spoiler visualizarSara 03/07/2018
SINOPSE:
Sherlock Holmes é o detetive mais amado de toda a literatura policial. Este volume de suas façanhas se inicia com seu retorno triunfante após a suposta morte nas mãos do Professor Moriarty! Temos aqui os 13 contos que compõem "A volta de Sherlock Holmes", na sequência em que foram originalmente publicados na Strand Magazine entre 1903 e 1904:
1) A CASA VAZIA
"A casa vazia" talvez tenha sido a história saudada com mais entusiasmo de todo o Cânone. Quando foi publicada na edição de outubro de 1903 da Strand Magazine, dez anos depois que o público foi informado da morte de Holmes (em "O problema final"), a revista não disfarçou o conteúdo do número: letras graúdas no alto da capa trombeteavam "Sherlock Holmes", com o título do conto em letras menores embaixo, e a primeira página proclamava "A volta de Sherlock Holmes" em letras grandes acima do título. Em setembro de 1903, a Strand havia anunciado: "Felizmente, descobriu-se que a notícia da morte [de Holmes], embora baseada em provas circunstanciais que na época pareceram conclusivas, foi errônea." Enquanto muitos leem "A casa vazia" atraídos pela cena extremamente dramática do reencontro de Holmes e Watson, a história suscita também questões para os estudiosos: o assassinato de Ronald Adair, tal como descrito, parece imposível, a menos que Moran estivesse em cima de um ônibus que passava. Outro enigma é como Moran escapou da forca por seu crime. Por fim, a descrição da "casa vazia" do outro lado da rua forneceu pistas para a "verdadeira" localização de Baker Street, nº 221.
2) O CONSTRUTOR DE NORWOOD
Com a publicação de "A casa vazia" e Holmes aposentado (embora o público não soubesse disto), Watson ficou livre para finalmente fazer uso de todos os seus registros da carreira do detetive e escolher suas histórias. Seu primeiro esforço pós-retorno foi "O construtor de Norwood". O caso é o primeiro do Cânone em que impressões digitais aparecem como a pista decisiva, e Holmes estava sem dúvida à frente de seus colegas policiais e dos tribunais ao reconhecer o significado delas. Estudiosos suscitam também questões sobre o estranho testamento feito pelo cliente de Holmes e sugerem a incompetência do rapaz como advogado.
3) OS DANÇARINOS
Contratado por Hilton Cubitt para descobrir o passado secreto de sua mulher, Sherlock Holmes precisa decifrar a mensagem dos "dançarinos". Alguns classificariam este caso entre os poucos fracassos de Holmes, porque ele é incapaz de impedir a tragédia; no entanto, leva o criminoso à Justiça. Embora americanos figurem em numerosos casos, Watson só havia escrito duas vezes antes sobre um criminoso americano (em "Um estudo em vermelho" e "As cinco sementes de laranja"). O caso, com sua menção ao amigo de Holmes Wilson Hargreave, do Departamento de Polícia de Nova York, sugere que o próprio detetive talvez já tivesse estado nos Estados Unidos. Conan Doyle viajara por lá em turnês de conferências, e a peça "Anjos da escuridão" sugere que Watson também passara algum tempo lá. Aqui aprendemos também um pouco mais sobre Watson: há seu amigo Thurston, seu gosto pelo bilhar e sua clara natureza perdulária. A cifra propriamente dita foi objeto de amplos estudos por criptoanalistas profissionais e amadores, bem como por sherlockianos, e sua engenhosidade e originalidade fazem desta história do dr. Watson uma eterna favorita.
4) O CICLISTA SOLITÁRIO
Em "O ciclista solitário", vislumbramos uma das "fronteiras" britânicas - as minas da África do Sul, fonte de inesperado perigo para mais uma Violet (há quatro donzelas em apuros com esse nome no Cânone). Bicicletas, a coqueluche do final da era vitoriana, desempenham papel central no caso, datado de 1895. Embora Watson registre em "Um estudo em vermelho" que Holmes é um exímio boxeur, temos somente duas amostras dessa sua habilidade, em "O tratado naval" e aqui. Ainda que haja muito pouco mistério no caso, ele desperta nos estudiosos interessantes questões sobre as leis do casamento na Inglaterra e o comportamento irracional dos canalhas.
