O Presidente Negro

O Presidente Negro Monteiro Lobato




Resenhas - O Presidente Negro


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Jairo.Escudero 28/03/2014

Mais machista... talvez. Mas nunca, nada mais racista.
Creio que li O Sítio do Pica-Pau Amarelo quando criança e recentemente me deparei com um artigo que apontava a obra literária juvenil de Monteiro Lobato como racista. Assim como eu, não acredito que outros jovens, independente da época em que leram as aventuras de Emilia, Narizinho, Pedrinho, o Visconde de Sabugosa, Dona Benta e Tia Nastácia, tenham captado qualquer nuance de racismo. Para mim, isso pareceu coisa de adulto metido a crítico literário.

Resolvi então ler "O Presidente Negro", para ver se, na obra adulta do escritor, ele era mais explícito com respeito a esse tão delicado tema.

Para começar, em termos técnicos literários, a obra é fraca, pois Lobato infringe uma das mais importantes e básicas regras da escrita de ficção: "show, don't tell" ou "mostre, não conte". A história toda é contada por Ayrton Lobo e, dentro de sua narrativa, a história do ano 2228 é contada por Miss Jane. Não há ação, tudo é contado. A falta de verossimilhança é outro sério problema da obra. Isso é evidenciado pelo fato de que Ayrton é, nas palavras do doutor Benson, "um homem comum, de educação mediana e pouco penetrado nos segredos da natureza (p. 37)", e em suas próprias palavras um homem de "estudos ligeiros, ginasiais apenas (p. 37) ... [que não compreende] muito bem, lento que [é] de espírito (p. 39)". No entanto, ele continuamente cita Shakespeare, a mitologia, filósofos, e é profundo conhecedor da história mundial; tudo utilizando-se de um vocabulário extremamente rebuscado que permeia a obra. Cadê a lógica?

Quanto ao tema "racismo". TÁ LOCO!!! Racista é pouco! Do jeito que o eugenismo é enaltecido, me admiro que Hitler não tenha usado a obra como "manual" para a eugenia que ele tentou implementar. Inicialmente, é uma história até que interessante com o doutor Benson, sua máquina do tempo (provavelmente inspirado em H.G.Wells) e sua filha Miss Jane. Porém, quando Jane começa a contar a história sobre os Estados Unidos do ano 2228 e o Choque das Raças (título original da obra), tudo empeça a desandar. Logo de início ela propõe que a mistura das raças, "nossa solução [a do Brasil de 1926 e de hoje] foi medíocre. Estragou as duas raças, fundindo-as. O negro perdeu as suas admiráveis qualidades físicas de selvagem e o branco sofreu a inevitável piora de caráter." DÁ PRA ACREDITAR?!?! Negro = Selvagem. Branco = Caráter. Daí em diante, é um tal de o negro fazer tratamento para esbranquiçar a pele e alisar o cabelo, subentendendo-se que nem o negro gosta dele próprio.

A história contada por Miss Jane não só contém intrigas raciais, mas também política, política entre os sexos, política entre as raças, traição entre todos, e por aí a fora. E, além de racista, Lobato é também extremamente machista, aludindo, em várias ocasiões, à instabilidade feminina (p. 154 "2+2 não era forçosamente igual a 4. Era igual ao que no momento conviesse.") e a sua submissão ao macho (p. 139 Evelyn Astor "Vejo bem claro agora nosso erro e, embora reconhecendo as queixas que a mulher tem do macho, também reconheço que sem o concurso dele nada valeríamos no mundo").

É interessante observar que, no livro, a ideia de "autorização para reprodução" (pp. 158-159) e a futura conquista da Europa pelos "mongóis" (leia-se asiáticos, chineses até nisso o tom é preconceituoso, sendo que a palavra usada se parece com "mongoloides", palavra que, no Brasil, tem conotação de síndrome de downs), pressagiam as atuais leis de controle populacional chinesas, plenamente implementadas em 1979, e o atual poder econômico da China. Também interessante, é o presságio do trabalho sem deslocação, ou seja o "telecommuting", as pessoas não precisam sair de casa para trabalhar, tudo é feito através da telecomunicação.

