fellipe! 06/05/2012
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Como o autor parece exaltar, parece que a aceitação da fotografia como meio artístico é mais difícil do que a indiferença que a mesma poderia ter da arte por causa das mudanças que provoca nela: o fato é que, com esses novos meios de reprodução, que se permitem atingir um tanto maior de público, a arte parecia estar passando por uma passagem e, embora fosse algo deveras revolucionário, a novidade acabou por criar um impasse com conceitos tradicionais e, até então, inabaláveis. Em palavras do próprio autor: “ Nem a matéria, nem o espaço, nem o tempo, ainda são [...] o que eles sempre foram”. O que acontece é que essa evolução que se passa, acaba por mudar tanto os modos de reprodução, como o de se enxergar a arte, fazendo com que nossas noções tradicionais acabem por serem abaladas.
Desde sempre, as obras foram reprodutíveis, artistas antigos reproduziam obras de seus mestres, e até havia os falsários que as copiavam para extrair certo proveito... Já as técnicas de reprodução são um fenômeno mais recente, tendo uma evolução até veloz, só que intercalada por alguns momentos de pouca espera: Os gregos já utilizavam técnicas como fundição ou cunhagem, reproduziam moedas, por exemplo. Teve o advento da xilogravura e mais posteriormente a litogravura, que se mostrou um enorme progresso devido à fidelidade na impressão. Foi a partir dessa técnica que os artistas puderam se entregar ao comércio das reproduções em série; só que, passado algumas dezenas de anos, a fiel técnica “parceira da imprensa” acaba por ser substituída por uma outra técnica mais eficaz na captação: a fotografia. Com o advento desta a mão encontrou-se demitida de tal fardo, já que foi substituída pelo olho fixo sobre a objetiva. Não quero dizer, no caso, que a fotografia é superior que a pintura como forma de reproduzir a realidade, não estou querendo sugerir isso. Só estou afirmando que a primeira é mais eficaz em captar eventos momentâneos, o que vem bem a calhar em imagens que queiram ter um caráter social, informativo às massas.
Outro fato a se questionar é a respeito do valor de uma reprodução, tanto manual como técnica. A primeira terá caráter de falsificação, a segunda tem como vantagem – em certos casos- ressaltar aspectos da imagem que escapam o olho ou ainda observar a obra de ângulos a qual não poderíamos, graças a métodos como ampliação ou desaceleração, ignoradas pela visão natural. Porém, há algo de místico numa obra original que se perde em sua reprodução: a aura. Essa noção de “aqui e agora” da obra de arte se perde na reprodução, foge-se de sua autenticidade, que comumente está ligada à sua própria história. Vou aproveitar para transcrever o conceito de aura por parte do próprio autor, muito eficaz por sinal: “ Poder-se-ia defini-la como a única aparição de uma realidade longínqua, por mais próximo que esteja.”
Dá para perceber que a sociedade atual quer tudo próximo, mesmo que para isso tenham que ignorar fatos através da própria reprodutibilidade: tais quais as relações de culto da obra. Há de se lembrar que as primeiras obras de artes surgiram por base de um ritual- e isso fica mais que claro vendo as cavernas de Lascaux, por exemplo – nasceram por base de uma espécie de culto e adoração a ídolos. Era de se perceber que tais obras nunca se distanciavam de um caráter religioso, esses elementos teológicos eram parte essencial para a criação e apreciação; já a arte do modo que se encontra, com esses novos meios de reprodução, acabam por emancipar-se de sua existência feita para rituais, e acaba por adquirir um caráter social nisso tudo.
O autor, em seguida, cria duas definições que resumem a arte atualmente: a arte de culto e de exposição. Um bom exemplo para exprimir os conceitos dessas definições seria no que diz respeito à crise da arte, com base na antagonia da pintura com a fotografia. Na primeira, o autor tinha uma visão autoral grande e apresentava sua obra para um determinado grupo, quase restrito, criando algo próprio e seguido por cultuadores; já o segundo cria com a idéia de um vasto público- e isso também vale para o cinema- o que convém pensar de um modo mais expositivo, já que com o alargamento do público atual, até pintores acabam por mudar sua concepção, acabando por criar algo que envolvam ingênua exposição e deveras distração. A perca do hic et nunc* por parte do cinema se dá pelo fato da performance ser absorvida por um mecanismo e não pelo público, fazendo com que o autor defina o ator cinematográfico como uma espécie de “artista exilado”, excluindo, assim, sua aura. Essa transmutação de valores é o que marca essa mudança quase definitiva das noções artísticas. Se nem a vida comum é indissociável aos conceitos tecnológicos atuais, como a arte poderia? Perdeu-se aquela noção de entidade física única, já que podemos acessar uma cópia fiel sua a qualquer momento pelos atuais métodos de comunicação em massa.
No final de toda essa reflexão que nos atentamos sobre o que realmente melhorou ou piorou nessa evolução a qual a arte passou, Walter Benjamin tenta elucidar a questão com perspectivas muito coerentes, e há de enxergá-lo em seu contexto histórico também, já que a sociedade estava passando por mudanças não só artísticas, mas de transformações também políticas e econômicas. Mostrando a arte em meio a transformações visionárias por parte de Marx, a respeito de um capitalismo ainda embrionário e onde, refugiado em Paris, o mesmo vivia a repressão causada pela perseguição do regime nazista; o autor, assim, se mostrou à altura das necessidades intelectuais de sua época, registrando um ensaio lúcido e esclarecedor.