5) A ESCOLA DO PRIORADO
"A Escola do Priorado" começa de maneira bastante cômica, com a figura ridícula de Thorneycroft Huxtable, M.A., Ph.D. etc. prostrado no tapete de pele de urso de Baker Street, nº 221. Mas o caso logo assume feições mais sombrias, quando Holmes descobre que deve salvar de grande perigo um menino sequestrado. Até o detetive fica surpreso ao saber quem é o sequestrador. Enquanto alguns estudiosos discutem a verdadeira identidade do "duque de Holdernesse", pseudônimo que Watson usa para o pai do menino, as ousadas deduções que Holmes faz a partir de marcas deixadas por rodas de bicicleta (e os enormes honorários que aceita) são questionados por muitos.
6) BLACK PETER
É difícil decidir quem é o pior em "Black Peter, o criminoso ou sua vítima. Esta história de identidade errônea e assassinato começa com Holmes voltando do açougue, onde, misteriosamente, estivera arpoando porcos. Acompanhamos o detetive a um dos poucos locais não disfarçados no Cânone, o Brambletye Hotel em Forest Row, onde atualmente funciona um Black Peter Bar. Ali Holmes salva seu cliente ao elucidar um mistério de doze anos. O relato do dr. Watson inclui também intrigantes referências a mais dois casos inéditos: "a morte do cardeal Tosca" (explorado por J. Regis O'Connor em The Sacred Seal, 1998) e "o famigerado treinador de canários", que Nicholas Meyer (autor do livro de grande sucesso Seven-Per-Cent Solution, 1974) revelou em The Canary Trainer ser uma história de Holmes e o Fantasma da Ópera.
7) CHARLES AUGUSTUS MILVERTON
Depois que ameaças e sutilezas fracassam, Holmes e Watson tornam-se transgressores da lei no caso de Charles Augustus Milverton e procuram frustrar a chantagem do "pior homem de Londres". Os dois veem-se, a contragosto, como testemunhas de um assassinato, e alguns questionam a ética de seu comportamento e gostariam de saber como a criminosa escapou. Não fica claro se o caso ocorreu antes ou depois do Grande Hiato de 1891 a 1894, mas Watson adiou sua publicação até 1904. è possível que o tenha feito apenas em atenção àquelas vítimas cujas reputações ainda poderiam ser afetadas por suas revelações, ou talvez por temer que a polícia ainda estivesse no seu rastro!
8) OS SEIS NAPOLEÕES
Muito apreciado pelos leitores, "Os seis Napoleões" nos mostra Holmes no encalço de um ladrão de joias, tal como em "O Carbúnculo Azul". Aqui, no entanto, onde ele vê os rastros de um arrombador infatigável, o inspetor Lestrade vê apenas um louco à solta. Ambientado nos últimos anos da carreira de Holmes, ele é reverenciado ali. No que talvez seja o primeiro caso registrado de manipulação deliberada de notícias, Holmes declara: "A Imprensa, Watson, é uma instituição de valor inestimável, contanto que se saiba como utilizá-la."
9) OS TRÊS ESTUDANTES
Os estudiosos encontram em "Os três estudantes" um tesouro de informações gerais sobre os anos que Holmes passou na universidade. O crime apresentado aqui - relacionado a um estudante que cola num exame - empalidece se comparado aos de outras histórias, mas a riqueza de detalhes referentes à vida na faculdade faz dele uma história compensadora. O caso se torna memorável também porque um dos primeiros estudos sherlockianos publicados, da autoria do editor e crítico Andrew Lang, examinou detidamente os acontecimentos nele descritos. Os fatos de "Os três estudantes" são tão implausíveis que alguns sugerem que a narrativa toda foi um passatempo, uma brincadeira criada por Watson e um velho amigo de Holmes para lograr o detetive.