Talvez o único ponto alto da obra, suas únicas ideias louváveis são o fato de que em 2228 não existem mais moscas (p. 166 "Se ainda houvesse moscas no ano 2228 poder-se-ia ouvir alguma voar na sala.") e, principalmente, a crítica à corrupção, burocracia e "sistemas de parasitismo de outrora e de hoje" brasileiros na denúncia de um "devorismo orçamentário de certas repúblicas «nossas conhecidas», onde fazer parte do Estado é conquistar o direito à inação da piolheira vitalícia dormir, apodrecer na sonolência da burocracia que não espera, não deseja, não quer, não age suga apenas. (p. 117-118)"

Em síntese, a obra é um veículo deturpado, um culto às ideias racistas, machistas e arrogantes de um Monteiro Lobato que, pelo jeito, deveria ter se limitado à literatura juvenil, arena na qual seus profundos preconceitos e intolerâncias são menos detectáveis. Uma avaliação de REGULAR, na realidade, é muito generosa!! É claro, com base no meu preconceito contra obras preconceituosas!!!
Cássia 23/08/2018minha estante
Assim, eu não li a obra infantojuvenil do Monteiro Lobato, mas li trechos em que Tia Nastácia recebe insultos insultos raciais tanto de Dona Benta como de Emília. Você vê com otimismo a sutileza do racismo na obra dele pra crianças. Eu vejo como pior. Porque você absorve aquilo de forma muito natural. E com crianças é ainda mais complicado porque estão em processo de aquisição da linguagem e de como funciona o meio social. Se eu leio num livro infantil negros sendo tratados na base do esculacho, vou achar crescer achando que isso é natural. Leia essa thread no twitter. https://twitter.com/interessante/status/1018998436442656768?s=19


Carla Cohen 03/07/2020minha estante
Jairo, quero há muito tempo ler este livro. Suas observações foram muito valiosas para mim. Obrigada.


Sandra Clara 29/03/2021minha estante
Indo na contramão do que muita gente diz sobre esse livro, minha interpretação foi que Monteiro Lobato defende a ideia de que devemos nos aceitar como realmente somos. Come as you are do Nirvana e Máscara da Pitty são músicas que deveriam servir como trilha sonora deste livro. Jim Roy omegatiza seu cabelo e isso o torna estéril e inapto para liderar a nação no futuro distópico que Miss Jane vê no porviroscopio. Ayrton consegue conquistar Miss Jane e inicia sua carreira de escritor apesar de erros e discrepâncias em seu estilo de escrita, porque finalmente ele assume seu jeito particular e peculiar de escrever. Seja você mesmo mesmo que seja estranho e bizarro.


Maris 15/08/2021minha estante
Monteiro Lobato, nesta obra, pinçou as 3 piores doenças da humanidade, pelo menos do lado ocidental, o racismo, o machismo e o cinismo, este pelo viés da política e mostrou sem máscaras e sem eufemismos nossa alejada realidade humana. Quer gostemos, quer não gostemos, ele nos mostrou nus a nós mesmos. Chocante, mas real. Aliás, chocante porquê real.


Gaja Rocha 01/11/2021minha estante
O preconceito é inerente do ser humano e não existe quem não tenha esse sentimento!
Se eu tenho minha fé e como base a bíblia, logo, vou sofrer preconceito religioso ser chamado de machista, homofóbico e fundamentalista religioso!
Os preconceituosos da cartilha do politicamente correto autoritário.
"Amai ao próximo como a ti mesmo".




