Anita Blanchard 05/01/2014Definitivo fim de sérieEsse é um daqueles livros difíceis de resenhar, devido aos muitos sentimentos conflitantes, mas vamos ver se eu consigo me expressar de maneira minimamente compreensível para que vocês possam entender o que eu achei de “Allegiant”.
Sabe quando acontece alguma coisa que te faz passar as páginas para frente para ver se aquilo aconteceu mesmo ou você é que entendeu errado? Então, esse é o caso de “Allegiant”, e, a partir de agora, vou chamar esse momento do livro de “o acontecimento”, para não soltar mais spoilers do que preciso.
Vamos começar pela mudança no ponto de vista que a Veronica Roth optou por fazer nesse livro. Em “Divergent” e “Insurgent”, a narrativa é feita só pelo olhar da Tris, já em “Allegiant”, além do ponto de vista dela, temos o do Tobias. Eu particularmente não gosto de narrativa dividida, a não ser que seja extremamente necessária, como no caso das Crônicas de Gelo e Fogo do George R. R. Martin, em que cada personagem está em um canto do reino, com acontecimentos variados. Em “Allegiant”, a Tris e o Tobias, salvo raras exceções, estão sempre no mesmo lugar, então pra quê termos a visão dos dois sobre a mesma coisa? Porém, em algum momento do livro, você vai entender o porquê de dois pontos de vista... No entanto, a necessidade não torna a experiência mais agradável, as narrativas dos dois são tão parecidas que, às vezes, você não percebe quem está narrando o quê e tem que voltar ao início do capítulo para ler no título quem está narrando ali.
Falando em narrativas, eu preferia quando o Tobias era ainda só o velho e bom Four aos olhos da Tris, mais misterioso e com menos mimimi. Entendo que ele teve uma infância de cão e uma família de não se invejar, mas não quero ouvi-lo remoer isso mais do que o necessário para a história. Sim, eu sei que isso soa bem machista, homens não choram e tudo mais, mas vamos continuar...
Outro aspecto que me desagradou foi a quantidade de cenas de “pegação” entre a Tris e o Tobias. Acho que uma cena de amasso bem escrita e significativa é o máximo que eu consigo aguentar no decorrer de um livro. Talvez seja por isso que eu não leio romance...
Logo no começo do livro acompanhamos a disputa entre os defensores das facções e os sem-facção. O que fica desse confronto é que extremistas são ruins, não importa pelo que eles escolheram lutar. Na história você consegue entender que dividir a população em facções não é o ideal, que separa os indivíduos quando deveria uni-los e que exclui aqueles que não se adaptam. Mas, quando entra em ação um grupo que defende a extinção das facções, você também não consegue se identificar com eles, pois é mais uma vez uma imposição violenta que visa implantar um novo regime sem se preocupar com a transição e o fato de que pessoas estão envolvidas.
Achei muito interessante o mundo que eles encontram além da cerca, a explicação para as facções e as discussões que surgem a partir daí, que envolvem como nossas crenças são construídas e como elas podem se alterar com os acontecimentos; ética; sacrifícios para o bem maior, mas qual é o bem maior? A morte de uma única pessoa vale a vida das restantes? E a morte de muitas? O que é pior, a morte física ou a morte de nossas memórias e vivências? A culpa pelos mal feitos, pelas guerras e pela ânsia por poder é de quem? Do indivíduo imperfeito ou da forma como a sociedade em si é construída? No decorrer da história, vamos nos deparar com acontecimentos semelhantes em sociedades que são aparentemente diferentes, e com atitudes muito parecidas em personagens que teoricamente estão em pontos extremos da linha entre o certo e o errado.
Agora chega o momento inevitável, falar sobre “o acontecimento”, e, é claro, que só quem já leu vai entender essa parte. Não tenho problemas quando isso ocorre em livros, pois normalmente tem um significado importante para a história em questão. Há casos em que acontece para dar um ar de realismo para o livro, há casos em que acontece para ajudar no amadurecimento de um personagem, e há aqueles casos em que ocorre para dar rumo à história ou não teríamos um livro. Li a explicação da autora para “o acontecimento” e entendo por quê ou por quem a personagem faria o que fez. Ao contrário de muita resenha, se ela não o tivesse feito, eu teria ficado muito desconfortável. O que me incomodou um pouco em “Allegiant” foi que “o acontecimento” foi usado para solucionar milagrosamente os problemas e termos um final que choca, mas não explica muito. Esqueceu-se que havia todo um governo por trás da Agência e que não adiantaria nada impedir isoladamente os líderes da Agência, pois outros viriam com as mesmas convicções. Mas, se isso tivesse sido levado em consideração, então “o acontecimento” perderia metade de seu apelo, pois teria sido em vão, e teríamos um final aberto ou mais alguns livros pela frente.
Aí vem a pergunta: “mas você deu 4 estrelas para um livro que tem muitos defeitos e um final desses?”. Sim, porque, apesar das falhas e de não ter ficado totalmente satisfeita com o final, o livro em si foi muito bom, prendeu totalmente a minha atenção, a ponto de eu querer largar tudo para ler e saber o que ia acontecer. Isso demonstra a capacidade da autora e me deixa aberta a novos livros dela.