10) O PINCENÊ DE OURO
O período que se seguiu à volta de Sherlock Holmes em 1894 parece ter sido de muita atividade para Holmes e Watson, pois em "O pincenê de ouro" este último menciona nada menos que cinco casos não publicados ocorridos nesse ano, a que se somam pelo menos três outros publicados. Ficamos sabendo que Holmes ganhou a ordem francesa da Legião de Honra por ter capturado "o assassino do Bulevar", o que levou a especulações sobre as conexões francesas de Holmes. O caso é digno de nota também pelo pano de fundo russo: embora a Rússia e sua violenta história recente estivessem muito presentes na mente do público em 1904 (a Guerra Russo-Japonesa foi deflagrada em fevereiro de 1904 e uma greve geral ocorrida na Rússia em 1903 foi amplamente noticiada), esta é a única referência canônica ao niilismo e aos terrores do Estado policial czarista.
11) O ATLETA DESAPARECIDO
"O atleta desaparecido" é o único caso no Cânone que envolve diretamente esportes amadores. Conan Doyle e Watson eram ativos praticantes de esportes de equipe, o primeiro um ávido jogador de críquete, o segundo um aficcionado do rúgbi (como aprendemos em "O vampiro de Sussex"). O próprio Holmes destacava-se em esportes individuais, como esgrima e boxe. Aqui, ele é chamado para encontrar um brilhante jogador de rúgbi em tempo para uma partida decisiva. Dois outros jogadores no drama chamam nossa atenção: Lord Mount-James, talvez o homem mais rico da Inglaterra (e o mais sovina), e um tal de dr. Leslie Armstrong, que se esforça por ser um interessantíssimo canalha, somente para se revelar uma migo. A ambientação do caso em Cambridge fornece aos estudiosos mais pistas sobre os anos do próprio Holmes na universidade, somando-se às indicações fornecidas em "Os três estudantes", publicado apenas dois meses antes. Aqui os esforços de Holmes para usar um cão como rastreador provam-se bem-sucedidos, revertendo seu fracasso com o vira-lata Toby em "O signo dos quatro".
12) A GRANJA DA ABADIA
Neste caso, um dos quatro em que o protegido de Holmes, o inspetor Stanley Hopkins, aparece (os outros sendo "O atleta desaparecido", "Black Peter" e "O pincenê de ouro", todos registrados em "A volta"), testemunhamos o conhecimento de vinho de Holmes, em contraste com aquele desdém pela classe alta que manifesta pela primeira vez em "O nobre solteirão". O rico Sir Eustace Brackenstall, a vítima do assassinato, é desfavoravelmente comparado com a corajosa heroína e seu amigo marujo, o que é extremamente emblemático das ideias do detetive. A autoconfiante Lady Brackenstall desperta a simpatia usual de Holmes pelos australianos (como se vê pelo modo como os trata em "A tragédia do Gloria Scott" e "O mistério do vale Boscombe"), e, como nesses casos, Holmes faz justiça com as próprias mãos. Aqui, no entanto, suas simpatias talvez suplantem seu discernimento: muitos estudiosos acreditam que ele se deixou lograr por uma celerada mais inteligente do que supunha.
13) A SEGUNDA MANCHA
Em "O tratado naval", o dr. Watson menciona "A segunda mancha" como um caso que lida com "interesses de tamanha importância e envolve tantas das famílias mais importantes do reino que por muitos anos será impossível torná-lo público". Definitivamente, não se trata deste caso. (Para começar, poderíamos procurar em vão uma menção a Fritz von Waldbaum ou a Monsieur Dubuque.) Apesar disso, esta "Segunda mancha" também é um caso de grand importância internacional e um dos poucos relatos que envolvem Holmes com crimes políticos, os outros sendo "O tratado naval" e "Os planos do Bruce-Partington". Os episódios desta aventura lembram aqueles de "A carta roubada" de Edgar Allan Poe, e fica claro que Holmes - que em "Um estudo em vermelho" menospreza C. Auguste Dupin, o detetive de "A carta roubada", como "um sujeito muito inferior" - é capaz de copiar as táticas do outro detetive mais famoso da época. "A segunda mancha" é digna de nota também como o último caso que Watson relatou antes de anunciar a aposentadoria de Holmes. A notícia da aposentadoria de Holmes encerrou a série conhecida como "A volta de Sherlock Holmes", e o público teve de esperar até 1908 para ler outras histórias do detetive.