Reccanello 16/08/2021Infância destruída!Nunca deixa de ser um mistério a forma como o nazismo, mesmo com sua ideologia coletivista, seu racismo e seus métodos coercitivos, alienou e seduziu milhões de alemães e os levou à beira da destruição absoluta. Aqui, no livro, essa espiral destrutiva é mostrada de um jeito bem próximo, bem comum, através do cotidiano simples de um menino polonês órfão que, por ser fisicamente parecido com o ideal ariano, acaba sendo adotado por uma família alemã nazista modelo: o jantar em família, a árvore de Natal enfeitada de suásticas, a oração agradecendo ao Führer por ter salvado a Alemanha da miséria, a participação na Juventude Hitlerista, os brinquedos e as brincadeiras sempre repletos de um fundo ideológico de adoração a Hitler e de ódio aos judeus, os ideais de pureza e superioridade raciais, os preconceitos e a violência contra quem não se encaixa no padrão... Mas, ao mostrar o ponto de vista de cidadãos alemães comuns, o livro nos faz ver que, conquanto muitos acreditassem pia e intensamente nas ideologias do Terceiro Reich, por baixo da obediência e do medo ainda havia um espírito questionador de toda aquela fé cega em Hitler e no nazismo. De qualquer forma, não deixa de ser um aviso sobre a facilidade com que a sociedade pode ser seduzida.
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Apesar de bom, o livro não foi dos melhores que já li: a pesquisa histórica foi bem feita, mas a trama demora um pouco a engrenar; apesar de alguns momentos de tensão, a prosa do autor não contribui e a construção de alguns personagens acabou superficial demais. De qualquer forma, e a despeito da temática difícil, é um livro legal e divertido que também nos faz refletir.