Emanuel.Müller 02/06/2023
Não são apenas contos para crianças, mas sim contos também para a todos!
Temos a ilusão de pensar que os contos de fadas não passam de estórias meramente e somente para crianças, mas na verdade, estes mesmos contos são patrimônio cultural de um povo que preservou estas estórias, porque viu nelas sentidos e lições que ultrapassam as gerações e venceram, portanto, a ditadura do tempo. Sendo assim, tratam-se na verdade de Literatura, literatura de um povo (cf. ROCHA, W. I. Deus e o Papa nos Contos de Grimm: Reflexões sobre o Catolicismo no Romantismo. Anagrama, [S. l.], v. 4, n. 3, p. 1-12, 2010. DOI: 10.11606/issn.1982-1689.anagrama.2011.35526. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/anagrama/article/view/35526. Acesso em: 22 maio. 2023. p. 6ss). Literatura esta que foi conservada, guardada e propagada também graças aos Irmãos Grimm, que fizeram uma pesquisa de campo a fim de conhecer as estórias contadas pelo povo. Estórias que muitas vezes, de forma implícita e até explícita, apresenta os seus alicerces da espiritualidade cristã católica (vide o artigo mencionado acima), como bem vemos às claras no último conto deste livro “Os sete corvos”.
Este livro apresenta alguns contos que contêm estórias de animais, através de simbolismo e lições que muito bem nos ensinam o sentido da solidariedade, da caridade, da lealdade e fidelidade, da coragem, da consciência da importância do batismo e etc. Além dos seguintes alertas presentes em alguns textos: do perigo de se confiar em estranhos, porque nem sempre os mesmos são pessoas boas (vide conto “Dois Irmãos”); do mal da arrogância, porque esta pode emburrecer as pessoas, deixando com que elas vejam o essencial (vide conto “A Raposa e o Gato”. Uma pena que a Raposa deste conto não teve aulas profundíssimas com a Raposa do “Pequeno Príncipe” de Saint-Exúpery, pois entenderia com uma bela lição que só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos (cf. SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Príncipe. Com aquarelas do autor. Tradução de Dom Marcos Barbosa. – 50.ed. – Rio de Janeiro: Agir, 2014. p. 70.)); do grave perigo dos pais, mesmo que por impulso, amaldiçoarem os filhos com graves palavras (lição que aprendemos em “Os sete corvos”. Tal aprendizado podemos colher também com os alertas de São Tiago, que serve PARA TODOS, dos perigos terríveis que a língua pode causar (vide em Tg 1-12)); e entre outros alertas e lições.
Conforme foi dito anteriormente, se estes contos estão presentes até hoje para nós, é porque venceram a ditadura do tempo, o que os torna clássicos. Agora reflitamos que eles, de certa forma, já o eram quando os Irmãos Grimm os coletaram, porque ainda era preservado no imaginário popular e propagado com o passar das gerações. Por acaso se passaria alguma estória que não faça sentido ou que não se tenha um aprendizado a se colher? Se eles mantiveram e seguiram a propagar estas estórias, é porque elas tinham um sentido ainda mais profundo do que ser apenas contos para crianças, pois estes eram também contados de adultos para adultos, a fim de haver esta interação social (vide também a explicação da tradutora em MACHADO, Ana Maria. apud. GRIMM, 2002, p. 6).
Recomendo a todos a leitura destes contos, que apesar de serem simples, contém profundas lições e reflexões que podem colher para a vida.