@aprendilendo_ 08/09/2020
Resenha de Um Conto de Natal
Apesar de ter como essência o nascimento de Jesus Cristo, o natal, talvez o mais famoso dia comemorativo ao lado do ano novo, surgiu de uma cultura pagã a qual foi absorvida pelo cotidiano romano no século IV (antes, 25 de dezembro era destinado à comemoração do “nascimento do sol invencível”, em homenagem ao deus Mitra, da Pérsia). Por conta disso, nos séculos XV e XVI, tal data passou a ser vista com maus olhos pelos puritanos (religião protestante crescente na Inglaterra àquela época) os quais tentavam cada vez mais abdicar de todos os laços não cristãos. Como consequência, em adição a diversos outros entraves, a comemoração e seus significados passou a cair em relação à estima da população britânica, pelo menos até uma obra, de forma impressionante, iluminar o coração das pessoas sobre o significado do dia 25, estamos falando de Um Conto de Natal, escrito por Charles Dickens.
Sobre a história: acompanhamos, em terceira pessoa, a narrativa sobre o carrancudo empresário, Ebenezer Scrooge, homem solitário o qual tem em sua feição um inconfundível rancor de todos à sua volta, inclusive de seu sobrinho, Fred e seu humilde funcionário, Bob. Tudo muda, no entanto, quando o velho endinheirado é visitado pelo seu já falecido sócio, Marley, agora um fantasma o qual percorre o mundo acorrentado por tudo o que deixou de fazer em vida. Após o encontro, o protagonista descobre ser visitado por mais três fantasmas os quais o ajudarão a compreender a arte de viver e aquilo o qual Scrooge tem negligenciado por tanto tempo, a bondade.
Dito isso, o conto corre a passos largos com uma narrativa surpreendentemente agradável e instigante de tal forma a não conseguirmos deixa-lo tão cedo quando o começamos. Essas características são realçadas pela capacidade de descrição singular de Dickens e suas exuberantes e divertidas descrições de cada rua, casa e personagem, com analogias muitas vezes cômicas e peculiares. Aliado a esse fato, temos aqui o uso do sobrenatural servindo como uma bela proposta. Apesar de em nenhum momento o livro tornar-se excessivamente duro ou macabro, as criaturas e os momentos de tristeza têm o certo ponto de toque mágico e inquietante o qual nos surpreende tanto quanto cativa e reforça a noção de fantástico a qual apodera-se de Ebenezer de um dia para o outro.
Em congruência com isso, a maior beleza da obra encontra-se na empatia, com uma capacidade singular de fazer até mesmo os apáticos expressarem um largo sorriso no rosto ou deixarem escapar uma lágrima. Através de diálogos vívidos e cenas doces, o autor gera uma imensa gama de sentimentos positivos no decorrer de cada página enquanto nos ensina um pouco sobre a generosidade e familiariza cada indivíduo ao leitor. Essas lições, de certa forma, são sutis e desenvolvem-se não de maneira antinatural ou sem nexo, mas com os próprios aprendizados e mudanças do protagonista.
Primeiramente publicado em 1843, Um Conto de Natal pode ser considerado um dos grandes marcos da cultura natalina dos últimos séculos. Repleto de momentos divertidos e emocionantes, o livro inspira, do início ao fim, uma vontade irrefreável de viver a vida como se todo dia fosse o natal. Excelente leitura.
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