alice 19/01/2021
quem tiver chorado achar-se-á algum interesse.
O conto narra a história de Daniel, um homem melancólico, abatido, que aparenta ter o dobro dos seus 30 anos e vive recluso da sociedade. Conhecemos o personagem através dos olhos de "P...", narrador personagem sem um nome propriamente dito. Quando visita a cidade Catumbi, depara-se com essa figura descrita como singular, tanto pela aparência madura, quanto pelo comportamento depressivo.
Daniel é alvo de fofocas, piadas de crianças desagradáveis e da curiosidade não só do narrador, mas também da cidade em que reside. No entanto, não abre brechas para que ninguém consiga extrair informações mais detalhadas sobre si, recusando qualquer contato social que não seja suas saídas até o cemitério e ocasionais respostas vagas às perguntas insistentes.
Curioso, o narrador tenta aproximação com o senhor e acaba por conquistar sua amizade, ganhando, consequentemente, a história que tanto anseia por ouvir.
Me sinto satisfeita por essa ter sido minha primeira leitura concluída do ano. Não esperava o que encontrei aqui, mas, honestamente, fui surpreendida de uma maneira emocionante. É um relato sensível, singelo e carregado de emoção. Diz respeito à dor de um homem que não soube ler as entrelinhas, de outro que não teve a chance de lutar por seu amor, e de uma mulher que não conseguiu - e possivelmente não pôde - abrir seu coração.
Daniel, vítima e vilão na própria consciência, definha sozinho em resignação. Seu desabafo é comovente, triste e fatídico, mas a história, mesmo assim, encanta. Revira nossos sentimentos e cumpre com o objetivo primordial da literatura: alimenta a alma.
O trabalho de Machado de Assis com a linguagem é brilhante, como sempre, e permeia os mais profundos lugares da nossa existência. Dessa forma, com apenas 12 páginas, o conto conseguiu se tornar uma das minhas leituras favoritas.
Recomento a todos que já choraram um dia, assim como àqueles que estejam em busca, não de um deserto para o coração, mas da água que renova as forças nas travessias pelos ermos da vida.