Mandy 09/07/2016
O Garoto no Convés
E com uma premissa empolgante e intrigante nossa história começa em meados de Dezembro de 1787, o jovem John Jacob sai para mais um dia de seus delitos, mas mal pode imaginar como sua vida está prestes a mudar, ao tentar roubar um fidalgo francês, John Jacob é descoberto e levado pela polícia ao juiz, como não é a primeira vez que é pego ele recebe a pena de 12 meses trancado no calabouço, mas é salvo pelo mesmo fidalgo que lhe faz uma proposta, servir em um barco por 18 meses em vez de ficar preso, John Jacob mal sabe o que está prestes a fazer, já que vê ali a oportunidade perfeita para fugir do horrível Sr. Lewis e de sua vida miserável em Portsmouth.
John Jacob é um personagem fictício em uma história verídica, nesse livro somos levados até o HMS Bounty, um navio da marinha inglesa cuja missão é viajar até a ilha de Otaheite e colher mudas de fruta-pão para que sejam plantadas nas colônias inglesas, mas a viagem parece longe de ser simples, ao tentar contornar o caminho de Horn os tripulantes enfrentam uma horrível tempestade que os faz dar meia volta e seguir por um caminho secundário até que finalmente chegam ao destino.
"[...]. Eu não olhei para trás nem uma vez, não olhei à minha volta para guardar lembrança das ruas que eu conhecia tão bem, não perdi um segundo olhando para os paralelepípedos em que eu havia passado talvez mais de uma década roubando e furtando, não pensei nem de passagem no estabelecimento no qual tinha sido criado e no qual haviam me roubado a inocência uma centena de ocasiões. Só tinha olhos para o futuro e para as emoções peripécias que me esperavam.
Ah, que garoto ingênuo! Eu não tinha a menor ideia do que me aguardava." pág 52/53
Durante a viagem, o jovem Turnstile, "carinhosamente" apelidado pela equipagem do navio de Tutu enfrenta grandes aventuras e amadurecimentos em sua vida, por nunca ter velejado ele passa por momentos de terríveis enjoos e dificuldade em se acostumar a dormir em uma tarimba perto da cabine do capitão, estar sempre a disposição para arrumar e limpar a cabine do capitão, bem como lavar e passar sua roupa e cuidar de sua alimentação, mas não é apenas isso que o jovem Turnstile aprende, ele tira dessa viagem grandes lições de caráter, amor e esperança. Vindo de um passado triste John Jacob faz de tudo para esquecê-lo e fugir disso, mas com o passar do livro ele começa a mudar, não apenas deixando de ser um garoto de 14 anos para um homem, mas também começa a se afeiçoar aos amigos que fez e a vida no mar.Já na ilha de Otaheite ele descobre pela primeira vez o amor de uma mulher e também a decepção de um coração partido, e de como a alma humana pode ser facilmente corrompida pela ambição.
A narrativa de John Boyne é incrível, e nos conduz numa história intrigante e cheia de detalhes que é quase impossível não entrar de cabeça no livro, é uma história densa e em vários momentos ficamos aflitos com o que pode acontecer com John Jacob, e também ao longo da história vamos descobrindo mais sobre o passado obscuro dele enquanto vivia no estabelecimento do Sr. Lewis, a história do seu passado vai se construindo aos poucos durante sua viagem e experiencias no Bounty; embora não sejam apresentados muitos detalhes desse período da vida de John Jacob é impossível não imaginar tudo o que ele passou apenas por alguns aspectos que ele acaba relembrando ou contanto para o capitão Bligh. Os personagens além de John Jacob são muito bem construidos, o capitão se mostra um homem honesto e de bom coração, o Sr. Fryer também é um homem honesto, embora muito mais racional do que o próprio capitão, o Sr. Christian se mostra uma pessoa sem caráter desde o principio da história, logo de cara não simpatizei com ele assim como John Jacob, e é por ele que todas as reviravoltas do Bounty acontecem de maneira tão inesperada.Como já havia dito a história do Bounty é totalmente verídica, os fatos relatados no livro foram baseados em outros livros e anotações sobre esse acontecimento tão importante na história da marinha.
Um livro emocionante, divertido e cheio de aventuras.
"[...] "Mas eu pensei que tivesse morrido, sir" , contei-lhe, sentindo uma grande tristeza novamente. "Nos últimos dias na barca. Eu sentia a morte chegando. Sentia que a minha vida estava no fim, que não havia futuro para mim."
"Eu pensei a mesma coisa, garoto", disse ele sem se preocupar com o efeito da frase em mim. "De fato, houve um momento, algumas horas antes de chegarmos a terra, em que tive certeza de que você ia morrer e fiquei muito triste, muito triste mesmo. Mas você tem uma força que não sabia que tinha. Você a acumulou, garoto, não percebe? Durante o tempo que passamos juntos. Você virou homem" pág 467
A minha edição é a primeira que saiu pela Companhia das Letras, e é simplesmente linda, a textura da capa lembra muito a do O menino do pijama listrado, a leitura fluiu muito bem mesmo sendo um livro bem grosso, mas a diagramação e a escrita ajudaram muito nessa parte, a editora também lançou uma edição econômica com uma capa diferente, eu achei bem bonita, mas não troco a minha por nada nesse mundo.
"Do mesmo autor de O menino do pijama listrado, O garoto no convés é uma empolgante mistura de romance de formação, aventura marítima e reconstituição histórica. É também o tocante relato das descobertas de um adolescente que parte numa jornada perigosa para fugir de um passado traumático."
site: http://www.pequenosvicios.com.br/2014/08/resenha-o-garoto-no-conves-john-boyne.html