Tati Iegoroff (Blog das Tatianices) 22/04/2019Um diálogo educativo entre cachorros"O colóquio dos cachorros" conta uma história através de um diálogo que se dá entre dois cães. E esta, aliás, é a primeira história de cachorros falantes na literatura ocidental.
"O colóquio dos cachorros" é uma das novelas que compõem as “Novelas exemplares”, livro de Miguel de Cervantes publicado pela primeira vez em 1613. Esta história nos mostra o diálogo entre Cipião e Berganza, cachorros que protegem o Hospital da Ressurreição de Valladolid (cidade espanhola situada a noroeste da Península Ibérica). Em uma bela noite, sem explicações, esses cachorros adquirem o dom da fala e combinam que, nesta primeira noite, Berganza narrará sua vida a Cipião e que, na noite seguinte, caso eles ainda possuam o dom da fala, será a vez de Cipião narrar a sua vida.
Berganza, portanto, passa toda a noite falando sobre sua vida, sendo, porém, inúmeras vezes interrompido por Cipião, que faz pontuações e correções, demonstrando ser um cachorro mais sábio e equilibrado.
Por meio da vida de Berganza, vamos passeando pela Espanha do século XVII, conhecendo cidades e hábitos. É por meio de cachorros, portanto, que aprendemos sobre o homem e a ética daquele tempo. E não só: inúmeros comentários também contém questões filosóficas, literárias e científicas.
Berganza teve muitos donos, pois a cada vez que se sentia injustiçado e maltratado, fugia e buscava um dono melhor. Poucos sabemos sobre seu dono atual, mas sempre havia algum momento em que o ser humano perdia sua humanidade e, consequentemente, seu fiel cão (e está aí uma das inúmeras possibilidades de leitura que esse livro nos dá).
O tempo da narrativa é curtíssimo — uma madrugada — as lições, porém, são inúmeras. A leitura é rápida; os aprendizados ficam.
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