Helenice 12/07/2020

Nunca li nada tão preconceituoso.
Já tinha ouvido falar como este livro traz uma abordagem racista. Mas fiquei me perguntando se seria o autor racista ou se o mesmo queria fazer uma crítica e levantar uma discussão sobre o racismo. Mas depois de ler cheguei a conclusão que só alguém muito preconceituoso conseguiria pensar em algo tão racista. Lógico que há aproximadamente 100 anos atrás (quando o livro foi escrito) havia racismo, até pq ainda hoje existe, mas após a abolição da escravidão era de se esperar que as pessoas pelo menos acreditassem num futuro melhor para os negros e que pessoas com uma influência tão grande defendessem a igualdade racial. Porém é justamente o contrário que acontece nesse livro (que se passa num futuro a mais de 300 anos após a abolição da escravidão): colocar o negro como uma raça inferior, conformados com tal posição e incapaz de lutar por igualdade por centenas de anos. Um livro difícil de ler em tempos onde tanto lutamos para acabar com o racismo.
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Patrick 21/07/2020

Lobato e seu livro de ficção científica
Após ler uma crítica sobre a obra, resolvi tirar minhas próprias conclusões sobre "O Presidente Negro". Entre as polêmicas: a do livro possuir um viés machista e racista. Cabe lembrar aos leitores o contexto em que Monteiro Lobato a concebeu. A sociedade brasileira foi e ainda é machista e racista. Quando "O Presidente Negro" foi escrito (1926), a população negra e feminina brasileira nem direito a voto tinham. Na distopia narrada, as vésperas das eleições presidenciais dos Estados Unidos, no ano de 2228, embora negros e mulheres participassem do pleito, eles eram vistos como cidadãos inferiores, a serem submetidos aos cidadãos superiores: homens brancos. Portanto, o enredo desenvolvido, embora fictício, não deixa de ser um retrato da sociedade brasileira patriarcal e branca de aproximadamente um século atrás. Condenar a obra? Não, ela possui aspectos interessantes que colaboram para uma reflexão de quanto a nossa sociedade (e muitas das ideias que a permeiam) evoluíram (ou não).
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Elizabeth 10/08/2022

O mais odiado
Pior livro que eu já li, acho que nunca tinha passado tanta raiva na vida. Só não dei uma nota mais baixa ainda por ser um livro nacional.

Monteiro Lobato era uma pessoa horrível e é triste pensar que ele é considerado (até hoje!) o maior autor de histórias infantis do Brasil.
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MaislaSilva 24/05/2020

Você nunca encontrará obra tão racista
O presidente negro, obra escrita pelo autor Monteiro Lobato, evidencia claramente seu racismo e eugenia. Não só nesta obra como em outras obras do mesmo autor você percebe o seu racismo, mas não tão evidente quanto nesta.

Apesar da lastima que é fazer esta leitura, julgo ser muito importante para nós quando leitores, visto que observamos como funciona a ideia do racismo, aqui fica claro que o branco se julga ser melhor somente pela cor da pele, nos da uma visão maior de realidade que não vivemos e não temos propriedade.

É um livro ruim de se ler, não o romantizem. Se separar a obra de Monteiro Lobato, ainda sim ele será racista.
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Aldemir2 07/06/2021

Esse Lobato é uma chacota mesmo
Li esse livro para o Grupo de Estudos Literários da faculdade e foi o único motivo pra ler isso porque minha nossa senhora do perpétuo socorro, que porcaria. A história vai acompanhar Ayrton, um homem que irá conhecer o professor Benson e sua filha Jane, ele conhecerá uma máquina que pode ver o futuro e conhecerá os acontecimentos políticos que acontecerão no ano de 2228 nos Estados Unidos.
A obra inteira está carregada de coisas racistas e machistas, incluindo eugenia, lembrando que Monteiro era adepto dos ideais eugênicos, ideais que irão ser apresentados nesta obra como a "grande solução" para a população. Lobato queria que O Presidente Negro fosse seu cartão de entrada no mercado editorial americano, mas foi rejeitado por cinco editoras, "Errei vindo cá tão tarde", escreve. "Devia ter vindo no tempo em que linchavam os negros." (tirado de https://www.bbc.com/portuguese/geral-53115152 ), é isso que o autor vai dizer para justificar os nãos que levou, poxa, imagina levar não das editoras porque você quer publicar um manifesto eugênico, que triste.
ana 09/06/2021minha estante
Tive que fazer um trabalho escolar desse livro ano passado, um horror! Nem consegui terminar.




