A Carteira de Meu Tio

A Carteira de Meu Tio Joaquim Manuel de Macedo




Resenhas - A Carteira de Meu Tio


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Lipe 26/12/2010

 Eu não dava nada para este livro. Achei que seria mais uma obra pouco conhecida, exaustiva e de cunho filosófico que os vestibulares costumam cobrar.
A Carteira de Meu Tio me surpreendeu de tal modo que o li nas duas vezes que o abri. 
O autor, Joaquim Manuel de Macedo, nos conta a história de aprendizagem de um rapaz, sobrinho de um tio rico e o qual o influencia a vagar Brasil a dentro para sua formação como cidadão por um prisma político-constitucional.
Por meio de situações simples e cotidianas o "sobrinho" aprende que a tal magnifica Constituição imposta por D. Pedro I em 1824 não é tão magnifica quando posta em prática.
Com o auxilio do pobre porém sábio compadre Paciência o jovem fidalgo preenche a carteira de seu tio, uma espécie de diario de bordo com reflexões profundas, muitas vezes de cunho filosófico sobre desavenças entre as diversas classes sociais e as injustiças vividas pelos menos favorecidos.
Em conclusão, o antes superficiall sobrinho aprende que antes do progresso material é preciso o progresso moral para que se tenha uma sociedade estruturada e plenamente fundada nos princípios de um constituição que pode sim ser magnifica.
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jota 10/10/2017

Todas as nossas eternas mazelas...
Mais conhecido como o autor de A Moreninha (1844), Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882) coloca em cena em A Carteira de Meu Tio (1855), o sobrinho desse tio (o nome próprio dele nunca é mencionado), que, com o consentimento dele (e certa quantia em dinheiro), sai em viagem para conhecer o país e anotar tudo o que observa numa caderneta, a tal carteira do título. Outra coisa que o sobrinho deve levar consigo é a Constituição do Império, chamada pelo tio de "a defunta", sobre a qual ele lamenta: "Pobre mártir! Não a deixaram nunca fazer o bem que pode: apunhalaram-na, apunhalam-na ainda hoje todos os dias, e entretanto cobrem-se com o seu nome e fingem amá-la os mesmos sacrílegos que a desrespeitam, que a ferem, que a pisam aos pés." A semelhança com a situação atual do Brasil não é mera coincidência...

Essa viagem do sobrinho pelo país tem um motivo. Depois de estudar na Europa (passear e vagabundear, na verdade), ele comunica ao tio que pretende entrar na política. O velho concorda como o desejo do rapaz, mas observa: "tens as duas principais qualidades que são indispensáveis ao homem que quer subir [na vida]: és impostor e atrevido." A partir daí e até o final do livro, quer dizer, da viagem do sobrinho pelo país, o que temos é uma grandiosa sátira política, que permanece atual como nunca. Não tem como não pensar em certas figuras carimbadas da vida nacional durante toda a leitura: Sarney, Maluf, Lula, Dilma, Temer, Jucá, Renan, Cunha, José Dirceu, Gilmar Mendes, Lewandowski, Aécio, Sérgio Cabral etc.

Moral e politicamente o Brasil mudou muito pouco desde os tempos do Império até nossos dias e Macedo, se estivesse vivo hoje, ficaria espantado em ver que o progresso material da nação brasileira não teve a mesma evolução no campo dos costumes e da política. São tantas coisas imorais em comum - cambalachos, trapaças, roubalheira, péssimos serviços públicos, corrupção, impunidade, nepotismo, desvios de conduta etc. - presentes desde o Império até agora, que parece que os homens públicos brasileiros de qualquer tempo têm a mesma origem: num lamaçal igual àquele em que o cavalo do sobrinho fica atolado logo no início da viagem...

Com apenas três personagens importantes (o sobrinho, seu companheiro de viagem, Paciência e o dono de uma estalagem, Constante) e sem uma grande história - o livro não tem drama, romance, suspense, aventura ou coisa parecida -, mas tem de sobra crítica social, filosofia e reflexões diversas. Sobre a mentira, por exemplo, o sobrinho diz: "A mentira é um vasto e longo capote que serve para esconder a preguiça, o erro e toda a qualidade de traficância." Diz ainda que ela "(...) se esconde por detrás dos reposteiros de todas as secretarias de Estado, dentro da manga do frade, (...) nos postiços da moça casquilha, (...) nas declarações dos candidatos às deputações, nos títulos de nobreza, (...) no epitáfio dos mortos." Nada do que é grotesco e ridículo na vida do país escapa ao olhar do sobrinho.

