Cesinha 09/10/2016
O prenúncio de um futuro globalizado e polarizado
Esse livro é a denúncia do que Euclides da Cunha considerou um autêntico crime: o desconhecimento de um brasil interior ao país.
O Brasil do litoral (Rio, Recife, etc) era um país afrancesado que ignorava a existência de um Brasil interno, de um país menos influenciado pelas benesses da cultura europeia e mais pelas desgraças da nossa terra bem amada salve salve.
"O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. (...)
É o homem permanentemente fatigado."
Euclides da Cunha entende que o Brasil deveria não ser essa polarização entre sertão e litoral, mas um sistema conectado, já que esses dois opostos se completam. O litoral deveria deixar de olhar para a Europa, e consequentemente ficar de costas para o sertão, e sim abraçar e trocar um belo "toca aqui irmão" com seus conterrâneos.
Mas a realidade é uma completa falta de diálogo entre esses dois brasis.
Nada mudou.