Reze pelas mulheres roubadas

Reze pelas mulheres roubadas Jennifer Clement




Resenhas - Reze pelas mulheres roubadas


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Janaina 29/07/2021

Uma paulada em cima da outra
Um livro forte, com toques de humor e ironia no início, crueldade ao longo dele todo e um final esperançoso, mas nem tanto assim.
Marry 06/08/2021minha estante
Devorei a primeira parte. Não goste muito da segunda e a terceira indo pelo mesmo e caminho. Queria ver mais as questões da montanha.


Janaina 06/08/2021minha estante
Eu concordo. O último 1/3 do livro foi mais fraco que o início. Uma pena.




Christiane 24/07/2021

O livro da jornalista Jennifer Clement é escrito em forma de ficção para dar conta de mostrar e denunciar o que ocorre no Estado de Guerrero, ao sul do México, dominado pelo narcotráfico.

O relato é poderoso e impactante, mas consegue também mostrar como estas mulheres conseguem viver neste mundo que as rodeia sem vermos um pingo de autocompaixão, mas sim de aceitação de como é suas vidas e do que devem fazer para sobreviver a isto.

As mães rezam para que nasça um menino, mas quando é uma menina elas tratam de divulgar a todos que foi um menino e mantém a criança de cabelos curtos vestidas como meninos. Quando elas crescem é a hora de enfeia-las, cabelos curtos, sujam os dentes para que pareçam podres, jamais pintam as unhas. Um buraco cavado perto de suas casas é onde se escondem ao menor sinal de aproximação de uma SUV com os traficantes que vem roubar as meninas para vender.

Uma vida miserável, sem nenhuma expectativa de futuro, mas ainda assim as quatro garotas da história onde a principal personagem é Ladidy, não em homenagem à princesa, mas como um ato de vingança de sua mãe às traições do marido, conseguem ir a escola (quando tem professor) e são unidas por uma forte amizade. O salão de Rute chama-se "Ilusão", um local não para o embelezamento da mulher, mas sim para a feiura.

A montanha onde vivem já foi uma comunidade, mas hoje, após a construção da estrada que liga a Cidade do México à Acupulco é um local onde vivem poucas mulheres, pois seus homens foram embora para os Estados Unidos, a estrada dividiu a comunidade e muitos morreram. A única coisa que a mãe de Ladidy faz é assistir TV graças a antena parabólica que ganhou do marido que nunca mais voltou, e esta também é a única abertura para o mundo, uma cultura de televisão. O local é cheio de insetos, formigas e também escorpiões, a casa de Ladidy tem dois cômodos e o chão é de terra batida, o calor é insuportável.

Uma das garotas, a mais bonita, Paula, um dia foi roubada. Ela vai conseguir voltar mas nunca mais será a mesma. Ladidy terá a oportunidade de ir trabalhar em Acapulco, o que também não irá melhorar sua vida, pelo contrário, se verá envolvida num crime. Qual a única esperança destas pessoas? ir para os Estados Unidos.

A autora entrevistou por mais de dez anos mulheres nas regiões mais violentas do México. Baseada nisto ela criou este livro em forma de ficção para colocar palavras nisto que é inefável para as protagonistas e com isto fazer mais uma denúncia. Até quando?
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fabi g c 05/09/2017

Você nunca mais vai pensar no México da mesma forma
Esse livro foi um daqueles achados na banca de livros a 10 reais, o título me chamou atenção, li em uma manhã, queria muito conhecer Ladydi e suas amigas. Me surpreendeu muito. Se os escorpiões tiveram piedade da menina, por que eu não teria?
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Ana 30/05/2018

Refletir sobre o que não conhecemos
Reze Pelas Mulheres Roubadas é uma obra ficcional, é uma história que se passa no México, mas poderia ser um documentário das pobres regiões em qualquer lugar do Brasil, onde a ausência do Estado é sentida nas ações mais simples e insignificantes do cotidiano.