sollnogueira 04/01/2012

O Presidente Negro - Paradigmas X Paralelos

“O Presidente Negro ou o Choque das Raças” obra de Monteiro Lobato, relata um romance e ou ficção científica referente aos Estados Unidos envolvendo as principais questões afirmativas, entre elas, feminista, racial, segregação e aculturação, nas quais permeiam conflitos que se agravaram durante a eleição presidencial de 2228 e estes, tornam-se a justificativa da obra.
Na obra supracitada, os personagens são mantidos na década de 20 do século passado, onde se encontra três personagens do “tempo presente”; o Professor Benson, sua filha Miss Jane e Ayrton Lobo, no qual, a obra é narrada. Ayrton Lobo funcionário da firma paulista Sá, Pato & Cia, desejava um carro da Ford, de acordo com essa narrativa, fica explícito a apologia pelo capitalismo. No decorrer da trama o Professor Benson cria um equipamento denominado “porviroscópio”, cujo termo, faz uma alusão a um aparelho que propõe uma compilação de dados mundiais futuristas e surrealistas, articulados com a atualidade, no caso, a vitória de Barack Obama.
Apesar de ser uma obra tendenciosa, o autor não esconde suas analogias racistas, principalmente, quando é mencionado o “Eugenismo” (Conjunto dos métodos que visam melhorar o patrimônio genético de grupos humanos; teoria que preconiza a sua aplicação).
Neste sentido, é permissível fazer um paralelo com outras obras de Lobato que envolvem idéias eugenistas, dentre elas, O Jeca Tatu, que foi segregado e estigmatizado como doente, sujo, preguiçoso e alcoólatra, onde o autor deixa claro, que para Jeca Tatu ser incluso na sociedade, deveria seguir os padrões cristalizados, destacando também a obra “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”, cuja, é totalmente eugenista, começando pela Tia Anastácia que é uma “escrava”, na qual foi “agraciada” pela a Carta de Alforria, tal análise é permissível, pelos trabalhos e o termo que ela usa para designar-se a patroa “Sinhá”, seguindo essa linha teórica pode-se também citar o personagem Tio Barnabé da mesma obra infantil, Lobato coloca o personagem negro, onde vive sozinho em uma cabana no meio da mata, contudo percebe-se a exclusão do negro na sociedade.
Entretanto, seguindo os parâmetros ideológicos dos escritos “O Presidente Negro”, a resistência racial nos mostra um termo pejorativo da obra de exclusão e limitação, apresentando as discrepâncias de raça, cor e gênero; paradoxalmente, é perceptível que esses três conceitos funcionam como um espiral, cujo, procuramos quebrar paradigmas, porém a sociedade elitista com força majoritária bloqueia dificultando a igualdade ou a aceitação racial, ou seja, ao mesmo tempo em que apresentam políticas públicas para sanar tais problemas, impede as idealizações dessa classe oprimida e justamente por Lobato se tratar de uma obra “evoluída” a questão racial deveria ser igualitária a raça ariana e não apresentar uma competição entre as raças.
Ao analisar o tema feminismo, proposto por Lobato em sua vigente obra percebe-se também uma “guerra” entre os sexos, visando mostrar qual é o melhor, o feminino ou o masculino e qual deles devem prevalecer diante da sociedade americana, sendo que, a disputa presidencial fica entre um canditado negro e uma mulher branca e em sua ingênua obra com teorias racistas e juízo de valores torna-se claro, a afirmação pelo embranquecimento da população dos Estados Unidos, propondo que os negros perdessem sua identidade, começando pelos alisamentos dos cabelos, ressaltando que no período da publicação da obra já havia vários movimentos sociais negros com a finalidade de disponibilizar mecanismos atendendo as particularidades de cada um e dentre tais movimentos, já apresentavam políticas públicas sobre a luta pela educação, e o autor infelizmente deixa a desejar nesse parâmetro.
Contrariando a idéia de um mundo informatizado que Lobato “previu”, colocaria que essa globalização informatizada “futurista”, não era apenas idéias dele, pois no momento, vários cientistas já tinham deixado um legado de estudos sobre a “Era” tecnológica para serem desenvolvidos, no entanto, percebe-se que o autor reproduziu conhecimentos que já estavam por vir, agregando os méritos para si.
Para tanto é importante ressalvar que o autor não enfatizou aspectos que comungassem com uma aceitação de raça, gênero, mestiçagem e também sobre as discussões de políticas públicas valorativas a esse grupo, ele coloca as ações afirmativas como uma fantasia e esquecendo-se talvez de escrever a história do seu país (Brasil), para valorizar uma sociedade elitista estadunidense. Neste sentido, diante da obra, fica a dicotomia dos fatos que os negros, desde a colonização são incapazes de serem intelectuais ou desenvolverem idéias políticas, sociais e econômicas, ficando claro, que o caminho do negro é peculiar, ou seja, estão prontos para desenvolverem conhecimentos a partir da sua própria história de lutas, sofrimentos, conquistas, triunfos e derrotas, pois, na mediocridade da sociedade elitista será difícil um “verídico” conto de um grupo negro escrito por um branco, sendo enfatizado todo o mérito conseguido por essa classe exclusa.

