GIZ 11/07/2010
Abusado
Esse é um livro que merece um comentário por aqui. Sempre tinha ouvido falar muito bem dele, juro que fiquei com preguiça quando comprei porque ele é gigante, mas o li em apenas uma semana. Seria em menos tempo se não tivesse uma vida tão agitada... O livro é a biografia do traficante Marcinho VP, chamado de Juliano VP no livro, conta toda sua trajetória, de como entrou para o mundo do crime, seus sonhos, seus amores e o seu final trágico. O que mais me chamou atenção foi pelo fato dele ter uma consciência social, de querer mudar o que está estabelecido, de dizer que 80% das pessoas que entram na bandidagem não entram porque querem e sim porque precisam, porque é dificil passar fome, ver gente com tanto dinheiro e outros com nada... Ele lia muito, apesar de escrever pessimamente, seu ídolo era o Che. E o livro calhou de vir parar nas minhas mãos num momento de reflexão exato com relação ao trafico, ao mundo das drogas... Outro dia, pensando nos alunos lá da escola, vendo suas vidas, inclusive temos um aluno que está foragido, que trabalhava na boca e pensei nos verdadeiros usuários de drogas, a classe média e alta do nosso país, porque é claro que a classe baixa, por mais que tenham usuários, não vão dar lucros aos traficantes. Fico pensando em quanto a vida de uma pessoa que se droga é vazia. Quando é um pobre você chega a entender, porque o cara não tem nada, ele não tem aquele tênis caro, ele não pode comer decentemente, o lugar onde ele mora não tem nenhum tipo de lazer, ele vive na rua soltando pipa e seu lugar de convivência social é a escola. O que ocasiona vários problemas na escola, que acaba perdendo seu papel que é o de educar intelectualmente seus alunos, pois ele vão apenas buscar amizades lá, nada além disso. Eles não tem parâmetros nem em quem se espelhar dignamente, seus espelhos são os traficantes, os olheiros, os gerentes de boca e nunca ninguém que tenha dado certo na vida com os estudos e seguindo um caminho digno. E eles sabem que essa vida a margem não dura muito tempo, que no crime morre-se muito cedo e que vive-se sempre em perigo. Mas o que importa se o dono do morro tem a mulher que ele quiser, a roupa que ele quiser e o poder nas mãos??? E quem sustenta isso?? A população que tem dinheiro em nosso país. A população que vai à universidade, que vai ter um bom carro, uma boa família, um bom tênis, uma boa alimentação, que vai poder viajar bastante com seus amigos iguais e que só sabem olhar com desdém e desprezo para o garoto pedinte na rua, para o seu vendedor de baseado, sem se dar conta do quão mal está fazendo a sociedade. É a lei da ação e reação. Hoje você compra sua droga e amanhã o mesmo cara que te vendeu vai te assaltar, pois ele precisa sobreviver. Não estou dizendo que o tráfico nem o latrocínio está certo. é claro que não, ninguém tem o direito de tirar nada de ninguém. Mas o que se retira do povo todos os dias é gigantesco, com nossos governantes que desviam nossas verbas, com pessoas que, ao invés de serem felizes procuram uma vida inexistente no mundo das drogas... Para isso temos os analistas hoje... E drogas lícitas que eles nos dão também... Sei que vivemos num mundo vazio de sentido e significado, eu vivo em crises existenciais, é duro você ser você num mundo onde querem que você seja o outro, mas, se eu tenho dinheiro, vou é curtir minha tristeza em Londres, em Paris, vou viajar, conhecer coisas, estudar, trabalhar e não ficar chupando balinha em baladinha.
O livro vale a muito a pena, é uma leitura simples, a gente dá algumas risadas com as histórias contidas ali dentro, até porque são pessoas que estão ali e não personagens e são pessoas como eu, como você. O que mais dói é saber que aquilo não é ficção, que acontece todos os dias, que muitas mães perdem seus filhos por nada. Em nome de alguns minutos de euforia de uma classe abastada.