Apesar do humor ácido e da fina ironia que percorrem praticamente todas as páginas do livro, além de outras qualidades, A Carteira de Meu Tio não é lá assim uma obra tão agradável de se ler quanto deve ser aquela outra, mais idealizada, A Moreninha (que não li ainda). Mesmo que se ria um tanto durante a leitura ou que ela nos leve à reflexão e comparação inúmeras vezes, parece que o modo como o livro foi concebido, praticamente um longo discurso (e mesmo um inventário) sobre nossas eternas mazelas, acabe causando certa canseira no leitor. O que, logicamente, não retira sua importância dentro da história das letras brasileiras frente a outros escritos da mesma época. Pelo contrário, estabelece profundas relações entre literatura e sociedade.

Minha avaliação: 4,5.

Lido entre 06 e 10/09/2017.
Marta Skoober 10/10/2017minha estante
Rendeu uma bela resenha... Sempre me pergunto porque nunca entrou nas benditas listas de livros obrgatórios.... ???


jota 10/10/2017minha estante
Pois é, mas acho que os estudantes não iriam apreciar tanto assim: são apenas quatro capítulos enormes, com longas observações do sobrinho, leitura que me cansou um tanto...


Marta Skoober 11/10/2017minha estante
De todo modo creio que até Harry Potter seria visto com olhos atravessados caso entrasse para a lista da obrigatoriedade.

Concordo que tem uns trechos bem pouco palatáveis, mas no conjunto me agradou bastante e achei bem divertido.


jota 11/10/2017minha estante
Verdade!


Thiago 20/11/2017minha estante
Jair meu caro, você sabe dizer se existe alguma correlação com a obra,"as memórias do sobrinho do meu tio", ou se o Macedo só usou um título parecido?


Eduardo 08/08/2020minha estante
Foi listado no antigo Vestibular da UFMG em 2009 ou 2010... muito atual!!Sobre a pergunta do Thiago, na verdade esta é a primeira parte... as "Memórias" são a continuação... até mencionada pelo personagem nos parágrafos finais... como sendo novos episódios da viagem que continua após a perda da principal característica do personagem Paciência!!! Para um autor "romântico" é uma bela análise crítica do nosso país daquela época... e infelizmente de hoje... 2020.




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Fernando Lima 03/06/2021

Mais uma obra crítica de Joaquim Manuel de Macedo
Repleto de críticas sociais, o licro traz à tona discussões bem atuais sobre sociedade e política. Um bom livro pra refletir sobre a estrutura da nossa sociedade através da história
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Thiago 19/10/2013

Excelente!
A obra é realmente surpreendente. Joaquim Manuel de Macedo utiliza do enredo - uma pessoa que quer alcançar sucesso em sua futura carreira política segue as instruções do tio e faz uma viagem pelo Brasil - de forma que as críticas ao sistema do tempo, ácidas e divertidas, permeiam todo o livro. Ri durante a leitura inteira diante da genialidade desse autor! A carteira de meu tio é, basicamente, uma sátira política... e muito bem escrita.
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Irla 27/01/2023

Joaquim Manuel de Macedo, além de médico e escritor, foi também envolvido com política, e esse é o livro em que o político deu asas a todas as suas críticas sobre a realidade brasileira. Não é um enredo muito elaborado (na verdade quase nada acontece), e tudo o que de fato acontece tem como objetivo desenvolver uma crítica ácida sobre a elite política do país.

Mas para mim, enquanto estudante de letras com o objetivo de ler o máximo de livros possíveis da literatura brasileira, a parte mais interessante foi a ausência de nomes. O objetivo disso é claro, sem nomes próprios, qualquer um pode se identificar com o protagonista. Na verdade, o protagonista nem mesmo importa, então para quê ser nomeado? Todos os outros personagens são nomeados por características importantes, os tipos que representam.

Como o Sr. Constante, o estalajadeiro que sempre apoia quem esteja no poder (seja quem for), e o Compadre Paciência, que representa a tentativa de se manter honrado, com os valores políticos que “não fazem sucesso” na época: ter como objetivo o desenvolvimento moral do povo e o bem estar de todos.

A importância dos nomes é uma das características da literatura que mais me chamam a atenção!

Sobre a experiência: não é uma leitura leve, e não vai agradar quem quer ler por prazer. Se você gosta muito de política ou história, é interessante e recomendo a leitura, mas leia com paciência.

site: https://www.instagram.com/umamitocritica/
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