Renata 02/10/2022
As três obras tem séculos de existência, escritas antes de Cristo e consideradas obras fundadoras, possuem uma infinidade de análises e comentários especializados.
Meu comentário é o do leitor comum, não especialista, não conhecedor de mitologia.
Estabelecido meu lugar de fala posso dizer que os textos são fantásticos, daqueles que devoramos. Não são difíceis ou rebuscados, pelo contrário, muito gostosos de ler, e apesar de tragédias acabei achando graça várias vezes, seja pelo absurdo, seja pela impertinência daqueles personagens. Além disso, somos agraciados com a tensão das histórias, sentimento de solidariedade e indignação.
Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, conta a história de um deus que acaba acorrentado forever em um rochedo lá para os lados do Cáucaso. Isso por que Prometeu foi se meter com quem não devia: seres humanos. Roubou o fogo do Olimpo e entregou à humanidade. E o fogo com tudo que representa de sabedoria e independência. Zeus fica pistola e castiga Prometeu, que ainda assim não se abala, e por mais que apareça uma galera tentando contemporizar, com o famoso “deixa disso, te aquieta Prometeu”, ele continua é colocando lenha na fogueira, falando mal de Zeus, confiante no conhecimento que tinha do futuro, sabendo como e pelas mãos de quem o trono de Zeus cairia.
Nesse embate Prometeu versus Zeus a gente pode pensar na fidelidade ao nosso intelecto, nossas convicções diante de um mundo que muitas vezes não colabora, que nos imputa obstáculos e muita dor.
Particularmente adorei a insolência de Prometeu, e fiquei muito na vontade de que a história continuasse, se desdobrando em tudo aquilo que ele previa.
Medéia, de Eurípedes, me parece a história mais humana e próxima de nós que aqui estamos mais de dois mil anos após ser escrita.
Medéia me lembra Rick e Renner quando eles cantam “uma deusa, uma louca, uma feiticeira, ela é demais”. Toda errada, foi correr atrás de macho, não tinha como dar certo. Medéia conheceu Jasão quando ele estava passando um sufoco, e para ajudá-lo traiu o próprio pai e matou o irmão, caiu no mundo deixando sua terra natal para trás.
A questão é que, apesar de herói, Jasão tinha um caráter beeem duvidoso, querendo subir na vida, não pensa duas vezes em largar Medéia e os dois filhos que teve com ela para casar com a filha do rei Crente. O discurso de Jasão se justificando para Medéia é um belo exemplo de como os homens são capazes de justificar qualquer coisa, retorcendo fatos e fazendo a mulher passar por doida.
E doida por um, doida por mil, Medéia joga tudo para o alto, se investe dessa paixão que não mede consequências e leva a cabo sua vingança a todo custo.
Medéia é indefensável, não tem jeito, mas ainda assim foi difícil, se não ficar ao lado dela, pelo menos entender seu desespero.
Quanto a Édipo Rei, de Sófocles, acredito que seja o mais conhecido popularmente, está presente na fundação da psicanalista e na novel das oito, quem não lembra de Vera Fischer em Mandala?
É tentando fugir da previsão de que cometeria parricídio e incesto, que Édipo acaba encontrando seu destino e sua tragédia. Uma das coisas que me deixou curiosa é em relação a escolha de Freud por este mito já que ele não fala propriamente de paixão ou vontade, mas do inevitável, de um destino inexorável e talvez seja por isso mesmo.
Não tem como não se compadecer de Édipo, enredado em segredos e mentiras, tudo que ele faz é tentar ser justo e correto, e quanto mais o faz, mais endurece seu próprio castigo. Sem recorrer ao conceito exato do que seria uma tragédia, Édipo Rei me parece ser a tragédia por excelência.