Bruno H. C. Borges 10/04/2016
Uma luta real de uma garota real.
Quando lemos um livro com a consciência de que aquela história é algo irreal, aqueles que sentem a necessidade de se fazer, profissionalmente ou por um hobby, a crítica a um livro de um escritor alheio, fazem isso com a mesma consciência de que você não maltratará ninguém com suas palavras rudes do que podia ter sido melhor, ou bajulará alguém com as mais belas palavras a favor de tudo que gostou.
Porém, quando você lê as próprias palavras de alguém contando sua vida, deve-se ter uma flexibilidade maior ao ver aquela história como ela realmente é: as alegrias, tristezas, vitórias, derrotas, subidas e descidas de um ser humano que tem sentimentos e viveu sua própria vida, não teve ela manobrada ao favor da imaginação de alguém. É nesse cenário em que eu fui colocado ao ler "Um litro de lágrimas".
O livro é uma compilação de vários diários escritos por Aya Kito, uma jovem que, aos 15 anos, descobre que tem uma doença que começa a afetar seu equilíbrio, seu andar e, aos poucos, várias funções corporais. Então, por incentivo de umas das médicas que cuidava de sua saúde, ela passa a escrever várias experiências que ocorrem em seu cotidiano, e em como ela passa a conviver com a doença incurável chamada Degeneração Espinocerebelar.
Confesso que eu nunca teria lido esse livro de minha própria iniciativa, mas já conhecia a obra por meio de um dorama (seriados/novelas orientais) do qual fui incentivado a assistir, mas assisti de má vontade e o primeiro episódio nem sequer me motivou a ver o segundo. Fui ter conhecimento da existência do livro por indicação de minha namorada, e dessa vez decidi ler, e é ai que a flexibilidade da qual mencionei teve que ser aplicada a mim mesmo.
Esse é o segundo livro baseado em anotações pessoais que leio (O primeiro foi "O diário de Anne Frank"), e nesses tipos de livros em nenhum momento passa-se despercebido a forte carga de sentimentos do personagem, pois é por meio de suas próprias palavras e emoções que nos conectamos a ele para ter uma ideia de como ele é, o que gosta, o que faz, o que sofre e etc, e Aya não é diferente disso, e mais: ela é mais real do que qualquer outra história que tenta nos comover de maneira artificial, pois Aya não é uma garota rejeitada que não tem amigos e que tem uma doença terminal, e justo no final da doença ela acaba se apaixonando cegamente por alguém que toda as vezes quer explicar a vida por meio de teorias filosóficas (perdoem-me a pontada, mas é incontrolável), e talvez esse alguém também vai morrer ou vai mudar radicalmente por causa dela. Aya é simples e puramente uma garota que tem que abrir mão de sua vida para combater uma doença invencível, e ao passo que isso ocorre, vemos como ela se alegra com cada conquista, mesmo que pequena, que consiga; em contrapartida, vemos como ela chora tanto por tudo que é obrigada a passar, pois depende muito de muitas pessoas para quase tudo como se ela fosse um fardo; se sente abalada ao ser vista como diferente na sociedade; se zanga ao ver pessoas saudáveis reclamarem do que ela queria ter: um corpo saudável. Aya sempre procurou apoio em todos que diziam a ela se esforçar bastante, e apesar da personalidade instável que tinha, fazia isso sem se queixar, pois ela dizia a si mesma que não queria perder pra essa doença, até mesmo quando isso parecia inevitável. Ela foi uma guerreia até seu último suspiro.
Sem mais, aqueles que gostam do gênero terão muito agrado em lê-lo, e até mesmo se sentirão inspirados a ver a própria vida por um outro ângulo.
Obs: Só não irei apoiar a famosa frase "você chora um litro de lágrimas cada vez que lê um capítulo", pois essa afirmação não se aplicou a mim na primeira vez, e na segunda não foi diferente