Otávio - @vendavaldelivros 19/11/2020
"As frustrações com o novo regime podem ser resumidas no telegrama que, no dia 21 de dezembro de 1889, Felicíssimo do Espírito Santo Cardoso, ex-senador do Império e capitão da Guarda Nacional em Goiás, enviou ao filho(...) 'Vocês fizeram a República que não serviu para nada', reclamava o capitão. 'Aqui agora, como antes, continuam mandando os Caiado'."
Encerramento de uma série de livros sobre momentos importantes da história brasileira e que teve como antecessores os sucessos 1808 (sobre a chegada da família real portuguesa) e 1822 (sobre o processo de independência do país), 1889 de Laurentino Gomes tem como objetivo elucidar os acontecimentos que levaram à Proclamação da República em 15 de novembro, os detalhes do dia em si e os resultados iniciais dos primeiros anos do regime republicano. Tudo isso, com uma capacidade magistral de texto jornalístico, bem humorado e completamente embasado com fontes históricas. Uma aula, das melhores, sobre momentos que ajudaram a formar a nação chamada Brasil.
Livros que se dedicam a contar momentos históricos específicos precisam de contextualização. É impossível entender o movimento republicano brasileiro, suas aspirações e desejos, sem entender o que era o Brasil da segunda metade do século XIX. Laurentino nos apresenta um cenário muito claro e vívido sobre o que acontecia no país, permitindo um entendimento dos fatores e da sociedade da época.
Da história do Imperador Dom Pedro II, de sua infância até o final de seu reinado, passando por sua forma de governar e sua relação com o poder, até seu declínio como monarca e a insegurança que a sociedade patriarcal brasileira tinha em relação a Isabel, primeira na linha sucessória do trono, tudo facilita a compreensão dos resultados que se seguiriam.
O livro nos fornece o perfil das principais figuras do projeto republicano do país e, mais do que isso, torna humanos figuras históricas, que hoje levam nomes de ruas e são estudadas em salas de aula como imagens quase lendárias. O ego de Deodoro, a mágoa de Benjamin Constant, a frieza e a crueldade da Floriano Peixoto e as fraquezas de Pedro II, permitem que entendamos que o Brasil não teve sua república instaurada dentro dos moldes que seriam os ideais para um país, mas sim da forma atabalhoada, sem planejamento e com a eterna troca de favores característica da história brasileira.
Como petropolitano é muito gratificante ver Petrópolis ser apresentada no livro também como um local importante na história do Brasil. Infelizmente, é perceptível que os erros se repetem em nosso país. Há centenas de anos, algumas poucas famílias comandam estados e cidades, controlam terras e são “senhores” que perpetuam a desigualdade brasileira. Nossa democracia ainda é frágil, nossa república ainda está em construção e o futuro pode parecer sombrio, porém ter nascido como um trambolho mal planejado não pode ser o fator decisivo para a república brasileira. Ao olharmos com os olhos do presente para o passado, temos em mãos ferramentas fundamentais para a mudança e ela precisa ser feita, mesmo que comece, primeiramente, dentro de cada um de nós.