Pela visão de Ladydi, uma menina de 11 anos, ficamos conhecendo as dificuldades das mulheres que vivem nesse povoado, com medo de serem roubadas como escravas sexuais para os traficantes da região.
Pouco a pouco vamos conhecendo a rotina dessa menina que vive com sua mãe, uma rotina de medo, de comida escassa, da falta de saneamento básico, da falta da educação básica, da segurança. Tudo isso se reflete em suas personalidades: a mãe entrega-se ao vício do álcool e submete a filha à situações de perigo; a filha busca nos vizinhos e amigos o amparo social que o Estado deixa de oferecer.

Falar dos Direitos Humanos parece distante onde o Estado se ausenta. Como falar do direito ao voto para uma menina que não tem nem mesmo o direito à vaidade ? já que precisa se parecer e se comportar como um menino maltrapilho para não ser roubada como escrava sexual? Como falar do direito à educação quando os professores encontram-se desestimulados a oferecer qualquer tipo de ensino numa região pobre e de difícil acesso?

Não é difícil entender que a massificação do acesso de informações ? como uma televisão com acesso a canais de TV a cabo e canais ditos cultos ? torna ainda mais abstruso acreditar que as pessoas estejam sem acesso a alimentos e sendo regadas com veneno. Que o tráfico de drogas seja a instituição que amedronta e protege, visto com tanto temor como oportunidade para uma vida adulta de acesso ao dinheiro e seus luxos, mas não à educação e cultura.

Reze Pelas Mulheres Roubadas nos faz refletir sobre a realidade dos que têm tão pouco e sentem de forma mais impactante as lacunas do Estado e diante das dificuldades cotidianas sequer conhecem ou reconhecem a falta dos mais básicos dos seus direitos: a dignidade.
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Vanessa Prateano 09/02/2018

Reze pelas mulheres roubadas: Um relato sobre o terror misógino que acomete o México
Uma vida vivida com medo e à espera do pior, em que um buraco cavado na terra é a “estratégia” usada pelas mães para evitar que suas filhas virem escravas sexuais. Essa é a rotina de mulheres que (sobre)vivem numa pequena localidade do estado mexicano de Guerrero, entre as cidades de Chilpancingo e Acapulco, um dos locais mais perigosos para se viver dentro de um país que é mundialmente conhecido por seus feminicídios. A histórica contada em Reze pelas mulheres roubadas pela escritora estadunidense (e de ascendência mexicana) Jennifer Clement foca na vida da pequena Ladydi García Martinez, que é pré-adolescente quando a narrativa se inicia.

Ladydi vive numa montanha onde, ela nos revela, não há homens. Ou estes imigraram para os Estados Unidos ou se afogaram/foram alvejados enquanto cruzavam a fronteira (atravessando desertos ou rios) ou então estão mortos/presos porque se envolveram com o narcotráfico.

As mulheres e meninas que restaram sobrevivem como podem, por meio de trabalhos precários e algum dinheiro enviado pelos homens que estão nos EUA (algo muito raro), e em contante estado de terror. Os narcotraficantes que vivem na região sabem que ali vivem apenas mulheres e suas meninas. De repente, despontam na estrada desértica com seus carros de luxo e armados até os dentes e sequestram as meninas, com o objetivo de vendê-las para outros traficantes como escravas sexuais.

O destino final de muitas das vítimas do tráfico sexual, quando já foram usadas e abusadas incontáveis vezes, é o feminicídio, o ato extremo de um continuum de violência que se apresenta desde o dia em que uma menina vem ao mundo. Como afirma Clement em uma entrevista ao Estadão, tendo como base o que ouviu das próprias mulheres: “Uma mulher pode ser vendida várias vezes por dia e para diferentes donos ,enquanto um saco plástico com droga só é vendido uma vez”.

Para escapar dessa sina, da qual praticamente 99.9% das meninas jamais retornará viva, as mães bolam estratégias como enfiar as filhas em buracos quando os carros se aproximam. Quando elas nascem, anunciam à comunidade que, felizmente, naquela casa nasceu um menino. Pintam os dentes das filhas com canetas pilot e graxa, as impedem de usar vestidos e chegam a quebrar seus dentes para que fiquem feias.

