Luiz Pereira Júnior 01/06/2024
A vida real...
Um murro no peito, no melhor sentido que se possa conceber: essa foi a minha primeira (e acredito que duradoura) impressão ao ler “Quem tem medo de Virginia Woolf”, de Edward Albee, uma das mais importantes peças teatrais do século XX.
Um casal de meia-idade de classe média alta (Martha e George) recebe, após um jantar na casa do pai dela, um jovem casal (Nick e Honey) para prosseguir a noitada - ou a bebedeira, se preferir. Segue-se, em três atos, um inacreditável conflito entre o casal anfitrião, em que a Martha ofende, humilha, oprime com as piores palavras, com sentimentos monstruosos o marido, que mal parece reagir. O jovem casal, chocado a princípio, começa a fazer parte do jogo, deixando-se levar pelas atrocidades ditas pela esposa e pelo marido que começa a reagir usando das mesmas armas da mulher. Em certo ponto, Martha insinua-se para Nick, sob às vistas de George, que aceita e estimula a esposa para que ela transe com o jovem bonitão. Martha e Nick transam e... sem mais spoiler.
Enfim, sem muitas delongas, não espere um único sorriso durante a leitura, não espere gracinhas ou ditos espirituosos, não espere nada a não ser uma profunda e avassaladora inquietação durante todo o tempo em que estiver imerso nesse pesadelo em que se entra por vontade própria.
(E não é à toa que Elizabeth Taylor, conhecida pela quase sobrenatural beleza, ganhou o Oscar pela interpretação dessa mulher que chega a nos incutir medo de que exista – e, sim, ela talvez exista bem mais perto do que você imagina. E, o melhor, no filme quem faz o papel de seu marido é Richard Burton, o seu marido na vida real).
E se, ao lermos o texto, parece que entramos em um pesadelo criado por nossos próprios monstros, imagine-se sentado em uma poltrona de teatro, assistindo a esse terror psicológico, mas que pode acontecer a qualquer um de nós.
E será que existe algo pior do que um pesadelo criado por um autor? Sim, existe e se chama a vida real...