Camis 26/09/2018
perigo: não leia esse livro durante uma crise de identidade
Como o título já diz, esse livro é um perigo para quem está tendo crises em geral. No momento, tô na minha crise dos 20 e poucos anos, e vocês?
A questão é que ultimamente tenho me perguntado o que realmente é importante pra mim, se estou seguindo o caminho certo e, mais precisamente, onde quero chegar. Final da faculdade que chama né?
Ler esse livro, mais que qualquer coisa, me acalmou. Ler ele fez com que eu sentisse que estava levando um tapinha compreensível nas costas enquanto alguém me dizia: “se acalma, garota, its not a big deal”.
Bem parecido com alguns ensinamentos do budismo, esse livro conta, por meio da história de Ray, exatamente isso: a vida não é tudo isso que a gente faz parecer ser. Ela não é tão complicada, dramática, difícil. A vida e o mundo são um vazio.
Pensar nisso me acalma, confesso. Me faz lembrar que eu sou uma pessoa nova e to me estressando à toa quando fico remoendo pensamentos negativos sobre o futuro.
Enfim. "Vagabundos Iluminados" te faz pensar.
“[...] Percebi que minha vida era uma vasta página brilhante e vazia e que eu podia fazer qualquer coisa que desejasse.”
A vontade que dá é de fazer que nem o Ray e tacar o foda-se. Me desgrudar da sociedade capitalista e tal. Pegar minhas trouxinhas e sair andando por aí, conhecer melhor a natureza, me conectar melhor com as pessoas. Parar de me importar com o futuro - por que você está na faculdade? Pra no futuro encontrar um bom emprego. Por que encontrar um bom emprego? Pra algum dia ter um bom salário. Por que ter um bom salário? Para ter uma vida luxuosa e comprar coisas. Por que comprar coisas? Porque… Sei lá. Porque fui ensinada a querer fazer isso.
Esse livro te faz refletir sobre isso. Você foi ensinado a desejar essas coisas - o livro não diz que é uma coisa ruim, não te culpa nem nada disso por seguir esse caminho, mas te faz parar pra pensar se o que você quer é o que você quer ou se é o que as pessoas te convenceram a pensar que é o que você quer.
Bom, enfim. Como eu já disse, crise de identidade e tal.
Mas uma conclusão (triste) na qual cheguei lendo o livro é que, bem, além das limitações usuais de levar uma vida de ‘Vagabundo Iluminado’, ser mulher traz ainda mais limitações. Dá licença, essa é minha hora de militar.
Infelizmente não posso sair por aí com uma mochila nas costas e fazer o que bem entender. Eu sou uma mulher, sou considerada um alvo fraco por muita gente. Minha segurança tá em jogo, minha vida tá em jogo, mil vezes mais do que a de Ray durante sua trajetória. Eu lia as coisas que ele fazia e algumas vezes achava incrível mas ao mesmo tempo ficava triste porque eram ações simplesmente fora da realidade para uma mulher. Pedir carona na rua? Nope. Andar sozinha no meio do mato, na estrada? Sem chances. Passar a noite completamente sozinha num acampamento no meio do nada? Só uma louca que quer morrer.
Enfim. Ser mulher as vezes é um porre.
Além disso, só acho importante frisar que o livro é bem machista rs. Tem até uma relativização de estupro numa parte, na página 186 #leia #descubra, mas ele foi escrito na década de 50, então a gente (infelizmente) deixa passar.
Por fim, quero dizer que ameeeeeiiiii a escrita do Jack Kerouac. É de tirar o fôlego (literalmente, não tem muito uso de vírgulas rs). Mas é simplesmente gostosinho de ler. O tipo de livro que eu me imagino lendo deitada numa rede no fim da tarde do domingo para relaxar. O ritmo da narração é ótimo.