(TRABALHO APRESENTADO AO MESTRE AUGUSTO SALLES, COMO FORMA DE AVALIAÇÃO/RESENHA CRÍTICA “O PRESIDENTE NEGRO.”)
Disciplina: O Pensamento Negro Contemporâneo/Unb

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Viviane.Ramos 09/12/2020

O presidente negro
Presidente Negro ou Choque das Raças (Editora Globo, 2008), publicado originalmente em 1926, Monteiro Lobato, neste seu único romance adulto e de ficção científica, constrói uma narrativa que se passa em dois momentos distintos: em 1928 e no ano de 2.228, ou seja, trezentos anos no futuro.
Ayrton, cobrador da empresa Sá, Pato & Cia. sofre um acidente automobilístico na região de Friburgo (Rio de Janeiro) e é resgatado pelo recluso professor Benson, que o leva para sua residência. Ali, ele trava contato com a grande invenção de Benson, o ?porviroscópio?, um dispositivo que permite ver o futuro, e com miss Jane, a bela e racional filha do cientista.Anos depois o Baruk Obama torna o primeiro presidente EUA ,essa história contar a realidade que foi escrito.
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yokiitos 27/12/2020

Censura ou ressignificação?
Finalmente terminei de ler esse livro. Depois de acompanhar inúmeras discussões no Twitter sobre o racismo nas obras de Monteiro Lobato, fiquei tão curioso a ponto de ir procurar o que estava acontecendo diretamente da fonte. Eu nunca fui grande fã do Monteiro Lobato. O Sítio do Pikapau Amarelo nunca me atraiu quando criança, e hoje continuo não vendo graça alguma. Mas eu não sou referência nesse assunto, já que essa obra infantil é provavelmente a mais popular do Brasil. E eu até consigo entender, Lobato conseguiu construir uma história completamente autóctone, e não há nada melhor do que nos vermos representados nos livros e na TV enquanto crianças. Seus personagens entraram para a cultura brasileira de uma forma inexplicável, quase fazendo parte do folclore brasileiro. Isso consolidou a carreira de Monteiro Lobato na literatura brasileira, transformando-o numa gigante referência artística até os dias de hoje. Ou melhor dizendo, até os dias de ontem.

