda que ele explicite sua dificuldade de sair do seu lugar, do que lhe é conhecido e daquilo que o identifica enquanto Lobo, ele continua.
Assim acontece o confronto com o homem, assim ele teme a falsidade da raposa, mas ainda assim a segue, assim ele se joga em um poço escuro, confia a despeito de sua própria natureza dizer não. Assim, em sua luta pela vida vemos sua angústia em se opor ao que acreditava ser sua natureza, seu dever, àquilo que seria esperado de si.
"De repente, não tenho mais medo. De olho fechado e com o vento correndo no flanco, pode ser que eu já esteja caindo. Talvez, se eu tiver escorregado e for morrer, a terra que se aproxima ponha um fim à tristeza que sinto - uma tristeza não pela minha morte em si, mas sim pela hora da morte. Será a hora em que a luta inútil terminará, e, numa revelação, ficará comprovada a inutilidade de toda luta e sofrimento. Já vi, já persegui e já dilacerar as criaturas que se salvariam, e agora sou o desgraçado - o sofredor neste penhasco estreito à espera da morte." (p.96)
Nessa tortuosa trajetória, sonhando em alcançar o que seria uma fonte de alimento que lhe salvaria a vida, lhe restauraria as forças e a dignidade, o lobo vivencia um giro de perspectiva e passa a se enxergar como todos os animais que até então matou, desesperados, lutando pela própria vida, suplicantes e finalmente, o que lhe dava mais asco, resignados. Põe em questão o próprio sentido da vida enquanto luta e da sua própria existência quando pergunta "O que fui?".
Um livro muito bem escrito, repleto de alegorias, que nos põe, assim como o lobo, a pensar em nossa existência.