Henri B. Neto 17/01/2015Resenha: FangirlAcho que nunca, em toda a minha vida, eu li um livro que eu amei tanto, e que odiei tanto, quanto "Fangirl", de Rainbow Rowell. Quero dizer, ele é literalmente um 3 estrelas. Não no sentido de "Ok, esta história foi boa mas não espetacular", e sim no sentido de "Cara, eu estou literalmente tão dividido!". Pois é assim que eu me sinto: Dividido. E meio confuso, eu confesso. Eu posso apontar todas as qualidades dele, mas também posso apontar todos os defeitos. Pois acredite, ele tem - e são muitos. Não foi uma leitura rápida, mas eu sei que a narrativa é fluída e gostosa... Enfim, é como yin e yang - em uma mesma história.
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Pelo lado positivo, nós temos a própria Rainbow Rowell. Quero dizer, a forma dela escrever o livro. Pois foi o que mais me conquistou e o que mais deu pontos para "Fangirl". Foi como eu disse logo ali em cima: a narrativa dela é extremamente prazerosa, e a autora sabe ter levar através das páginas sem parecer cansativo. Ou arrastado. E, acreditem em mim, ela sabe bem disto. Tanto que usa e abusa. Até as partes que eu mais temia, como onde somos inseridos na fanfic escrita pela protagonista Cath, não me fizeram revirar os olhos ou pular (e, acreditem em mim, sou capaz de fazer isto).
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Outro ponto que pendeu para a aprovação foram os personagens. Eles são muitos carismáticos, e gostei de acompanhar o dia a dia deles. Quero dizer, é lógico que tem os seus personagens indubitavelmente odiosos (como Wren, a irmã gêmea da protagonista - que eu tive vontade de matar quase que o livro inteiro. Ou a mãe delas... Aonde o buraco é mais embaixo). Mas, em geral, todos são adoráveis, e engraçados e estranhamente fofos. Tudo bem, sei que muita gente vai odiar a Cath - pois ela é aquela típica garota estranha e tímida e antissocial que reclama de tudo, com medo de fazer novos amigos e entrar em lugares novos. Mas é que.. Bem, em geral, eu tenho um grande extinto para proteger este tipo de personagem, pois meio que bate uma identificação. E sempre torço para o lado mais frágil, me desculpem.
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Mas, mesmo tendo estes dois fatores me afogando em um mar de sentimentos, em nenhum momento eles tiveram o poder de me fazer ficar cego para o ponto fraco do livro. E ele é escandaloso, de tão gritante. Tipo... O fato da Rainbow (ou sei lá, o editor dela... Tenho certeza de que isto deve ser o trabalho do editor) ter se apoiado tanto na narrativa fluída, que escreveu um livro de mais de 400 páginas com uma história que seria muito bem contada em um volume com apenas 230 (no máximo, e sendo positivo). Isto para mim foi muito grave, pois mesmo me deliciando com o texto da autora, pelas primeiras 200 páginas, eu não sabia para onde o livro queria me levar. Eram muitas nuances, muitas abordagens... Mas nenhuma direção. Eu acompanhava os dilemas da Cath entrando na Faculdade, mas não sabia o que a autora queria fazer com todas as suas dúvidas e medos e problemas. Isto só foi mudar lá pela metade - e até então eu estava completamente perdido, mergulhado até a cabeça em uma gigantesca introdução.
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Ainda nesta falta de concisão, algumas cenas eram tão curtas e tão sem propósito, que eu me perguntava: Tudo bem, qual é a finalidade dela aqui? Agora, olhando em retrospecto, vejo que foi nenhuma. Mas isto me irritou de verdade durante a leitura. Pois parece que andamos e andamos e simplesmente não estamos caminhando para lugar nenhum. E esta falta de foco, para minha infelicidade, volta no final do romance - pois, depois da trama finalmente dizer para o que veio, e trazer algumas resoluções e deixar algumas pontas soltas (como deveriam), nós continuamos andando a esmo com os personagens, até que a história termina e você fica com a aquela sensação bizarra de que ela partiu do nada e foi para lugar nenhum. O que não é verdade, me deixe ser claro. Mas é um encerramento abrupto, que parece que não foi trabalhado (ou direcionado, volto a insistir) e que faz com que o leitor fique olhando para a capa do livro durante umas meia hora para entender qual foi o propósito de todas as desventuras familiares, curriculares e amorosas da protagonista.
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É por este motivo que "Fangirl" foi o livro mais 3 estrelas que eu já li na minha vida. Como eu disse no começo deste meu desabafo/comentário, eu amei e odiei toda a ideia dele com todas as minhas forças. O livro não me deixou de mal com a autora - muito pelo contrário, quero ler mais coisas dela (como "Anexos" e a fanfic "Vai em frente, Simon", que é tão importante na história e que a autora vai publicar ainda este ano). Mas eu achei que o romance em si poderia ser... Mais. Eu fiquei muito curioso com ele desde a primeira resenha que li sobre ele (e se não me engano, foi no blog "Nem Um Pouco Épico", na época do lançamento internacional dele), mas não acho que ele alcançou todas as minhas expectativas que eu tinha (e que a maioria das pessoas tão zelosamente reforçavam). Sim, ele é fofo, e engraçado e divertido. E levanta alguns pontos importantes. Mas, ao fazer mais do que era preciso, a Rainbow acabou contando menos do que era necessário. Não sei se estou me fazendo entender, mas foi um desserviço para a própria história. Entretanto, mesmo sendo este sorvete de napolitano sentimentalmente complexo para mim, "Fangirl" me mostrou que a Rainbow Rowell é uma autora que vou querer acompanhar. E, por enquanto, isto me basta.
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Henri B. Neto
''Na Minha Estante''
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