Em sua época, ninguém teria coragem de "cancelar" Monteiro Lobato por ser racista. Ninguém sequer teria um pensamento como esse. Mas hoje, em 2020, é quase impossível que obras como as de Lobato passem despercebidas e não tenham suas integridades questionadas. Eu até cheguei a estranhar o fato de que eu nunca havia ouvido falar nisso quando, de uma hora para outra, tudo tomou uma repercussão enorme. A questão é que o racismo de Monteiro Lobato vem sido discutido há pouco tempo exatamente porque nossa mentalidade mudou de forma muito rápida, ainda bem. Há alguns anos esse livro não fazia diferença na vida de ninguém, mas hoje descobrimos que sempre fez sim! Pessoas consagradas como Lobato tem grande influência sobre a vida das pessoas, ainda que essa não seja a intenção principal. Aliás, é importante ressaltar que esse não é um caso isolado. Monteiro Lobato inseriu seu racismo em diversas de suas obras, incluindo o livro infantil Em Caçadas de Pedrinho, onde se refere a Tia Nastácia como uma "macaca de carvão" que "parecia nunca ter feito outra coisa na vida senão trepar em mastros". Logo, o racismo de Monteiro Lobato é um assunto a ser discutido com extrema urgência, já que passou tanto tempo ensinado crianças (e adultos) a serem racistas.

Existe também um livro chamado Negrinha, o qual é visto por muitos como um livro antirracista e que, ao mostrar os sofrimentos de uma jovem negra, pode ser isento de acusações. Mas mesmo sem ter lido este, preciso desconfiar disso, já que a obra foi levada para o STF em 2012 para que uma decisão fosse tomada em relação da distribuição em escolas públicas. Eu vi muita gente no Twitter defendendo suas ideias quanto a existência de um impedimento na entrada dos livros de Monteiro Lobato nas escolas, ou até a censura por completo. Na minha opinião, não há nada pior do que a censura, principalmente quando se trata de obras históricas, por mais problemáticas que sejam. É preciso que haja uma discussão acerca do assunto, e mais do que isso, que a editora do livro se manifeste inserindo notas e prefácios que evidenciem o conteúdo da obra. Além disso, se os livros estiverem sendo usados em ambientes educacionais, é preciso que exista professores preparados para advertir os alunos quanto ao teor racista ou quaisquer outros problemas que possam existir na obra em questão. É com grande contentamento que vejo que essas coisas já estão acontecendo atualmente. A discussão do Twitter, que eu tanto critiquei, na verdade é incrivelmente útil, foi ela que me levou a ler esse livro e entender melhor o quanto o racismo no nosso país é estrutural. Essa edição da Editora Globo que li, de 2009, possui um prefácio que evidencia não só o racismo na obra, mas também o quanto o próprio Monteiro Lobato era eugenista, não só essencialmente, mas também empiricamente, ao se relacionar com a própria Sociedade Eugênica que existia em São Paulo em 1918. Enfim, felizmente vivemos numa época onde esse tipo de coisa, além de não ser mais aceito, recebe um novo significado.

Para desfazer esse teor jornalístico que criei nessa resenha sem querer, quero comentar também sobre o quanto eu gostei de toda a construção da máquina capaz de viajar no tempo. O presidente negro, que intitula o livro, se encontra no ano de 2228 enquanto a história é narrada há muito tempo antes. Essa parte da história poderia ser tratada como mera fantasia, mas Lobato consegue utilizar de diversas referências da ciência real para explicar o funcionamento daquela máquina, o que faz com que tudo pareça perfeitamente possível. Enfim, esse livro tem muitas coisas além da eugenia, e exatamente por isso que eu me oponho a censura de qualquer obra que seja e defendo a ressignificação. Sem dúvidas, o impacto cultural consegue ser bem maior dessa forma.
M Ferreira 29/05/2022minha estante
Incrível a sua resenha. Eu nunca li nenhum livro do Lobato, mas já estive acompanhando as discussões sobre o racismo em suas obras. Concordo com a tua visão sobre a censura. É preciso promover debates sobre esse assunto para que as pessoas tenham consciência de que os livros, como esse, representam o pensamento de uma época que não é, necessariamente, correto. Apagar a história é um erro grave, por mais problemáticas que as ideias sejam. A leitura crítica de obras clásicas é a melhor maneira de corrigirmos os erros do passado, ou seja, aprendendo com eles e não fingindo que não existiram ou modificando-os.