Intersecções entre gênero, etnia e classe
Além da violência machista, as mulheres sofrem também com a pobreza, com a discriminação por serem mexicanas de pele escura e com um clima impiedoso. O lugar é quente e abafado, cheio de iguanas, escorpiões venenosos, formigas gigantes e moscas que se alimentam do sangue e das lágrimas das mulheres. Nas florestas ao redor escondem-se campos de maconha e de papoula (base da cocaína) que são a origem de muitos dos pesadelos do México.

O medo da violência faz com que quase não haja professores e médicos na localidade. Os primeiros só aceitam trabalhar ali como forma de cumprirem logo com as exigências governamentais de trabalho social como requisito para a formação, e o segundos só aparecem de vez em quando para realizar cirurgias, sempre escoltados pelo Exército.

Além da violência dos indivíduos do sexo masculino, a violência institucional, cometida pelo Estado (também monopolizado por homens), também é assombrosa. Embora caiba ao Exército encontrar e destruir as plantações, a corrupção leva a melhor: os helicópteros que deveriam derramar paraquat, um herbicida, sobre os pés de maconha e de papoula têm o hábito de fazer isso sobre a cidade, em cima das casas, das lojas e dos próprios habitantes, sem se importarem com o fato de que o líquido pode causar doenças, defeitos congênitos em bebês e até a morte.

O contraste entre a pobreza da montanha e as mansões de Acapulco também chocam. É nestas casas que muitas das mulheres arranjam emprego — este, inclusive, é o destino tanto Ladydi quanto de sua mãe. Muitas das mansões são de propriedade dos narcotraficantes, que possuem gostos bizarros e nenhum apreço pelo povo que sofre logo ao lado, inclusive dentro de sua própria casa. Os gostos sanguinários de um deles, inclusive, é o que, em parte, levará Ladydi à cadeia e contribuirá para aumentar o peso das acusações contra ela.

Afeto entre mulheres
Apesar de ser um livro extremamente doloroso e angustiante, “Reze pelas meninas roubadas” é também um livro cheio de afeto, de solidariedade feminina, de resiliência e até mesmo marcado por uma veia cômica. A amizade entre Ladydi e suas amigas Paula, Maria e Estefani é um dos aspectos mais belos da narrativa — ainda mais quando Ladydi descobre que sua ligação com Maria é mais profunda do que ela imaginavam.

A luta das mães para que suas filhas não sejam roubadas é emocionante — são mulheres traídas, desprezadas e abandonadas pelos maridos. Um contamina a esposa com o HIV e ainda a acusa de infidelidade, abandonando-a. O outro engravida a vizinha e amiga da esposa e, quando vai embora de vez para os EUA, deixa de mandar dinheiro à primeira família e só ampara a segunda. Um terceiro abandona a família após a filha nascer com uma deficiência.

Não há sentimentalismo nem apelação na denúncia feita por Clement. A mãe de Ladydi, Rita, é um ser humano complexo. É alcoólatra, viciada em documentários históricos da NatGeo, cleptomaníaca e mesquinha em suas relações interpessoais, mas também uma mãe que luta pela filha com unhas e dentes quando entende que sua proteção é essencial e necessária.

Situações vividas entre as mulheres que em outros lugares do mundo seriam vistas como comezinhas e até supérfluas adquirem um tom poético de resistência, como no caso das visitas das mulheres e suas filhas ao salão de beleza “A Ilusão”, de propriedade de Ruth, encontrada no lixo quando bebê.

Dentro do salão, por algumas horas, as mulheres pintam as unhas, escovam o cabelo e colocam maquiagem, para, ao final, retirarem o esmalte e o batom e desmancharem o penteado, já que a vida lá fora é cruel e cabe às mulheres não “provocarem” os homens com sua beleza. Muitas mulheres procuram Ruth não para que ela embeleze as filhas, mas para que as deixe feias, tanto que Ruth afirma que aquele não é um salão de beleza, mas de “feiura”.

