Psychobooks 30/11/2013
Resenha Dupla
Apresentando Anardeus
Alba: Eu já contei pra vocês algumas vezes que tenho o privilégio de ser leitora beta do Walter. O trabalho com ele é meio diferente. Após escrever praticamente o livro inteiro, ele me manda - e também para outras pessoas - o rascunho de seu texto. Pesa as observações, muda vozes, troca abordagens, mexe no texto todo e assim seu enredo vai ganhando vida. É supercurioso ver como o Walter vai lapidando as palavras e como, na última versão, seu texto está enxuto, sem uma única vírgula a mais na história. Para ele, essa forma de escrita funciona muito bem. Realmente muito bem. Mas vamos falar de Anardeus e nossa experiência com ele.
Alba: Anardeus. No calor da Destruição (Assim, com ponto mesmo!), é o segundo livro do Walter. Se você que leu "Cira e o Velho" espera encontrar o mesmo tom na história, pode mudar o foco das suas expectativas. Anardeus é cru, objetivo, fantástico, também, porém com um tom mais apocalíptico e bem menos romanceado.
Alba: Anardeus nasceu logo após de Isabel. Gêmeos, enquanto ela saiu do útero materno já brilhando e agradando a todos, o menino já saiu no susto, vindo no rastro de sua irmã, como se não conseguisse se separar dela por muito tempo. Feio, franzino e com um olhar prescrutador, Anar já assustou a enfermeira em sua estreia no mundo.
Durante o enredo, acompanhamos o crescimento dos dois personagens e entendemos quais seus objetivos de vida - se é que eles têm algum em mente - e como suas vidas continuam entrelaçadas de uma forma doentia.
Narrativa e desenrolar da história
Alba: Anardeus nos conta sua história em primeira pessoa. Sua visão da vida é desinteressada, como se estivesse no mundo apenas por estar. Desde pequeno, após uma doença que acometeu ele e sua irmã, o personagem sente um frio absurdo e sua irmã um calor imenso. Desde esse dia, Anardeus presencia desastres. É atraído para eles como uma mosca para o mel. Tomado por esse poder, o personagem usa de seu poder de persuasão e de sua loucura fria para ditar os acontecimentos e mexer com a vida de todos que o cercam e que o ofendem de alguma forma.
Alba: A base da história tem três personagens centrais:Isabel e Anardeus, que conhecemos desde o início e "O Fotógrafo", que chega ao enredo mais à frente, mas que é superimportante para todos os desdobramentos. Entremeadas na história, como "elenco de apoio", estão os parentes e amigos dos gêmeos, que têm suas vidas contundentemente afetadas pelas relações que criaram.
Alba: A narrativa começa intimista, uma história familiar, que envolve apenas os dois irmãos, mas vai tomando proporções gigantescas ao ponto de desencadear acontecimentos de proporções insanas.
Mari: O que mais me chamou atenção na narrativa do Walter é que ele optou por escrever pouco. Sim, isso mesmo, ele conseguiu traduzir em poucas palavras a personalidade do seu protagonista. Anardeus não perde tempo com floreios e o autor também não 'gasta' palavras sem necessidade. A princípio eu estranhei, pois adoro livros com muitas páginas que me explicam tudo sobre os personagens, mas conforme a leitura foi avançando fui fisgada e fiquei impressionada com a habilidade do Walter em contar uma história pesada com poucas palavras e sem deixar nenhuma questão mal-resolvida.
Mari: E é por essa característica na narrativa que você não deve esperar explicações sobre como ou porque Anardeus e Isabel são assim. Eles existem. Ponto final. E devo confessar que ao terminar a leitura, não senti falta de tais explicações.
Alba: São apenas 180 páginas. É um livro curto, mas isso em nada interfere na mensagem que o Walter quis passar com sua história. A linguagem é direta, recheada de palavrões e com descrições frias de atos de violência, sexo, catástrofes, doenças... Mas nada é demais, os palavrões não pesam no texto, são PARTE dele.
Mari: O cenário escolhido é São Paulo, quem conhece a cidade irá reconhece-lá em palavras, mas quem nunca esteve lá, não precisa se preocupar, pois a forma como ela foi retratada poderia ser uma metrópole de qualquer lugar do mundo.
Ilustrações
Alba: Como em "Cira e o Velho", o Walter também deu asas à criação de seu texto - sim, você leu certo, o texto se completa com elas - usando ilustrações. Elas são um show à parte:
(Imagens no site - http://www.psychobooks.com.br/2013/09/resenha-sorteio-anardeus.html)
Vale a pena, meninas?
Alba: Anardeus despertará que tipo de sentimento em você? É um antagonista disfarçado de protagonista, ou você poderá enxergá-lo como uma protagonista disfarçado de antagonista? Vai depender da sua visão do enredo e de como o texto sucinto e objetivo do Walter o tocará. Não vejo alguém passando pela leitura sem se sentir tocado de alguma forma, seja para o bem ou seja para o mal. Achei o texto vil, perturbador, sexy e envolvente. É uma miscelânea de sentimentos. Uma narrativa rápida e impossível de largar enquanto não chegamos ao final.
Alba: Walter apresenta seu texto, diz a que veio e sai de cena nos deixando boquiabertos.
Super-super-super-super-recomendo!
Mari: LEIA, simples assim. Sei que é um tipo de leitura que não agradará todos, pois ela incomoda, tem uma linguagem simples, mas ao mesmo tempo recheada de palavrões (pertinentes e não gratuitos), cenas de sexo e violência. Vale a pena sair da zona de conforto e da mesmice literária, garanto que esse livro irá te surpreender, pois é diferente de tudo o que eu já tinha lido.
"Sou democrático. Não faço distinção, nem ofereço privilégios.
Odeio todos.
Igualmente."
Página 14
"A mulher com máscara de fogo está por aqui. Sinto-a mais do que vejo."
Página 73
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