MiCandeloro 03/02/2014
Belíssimo e inspirador!
Em meio aos terrores da primeira guerra mundial, famílias inteiras sofriam sem ter o que comer, tendo suas casas e muitas vezes seus próprios corpos violados e vendo seus entes queridos morrerem, seja nas mãos dos inimigos ou do próprio destino cruel.
Quando as tropas alemãs invadiram St. Perónne, um pequeno vilarejo francês, conhecemos Madame Sophie Lefèvre, uma mulher de muita fibra e com um coração enorme. Sophie mudou-se de Paris para St. Perónne para fazer companhia aos seus irmãos Hélène e Aurélien desde que seu marido Édouard foi enviado para guerra.
Dia após dia, Sophie é obrigada a enfrentar a miséria, a fome, a doença e o frio, vivendo uma vida de puro horror e de medo de nunca mais ver seu marido. A única coisa que lhe transporta para um mundo de esperanças é seu autorretrato, pintado por Édouard em seus dias de glória, lembrando-a da mulher maravilhosa e cheia de vida que um dia foi contrastando-se completamente ao ser esquelético e pálido no qual se transformou.
Mas aquele quadro não fascinava somente a si. A Garota que você deixou para trás atraiu os olhares de cobiça do novo Kommandant do vilarejo, um homem diferente dos demais militares, que tratava Sophie com certa cordialidade e fechava os olhos para pequenas contravenções cometidas por ela. Durante um momento de grande pânico, Sophie viu nessa relação perigosa a possibilidade de trazer seu marido de volta para casa, por meio de um trato que poderia custar a sua vida e a de sua família. Até que ponto existe o certo ou o errado em se tratando de amor?
"Continua sendo traição se a gente faz isso pelas razões corretas?"
Quase 100 anos depois, em Londres, conhecemos Liv Halston, viúva do famoso arquiteto David Halston. Apesar de ter perdido seu marido subitamente há quase 4 anos, Liv ainda vive seu período de luto, na Casa de Vidro construída por David, sozinha e isolada, em companhia apenas de seu amado quadro: A Garota que você deixou para trás, que ganhou de presente na lua de mel.
No dia do aniversário do falecimento de David, uma data que tinha de tudo para ser tremendamente negra para Liv, ela teve uma grata surpresa, conheceu Paul McCafferty, numa circunstância completamente inusitada: dentro de um bar gay após lhe roubarem a bolsa. Liv e Paul sentiram uma conexão forte e adoraram a companhia um do outro. Pela primeira vez, Liv viu a possibilidade de seguir em frente e se apaixonar de novo. Mas o destino gosta de nos pregar peças, e a relação de ambos foi comprometida no momento em que Paul viu o quadro A Garota que você deixou para trás pendurado no quarto de Liv dentro da Casa de Vidro.
Paul trabalhava na TARP, uma empresa responsável pela restituição de obras de arte roubadas nas guerras, e coincidentemente, A Garota que você deixou para trás era seu novo caso. A família Lefèvre o contratou para encontrar e reaver especificamente aquele quadro, que atualmente valia milhões.
Liv agora precisava correr contra o tempo e iniciar uma investigação aprofundada acerca da proveniência de tal obra a fim de provar que ela não havia sido roubada no passado, para poder manter a sua posse sobre o quadro. Ao longo dos anos, Liv construiu sólidos sentimentos em torno daquela linda mulher tão belamente pintada e, no meio dessa longa jornada, irá descobrir todas as verdades acerca de Sophie e de como as suas vidas estão mais conectadas do que ela pode imaginar.
Liv irá até as últimas consequências para mostrar para o mundo quem foi Sophie Lefèvre. Mas suas escolhas custarão alto, e como dizia Hélène, "Uma vez feito, não pode ser desfeito".
Querem descobrir o que irá acontecer? Então leiam.