Trecho:
A melhor coisa que você pode fazer no México é ser uma menina feia. Meu nome é Ladydi Garcia Martínez e tenho pele morena, olhos castanhos, cabelo castanho e crespo e pareço com todo mundo que conheço. Quando eu era pequena, minha mãe me vestia de menino e me chamava de Menino. Contei a todo mundo que tive um menino, ela disse. Se fosse uma menina, eu seria roubada. Se os traficantes de drogas ficassem sabendo que havia uma menina bonita por perto, eles invadiriam nossas terras em Escalades e a levariam. Na televisão, eu via meninas se enfeitando, penteando os cabelos e fazendo tranças com laços cor-de-rosa ou usando maquiagem, mas isso nunca aconteceu em minha casa. Talvez eu tenha que quebrar os seus dentes, minha mãe dizia. Quando cresci, passei a esfregar um lápis marcador preto ou amarelo nos dentes para que parecessem podres. Não há nada mais nojento do que uma boca suja, mamãe dizia. Foi a mãe de Paula quem teve a ideia de cavar os buracos. Ela morava em frente a nós e tinha uma casinha própria e uma plantação de papaias. Minha mãe dizia que o estado de Guerrero estava se transformando numa coelheira, com meninas se escondendo por toda parte. Assim que alguém ouvia o barulho de um SUV se aproximando, ou via ao longe um, dois ou três pontinhos pretos, todas as meninas corriam para os buracos. (Reze pelas mulheres roubadas, p. 9-10).

Delicadeza no trato da violência sexual
Para compor a história de Ladydi e suas amigas, Clement passou dez anos entrevistando dezenas de mulheres mexicanas vítimas da violência para compor o livro, mistura de ficção com prosa jornalística/documental. A obra, inclusive, foi possível por meio de uma bolsa ganha pela autora, o National Endowment for the Arts (NEA) Fellowship in Fiction, com o apoio do Sistema Nacional de Criadores de Arte (FONCA) do México. É um trabalho árduo do ponto de vista de apuração que, embora trate de um tema dificílimo e doloroso, o faz de forma responsável e delicada.

O tema da violência sexual está presente a todo instante, mas a autora dispensa descrições pormenorizadas de estupros ou de rituais sádicos cometidos pelos traficantes. Sua intenção não é chocar o leitor ou a leitora, afinal, que tipo de empatia poderia resultar do simples choque provocado pelo sensacionalismo?

Todas nós sabemos como é um estupro — a literatura e a mídia, ao longo do tempo, se encarregaram de jogar na nossa cara ou descrever demoradamente diversas cenas a respeito deste crime. O medo constante que sentimos ao andar nas ruas e as notícias policialescas de jornal não nos deixam esquecer o horror desse crime nem por um instante.

Jennifer Clement, por outro lado, não está interessada nisso — na linguagem gráfica, nas descrições que beiram o sadismo de muitos narradores (em geral homens) e na exploração do sofrimento pelo sofrimento. O que ela mostra é como a violência afeta o cotidiano das vítimas e as impede de viver com dignidade, como forma de gerar empatia e engajamento no tema.

A forma pela qual é narrado o que ocorre com Paula — tanto o seu “roubo” quanto o cativeiro em si e como sua vida é suspensa após a violência— mostram toda a delicadeza da escrita de Clement e o respeito pela história de milhares de mulheres mexicanas, vivas ou mortas, cujas vidas foram atravessadas por violências e privações de direitos terríveis.

Em um momento em que, felizmente, falamos cada vez mais sobre a violência sexual e o feminicídio, “Reze pelas mulheres roubadas” é um poderoso instrumento de conscientização e sensibilização a respeito do que ocorre no México — que vem logo atrás do Brasil no infame ranking dos países que mais matam mulheres. Nós estamos em 5.º lugar, e os mexicanos, em 6.º.

Uma vez que lutamos até mesmo para visibilizar e legitimar o termo feminicídio, ter a nosso favor uma Literatura que se importa com o sofrimento das mulheres e sua libertação das garras da violência é algo para se comemorar. Há pouco tempo não era assim. Que ela seja, portanto, um instrumento potente de humanização das mulheres por meio das palavras.



site: http://deliriumnerd.com/2017/11/28/reze-pelas-mulheres-roubadas/
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