Carlos.Santos 13/03/2018
Primeiro romance do Padura estrelado pelo policial cubano Mario Conde e segundo que eu leio do autor, Passado Perfeito é um bom policial. Padura, obviamente, influenciado pela literatura noir estadunidense e pelos europeus mais dedutivos, como o Pepe Carvalho do espanhol Manuel Vázquez Montalbán, nos traz uma trama de mistério passada na ilha de Fidel Castro, na primeira semana do ano de 1989, que consegue prender o leitor até o seu desfecho.
A história é bem simples: funcionário do alto escalão do governo desaparece sem deixar vestígios no dia primeiro de janeiro de 1989 e cabe a Mario Conde e seu parceiro, Manolo, resolverem o mistério. Padura aqui tem uma escrita ágil e bons diálogos. Claro, como eu já disse numa resenha anterior, está anos luz longe da sagacidade literária de um Rubem Fonseca ou um James Ellroy, contudo da um bom caldo.
Conde é carismático e o leitor torce para que ele resolva logo o mistério. Padura também mostra - mesmo que sem muitos detalhes - como funcionava a polícia de Havana naquele período. Pela descrição do autor, os policiais eram esforçados e tinham boas intenções. Em nenhum momento há menção de corrupção na força e a criminalidade na cidade é mínima comparado há uma São Paulo ou Los Angeles, por exemplo, o que acaba sendo um problema, já que não há tramas de crimes ou corrupção policial paralelos tão comuns na literatura noir. Aqui, de paralelo, existem somente as ligações pessoais e amorosas de Conde.
Sobre o modo de vida cubano, Padura relata as escolas, principalmente o que Conde chama de "pré-universitário", as vantagens que um membro do governo tem - o que pode gerar casos de corrupção (já que viajam pelo mundo sem supervisão) - e a questão da falta de insumos essenciais -
estamos falando de uma Cuba que foi diretamente afetada pela queda da URSS nesse sentido.
Passado Perfeito vale também pela curiosidade que desperta por ser uma obra passada em Cuba, escrita por um nativo e o mais importante: que vive até hoje na ilha. Ou seja, Padura não é um dissidente e tem conhecimento do que fala. Suas poucas críticas em nenhum momento soam forçadas ou desonestas, sem contar que Conde é um personagem profissionalmente admirável, coisa rara em se tratando de um tira da América Latina, tanto na literatura quanto na vida.