Pandora 02/05/2021Sabe queles livros que estão na sua lista de desejados desde sempre, mas você deixa de lado? Este.
Os meninos da Rua Paulo tem um QG: o grund, um terreno baldio entre prédios, repleto de pilhas de lenha, já que atrás do terreno há uma serraria mecânica e em frente a ela o barracão do vigia Eslovaco e seu cão Heitor.
Já no Jardim Botânico fica o QG dos camisas-vermelhas, mas como eles não têm onde jogar pela, decidem travar uma “guerra” com os meninos da Rua Paulo para tomar o grund.
Essa premissa tão simples é uma porta para tratar de assuntos muito sérios como ética, honra, respeito, amizade, lealdade. Todos seguem uma hierarquia e leis, que desrespeitadas, geram sanções. Mesmo o grupo rival também segue essa ética. A cena em que os dois líderes se veem a sós pela primeira vez é de um entendimento sem palavras.
O livro é uma porta, também para, de certa forma, tratar a questão da rivalidade implícita entre Áustria e Hungria, cujo relacionamento não era só flores. A Áustria, mais forte e poderosa, seria representada pelos camisas-vermelhas e a Hungria, pelos meninos do grund.
“Nos museus de Viena, reina uma ideia romântica sobre o antigo Império Austro-Húngaro, onde a Hungria era vista como uma feliz e subserviente nação ligada à Áustria. Contada pelo lado magiar, essa mesma história mostra que a Hungria não estava tão contente assim. Embora constituíssem dois estados irmãos, com capitais diversas e uma certa independência politica, o poder estava praticamente todo nas mãos dos austríacos o que gerava um incômodo que nem a simpatia de Sissi, a bela e amada imperatriz, conseguia minimizar.” (Site Viajando com arte)
Confesso que quando um incidente acontece com um dos garotos, eu pensei: “isso por causa de uma brincadeira!”, mas em determinado momento este mesmo garoto diz: “O grund é um país inteiro, vocês não sabem porque nunca lutaram pela pátria.” Isso me fez entender a seriedade com que aquela sociedade de garotos era tratada, o quanto lutar por ela era importante. E o quanto isso impactaria em suas vidas para sempre.
Uma pequena joia de 1906 que nos faz refletir até hoje.
NOTAS:
1. Do que eu me lembrei lendo Os Meninos da Rua Paulo?
Filmes:
A guerra dos botões
Minha vida de cachorro
Livros:
Capitães de Areia
Meu pé de laranja lima
2. Entrevista com Renato Russo sobre Andrea Doria: “Uma coisa que a Legião sempre tem, uma menina da MTV colocou isso muito bem: parece muito um livro chamado Os Meninos da Rua Paulo. (...) Seria um personagem como ele (Nemecsek) que estaria cantando essas músicas. É um jovem que acredita na virtude, em fazer as coisas corretamente, de acordo com as regras e fica batendo contra a parede porque esse mundo não funciona.” (lombrah no site Game Desire)
3. O Ira! tem um disco de 1991 chamado Meninos da Rua Paulo.
4. Há várias versões para o cinema, a mais famosa de 1969 dirigida por Zoltán Fábri.