Gabi 20/09/2015A procura de respostas.(Apenas para não restarem dúvidas, esse livro contém spoilers DIRETOS sobre o que acontece no livro. NÃO LEIA a resenha a menos que já tenha finalizado os livros. Você foi avisado!)
Primeiramente precisa ficar claro que começar um livro totalmente out of the blue não é muito minha praia. Eu gosto de ler pelo menos a sinopse, saber o que alguém que tem o mesmo gosto que o meu pensou sobre esse determinado livro que eu estou pensando em ler. Não é à toa que, como a maioria de nós, depois que eu conheci o skoob, o goodreads, os blogs e o booktube, é deles que saem a maior parte das indicações de livros que eu acabei por ler nos últimos, sei lá, dois anos.
Com Looking for Alaska não foi diferente. É claro que depois de ler ACEDE e me apaixonar pelas características do que nos traz John Green em seu romance mais badalado, até que demorou para que eu fosse em frente e lesse algo mais antigo do autor. Acho que estava esperando pelo "momento certo". Agora eu já aprendi que toda hora é hora certa para ser ler John Green, obrigada, de nada.
Em Looking for Alaska nós somos introduzidos a Miles Halter, um garoto que, buscando uma saída da sua vidinha pacata no suburbio da Flórida, decide por conta própria se mudar para estudar e viver em Culver Creek para procurar o que o poeta François Rabelais chamou de "O Grande Talvez". E ele o encontra. Seu Grande Talvez vem em forma de garota e atende pelo nome Alaska Young. Com Alaska e seu grupo de amigos, Miles começa a entender que a teoria de outro autor, Gabriel Garcia Marquez, tem um fundinho de verdade.
A tensão e antecipação criada pela divisão do livro entre um antes e um depois, e a contagem regressiva que são os capítulos foi bastante palpável. Algo muito grande precisa acontecer para que alguém passe a ver sua vida em dois grandes momentos. E a gente sabe qual é o maior divisor de águas da história. Então ao mesmo tempo que eu não queria largar o livro nem para comer (!!!!), as chances e teorias do que aconteceria a seguir me sufocavam.
Looking for Alaska é a busca de um adolescente pelo seu Grande Talvez, pela sua aventura, pelos seus momentos de glória, onde sua vida seria mais do que o bom e velho ordinário. É a história de um garoto que acredita ter encontrado o que procura mas comete o erro de enxergar isso em algo tão mortal. Uma garota. Mas nós chegaremos lá.
A relação do Miles com biografias e last words e toda a simbologia e metáforas que circula esse fato foi bastante interessante. A exploração da idealidade da morte e daquele que morre. De que o que se é dito e pensado em seus últimos momentos de vida é a forma mais simples de resumir a personalidade daquela pessoa. É possível ver claramente quanto o Pudge acredita nessa ideia quando em sua "missão" de entender a Alaska, entender o que ela escondia atrás da garota agitada, engraçada e inteligente, Miles sempre acabava se perguntando sobre o que ela teria pensado antes de sua morte e se ela teria dito algo que agora certamente ninguém nunca saberia.
Honestamente, o pensamento ainda me faz questionar um pouco se é uma teoria inteligente. O que eu sei é que esse é só um dos várias exemplos de falsa idealização que o Green acrescenta na história. Mais um exemplo da idealização de um ser mascarado e do valor que as pessoas tendem a dar ao que na maioria das vezes não passada de uma fachada. E, principalmente, os contrastes entre o que nós vemos versus o que nós somos. Miles passa cento e trinta e seis dias tentando medir quão obscuro era aquele lado fechado de Alaska que raramente aparecia, mas que ainda assim a dividia em duas pessoas que mais pareciam duas polaridades.
Miles como personagem pode ser ainda mais confuso. A forma que o Pudge narra o "antes" e mesmo a divisão dos capítulos indica que o Miles que narra já não é mais o Miles que viveu - destaque ao tempo em que o verbo foi conjugado - aquele momento. E enquanto eu não tinha nenhum problema com o narrador (na verdade a narração é um dos pontos positivos desse livro), a falta de personalidade e inexpressividade, unidos à um personagem que idolatra e fecha os olhos para as inconsistências de seus "ídolos", tornaram difícil para mim criar um vínculo com o Pudge que vivia seus primeiros dias no internato. O que se sabe é que Pudge é a ânsia adolescente de querer fazer e ser mais do que eles são.
Em contrapartida temos Chip "The Colonel" Martim, um personagem de tanta personalidade que chega a ser desnorteante. Durante a minha leitura me preocupou muito que por ser um personagem intrigante logo de cara, Chip fosse ter uma participação linear na história. Logo, nós descobrimos que o que o Colonel tem de engraçado, ele tem de sombrio.
Já sobre a Alaska... Que personagem fascinante. Já pelo título nós sabemos que tudo que envolve a garota vai ter algum fundamento na história. É uma análise sobre sua personalidade (ou a falta ou excesso dela).
É quase irônico que o livro gire em torno de uma garota que, pelo menos metade dele só está lá pela força da sua personalidade e memória. Alaska, como disse o próprio Miles, é uma força da natureza e, assim como em vida, mobiliza pessoas que não necessariamente tivessem simpatia pela garota.
Esse é outro ponto importante na história do John Green. Como a ideia do cessar de uma existência causa impactos mesmo em pessoas que não são próximas a "vitima". Mais do que isso, principalmente na forma como Miles e Chip lidam com a ausência da Alaska quando chegamos no "depois", somos confrontados com o fato de que todo processo de luto é experienciado de forma muito particular, que cada pessoa se agarra às crenças e imagens que mais o conforta, e que todo esse processo é muito mais sobre a pessoa que ficou aprendendo a readaptar sua rotina sem aquela que se foi, do que o sobre questionamentos sobre para onde aquela pessoa foi, etc., etc.
Entendo porque as pessoas possam não gostar desse livro, mas não posso deixar de me perguntar se ele foi um livro lido no momento certo, com as intenções certas. Muitos podem considerar John Green pretensioso, uma vez que as denotações que ele faz em sua narrativa não são poucas e/ou se você se atenta para elas. Acho que o cara soube, desde o inicio, muito bem o tipo de mensagem e o tipo de história que ele queria construir e passar. Vejo sim um padrão dentro dos livros dele. Contudo, o que vejo vai além dos personagens principais nerds e quirkies, das características românticas do amor inalcançável.
Vejo um autor que leva muito a sério seus personagens, que não tenta mascarar a intensidade dos sentimentos deles, não importa quão frustrante ou irritante ou inocente eles possam soar. Vejo um autor que compreende seu público alvo e que dá voz a eles.
E John Green continua sendo meu autor favorito.
Amém.
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http://lavemagabriela.blogspot.com.br/2015/09/looking-for-alaska-do-john-green.html