Memórias de uma Leitora 01/07/2016
O que te faz pular?
Já estava há um tempo querendo ler esse livro só no início desse ano que finalmente tirei ele da minha lista de desejados e comprei. E pra isso quebrei a minha promessa de não comprar livros antes de terminar os que tenho. Um pequeno deslize hihi. Quem nunca?
Naoki teve seu primeiro livro publicado quando ainda estava no ensino fundamental, mas o que diferencia ele de outros jovens escritores é que ele sofre de autismo severo, uma doença que torna para ele e as pessoas que o tem a comunicação verbal uma barreira quase intransponível.
Por fora Naoki parece com uma criança "normal" como ele costuma ouvir das pessoas de fora, tudo para diferenciar ele e sua condição das outras não autistas. A doença faz com que na maioria das vezes ele não seja compreendido da forma correta, especialmente quando ele sofre de ataques incontroláveis como movimentar-se freneticamente, sair correndo de um local sem motivo aparente ou até mesmo a repetição de tarefas e frases que não fazem sentido para quem o ouve.
O livro escrito por ele ao meu ver não busca trazer a explicação da doença -até por que muitos médicos ainda não a tem- mas ele vem tão singelamente e de um jeito delicado explicar a sua condição e esclarecer alguns por quês que muitas pessoas que convivem com autistas começaram a se fazer. O que me faz pular é feito de diversas dessas perguntas que são respondidas por Naoki que são tão claras quanto nenhum livro médico e descritivo poderia ser ao tentar falar sobre o autismo.
Já convivi com uma pessoa autista de perto e quando li o livro, vi que eles infelizmente por falta de conhecimento são incompreendidos. Sempre quis saber o por que geralmente os autistas ficavam tão isolados e calados, andavam de cabeça baixa e tinham certos mantras particulares a seguir. Não queria desvendar suas mentes, apenas interagir. E o autor trouxe luz a essas e tantas outras perguntas.
"Veja bem, para nós o autismo é normal, então não temos como saber o que os outros chamam de "normal". Porém a partir do momento em que aprendemos a nos amar, não sei bem se faz diferença termos autismo ou não."
Emocionante. A cada relato um pedido de desculpas dizendo que nunca quis causar transtorno ou sofrimento para as pessoas a sua volta, toda vez que cometia um deslize mesmo sem saber. E por vezes um apelo pedindo para que as pessoas compreendam a condição dos autistas e que o tratem de maneira carinhosa mesmo quando não entendem as suas motivações. Uma pessoas como Naoki não pode ser vista como apática, tem amor em suas palavras ao mostrar tão simplesmente as lutas diárias e constantes que impõe barreiras grandes como muralhas para crianças como ele. Como dificuldade de achar as palavras certas para se expressar; para ele é um exercício que para nós seria como ter a perspicácia de achar uma bolinha preta em meio a centenas coloridas, tornando assim a comunicação inviável e quase impossível. Ou ter que correr sem uma motivação aparente pois seu corpo o "obriga" a faze-lo e em momentos como esse a sua mente não controla seus movimentos.
"Mas, por favor, façam o que fizerem, não desistam de nós. Precisamos de sua ajuda."
Um talento que para mim veio de um lugar inesperado depois de conhecer suas dificuldades. Mas em momento nenhum o jovem autor demonstra um pedido de pena e sim compaixão de quem lê o seu livro. Criativo e que me surpreendeu com o seu conto no final intitulado Estou Bem Aqui, que finaliza mostrando que através das palavras ele se mostrou (ou melhor deixou ser mostrado)um ser humano tão inspirador que muitos de nós -colocados na caixinha dos "normais"- deveríamos ser. Assim como Naoki. O que me fez pensar: o que me motiva? O QUE ME FAZ PULAR.
site: http://memoriasdeumaleitoraa.blogspot.com.br/