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Gustavo.Borba 26/11/2018

Lobato confirmado
O Presidente Negro, de Monteiro Lobato. Esqueça todas as acusações de racismo contra Lobato baseadas em como ele retrata a tia Nastácia, do Sítio do Pica-pau Amarelo. Nada do que ele ali escreveu se compara com o seu ?O Presidente Negro?. Se você quer mesmo tirar a dúvida se Lobato era ou não racista, deve ler este livro, apesar do asco que ele pode lhe causar. A história começa muito bem, com as influências modernas e avançadas de autores como Julio Verne e H. G. Wells, o que traz um tom de ficção científica ao livro, já que o personagem principal é uma pessoa comum, um trabalhador não muito destacado em uma função mediana que, certo dia, após sofrer um acidente, é socorrido e acolhido por um cientista recluso e sua linda filha, que realizam experiências capazes de visualizar o futuro. Ao ser ali introduzido, este personagem, chamado Ayrton, se oferece a permanecer como trabalhador daquele outro mundo, no que o seu benfeitor, o sr. Benson, lhe oferece o cargo de confidente, a fim de tomar conhecimento de sua maior invenção, o porviroscópio, equipamento que lhe permite ter visões do futuro. Logo em seguida, este brilhante inventor falece e sua filha, a bela miss Jane, resolve contar uma visão que tomou do futuro dos Estados Unidos no ano de 2228. É aqui que o livro perde o rumo e envereda na terra dos preconceitos, misoginia, americanofilia, eugenismo e outras aberrações. Pois ao apresentar o que seria sua visão de futuro, o autor demonstra esse seu lado sombrio que, faça-se justiça, era vigente em sua época entre muitas pessoas ?de bem? e inteligentes. Era uma marca de seu tempo, o que não quer dizer que não possamos ser críticos a esses posicionamentos na atualidade. O que considero ser inconcebível é negar essas posições como negativas por um alegado anacronismo ou esperar de Lobato outras posições, mais progressistas ou críticas, possibilitadas em nosso tempo após o transcorrer dos anos. Mas isso não impede que ele seja visto como o que realmente foi: um racista, misógino, eugenista, supremacista, americanofílico. O livro apresenta tantas aberrações contra os negros, e expressa tanta misoginia, e baba tanto nos ovos dos estadunidenses, que prefiro não discorrer sobre isso. Quem quiser e tiver estômago, que faça a leitura. Não recomendo a todos, mas a quem quiser aumentar sua indignação frente à naturalização da desigualdade racial. É um importante documento histórico por mostrar como tais ideias retrógradas se fizeram presentes no Brasil e têm, portanto, antiga raiz a justificar seu florescimento nos dias atuais.
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Tami 21/05/2021

O presidente negro
O livro não é fácil de ler, muito denso, lento, sem noção da realidade, em outras palavras nada encantador.
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sabren 10/07/2020

quase abandonei esse livro em diversos momentos. extremamente racista, eugenista e machista até pra época em que foi escrito.
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Juliane 11/01/2010

O livro aborda temas um tanto polêmicos, principalmente pela eugenia da raça branca por intermédio da expulsão do negro.
Tudo começa quando Ayrton cai em um precipício com seu carro (que até então representava tudo que Ayrton almejava), e se hospeda no castelo do professor Benson, quando este o encontra de sua queda. O professor, sabendo que seu fim é próximo, decide empregar Ayrton como seu conselheiro e conta a ele tudo sobre o porviroscópio, ferramenta que via o futuro. Durante o tempo que se passa, o professor morre, e sua filha, Jane, encarrega-se de contar a Ayrton o que acontece no ano de 2228. Logo ele não é mais capaz de segurar os sentimentos que tem por ela, mulher que até então desconhecia a aplicação da palavra ''casamento'' no seu dia-a-dia.
É incrível como um livro escrito em 1926 possa falar sobre a tecnologia e o futuro, com suas referências à internet e questões raciais, políticas e sociais. Recomendo.
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ultragicomedia 27/08/2020minha estante
Monteiro Lobato era de fato racista, além de querer trazer a KKK para o Brasil, é possível ver isso de forma nítida em suas obras. Claro que o termo só passou a ser usado posteriormente, mas acredito que seja importante não ignorarmos esse fato através de uma leitura com o olhar do século XXI.




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