Daniel 21/09/2018
Uma poesia da dispersão
Essa coletânea reúne a obra poética do grande poeta português Mário de Sá Carneiro, escrita basicamente entre os anos de 1910 e 1916. As obras Dispersão, Indícios de Ouro, Últimos Poemas e Poemas Esparsos, as três últimas publicadas postumamente, fazem parte da coletânea e permitem traçar um panorama completo da obra deste que foi um dos grandes nomes da poesia portuguesa do século XX.
Poeta da primeira fase Modernista, Sá-Carneiro foi um dos grandes gênios literários de seu tempo; ao lado de seu melhor amigo, Fernando Pessoa, os dois fundaram a lendária Revista Orpheu, publicação responsável pela polêmica que deu início ao modernismo português.
Pouco inovadora na forma (com exceção do poema futurista Manucure, todos os seus poemas têm forma fixa e versos rimados), a poesia de Sá-Carneiro é revolucionária no conteúdo, ao retomar as antigas tradições do decadentismo do século XIX e transpo-la às angústias existenciais do homem do século XX. Marcados por um lirismo pungente, seus poemas refletem o sentimento de inadequação com o mundo e eterna busca de um Outro Eu perfeito, sentimentos que povoavam a mente do próprio poeta e culminaram em seu suicídio prematuro, no dia 26 de Abril de 1916, em Paris.
Boa parte de seus poemas retrata a figura do "solitário da multidão" na ruas da capital francesa, onde se percebe a influência do simbolismo moderno de Baudelaire. A infância, as frustrações amorosas e as dúvidas existenciais também são características muito presentes em sua obra, da qual Indícios de Ouro representa de longe o ponto de alto de seu talento.
Uma obra imperdível para os amantes da boa poesia.