***
Desde que soube deste lançamento fiquei afoita para lê-lo, afinal, depois de Como eu era antes de você, decidi que leria todo e qualquer livro escrito por Jojo Moyes. Comecei a lê-lo sem saber o que esperar e sem saber qual seria a conexão criada entre as duas protagonistas. Nunca havia lido nenhum livro sobre a primeira guerra mundial, e de cara, fiquei fascinada pela narrativa da autora e me entreguei à história de Sophie Lefèvre.
"Conhece a sensação de resignação com o próprio destino? É quase de gratidão. A pessoa não vai mais sofrer, ter medo, desejar que algo aconteça. É a morte da esperança que vem como maior alívio."
Infelizmente, o mesmo não aconteceu na segunda parte do livro, em que conta a história de Liv. Tive grande dificuldade de me identificar com a trama e, a partir de então, a leitura meio que empacou e demorou até que o estranhamento passasse.
Não posso dizer que este livro me arrebatou, assim como aconteceu com o livro Como eu era antes de você, mas Jojo me surpreendeu ao criar uma história tão triste, tão delicada, tão cheia de injustiças e esperanças, com protagonistas femininas que poderiam ser comparadas a grandes heroínas, cada uma a seu tempo.
Achei sensacional o pano de fundo da trama: as violências sofridas pelas vítimas das guerras e as obras de arte roubadas pelos alemães. Confesso que não imaginava que isso tivesse existido. Curiosamente, esta semana fui ao cinema e vi o trailer de um filme que irá tratar justamente desse assunto. E pelo pouco que Jojo nos mostrou, há muito que se falar. Justamente por isso, trata-se de um tema muito delicado e ainda muito vívido para todas as famílias que sofreram os terrores desses períodos.
Notei na história a comoção mundial daqueles que passaram a ver Liv como uma bruxa, uma pessoa má e injusta por não querer devolver o quadro de Sophie para seus "legítimos donos", desfazendo a injustiça que eles sofreram em tê-lo roubado há quase um século atrás. Nestes casos, quem tem o real direito sobre essas obras? E não digo juridicamente. Mas o livro vai além dessa discussão. Ele acaba nos mostrando quem são Sophie e Liv, as duas garotas que foram deixadas para trás por seus maridos, em situações diferentes, e em que elas se transformaram.
Gostaria de deixar claro que, apesar do livro ser excelente, não posso dar 5 corações. Explico: A primeira parte da história é narrada em primeira pessoa por Sophie, enquanto a segunda parte do livro é narrada em terceira pessoa. Não achei a narrativa em terceira pessoa bem escrita. Tive muita dificuldade de mergulhar na história, de identificar o personagem que estava falando e de me situar nos ambientes de cada cena. Achei tudo muito aéreo, sem definição, com descrições confusas. Totalmente diferente da narrativa em primeira pessoa, que foi tão bem desenvolvida que fez com que eu chegasse a sonhar com os cenários e com os personagens, de tanto que me entreguei a esta parte da trama, compartilhando a fundo tudo o que ali foi vivido.
Não bastasse isso, a segunda parte da obra foi escrita no presente, destoando-se por completo da primeira parte que foi escrita no passado. Esse fator também me causou um estranhamento tremendo como se eu estivesse lendo algo que fora escrito "errado". Além disso, encontrei no texto diversos errinhos que me incomodaram bastante.
Apesar disso, fiquei muito satisfeita com a história e com a trama bem desenvolvida. O final é lindo e todas as pontas soltas são amarradas. Descobrimos como a fé e o otimismo cego na natureza humana custou caro às duas protagonistas, mas como, acima de todas as dificuldades, ambas conseguiram prosperar e encontrar a felicidade.
Sem sombra de dúvidas A Garota que você deixou para trás é um livro inspirador, que mostra que é possível sobreviver nas mais variadas adversidades.
Resenha originalmente publicada em: http://www.recantodami.com/2014/02/resenha-garota-que-voce-deixou-para-tras.html