O leilão do lote 49

O leilão do lote 49 Thomas Pynchon




Resenhas - O Leilão do Lote 49


28 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2


Marc 26/11/2011

"Nenhuma sequência de cores é igual de um dia para o outro."
Não conheço muito bem o conceito de entropia, mas sei que se refere à quantidade de energia térmica que um sistema isolado perde sem que ela se transforme em trabalho. Pynchon estabelece um paralelo entre esta teoria e a teoria da comunicação. Há dois tipos de entropia, ele afirma, frase essa colocada na boca de um de seus esquisitíssimos personagens, John Nefastis, quase distraidamente, deixando o leitor se perder em meio ao mistério que percorre o livro. O livro, naturalmente, vai se preocupar apenas com a entropia da comunicação.

Acontece que esse procedimento, típico do autor, consegue simular exatamente os efeitos dessa perda. Seu romance, apesar de curto, condensa muita informação e como uma máquina, tem uma parte de sua informação simplesmente desperdiçada. É difícil explicar em pouco espaço onde está exatamente a genialidade do autor, como essa máquina funciona. Mas me parece um procedimento que vai funcionar apenas conectando-se ao leitor; uma máquina falha, que se deteriora (embora na termodinâmica o conceito de caos não seja negativo — e, veremos, nem para Pynchon) e precisa disso para continuar em funcionamento. Ou seja, o romance é uma máquina que vai obedecer exatamente às mesmas leis proferidas por Nefastis, mas só depois que sua engrenagem começa a funcionar com o leitor. Procedimento político por essência, com certeza. Uma redefinição do papel da literatura, resposta para todos aqueles que não cansam de descobrir as crises das definições e emperram quando precisam estabelecer conceitos positivos (“a literatura é:”). Porque afinal, o que é um livro?

Há, por estranho que pareça, inúmeras respostas para essa pergunta. Mas Pynchon prefere dizer que um livro é um produtor de caos, nunca uma simulação da realidade — mesmo que se recorra ao realismo fantástico (penso em boa parte da literatura latino americana), o livro nunca vai passar de um mero retrato, um instantâneo que engessa para sempre os personagens naquela situação. A literatura não pode ser um instrumento de estabelecimento do mundo, algo conservador mesmo quando procura ser revolucionário. Um livro deve sempre modificar alguma coisa, embora isso só possa acontecer justamente por essa produção de caos, ou melhor dizendo, introduzindo um desconforto em relação à realidade que a literatura clássica não é capaz. Pynchon não cansa de dizer que o mundo é muito mais do que aquilo que vemos distraidamente. Há uma intensa luta sob sua pele e é ela que determina como vemos e pensamos a realidade.

Assim, antes de mais nada, Pynchon toma o caminho de nunca fornecer definições acabadas sobre seus personagens. Eles estão sempre em transição, e muitas vezes em deslocamento também. Nesse ponto, o autor lembra bastante o conceito de pós-modernidade de Bauman, mas antes de ser algo negativa, essa liberdade de personalidade ajuda a máquina a funcionar. Por isso, causa estranheza nos leitores mais acostumados aos procedimentos clássicos dos escritores; o que lemos no começo pode deixar de ser verdade dali há algumas páginas. Nunca vai existir aquele perfil psicológico dos personagens que vai servir como guia para o leitor — mais do que uma guia, esses perfis são o princípio da realidade se estabelecendo e negando as possibilidades infinitas que cada momento traz dentro de si. É o reino das possibilidades estabelecidas.

Mais do que um mero procedimento de escrita, isso é uma leitura da realidade. Quem disse que o mundo que conhecemos é o único possível? Ele pode ser transformado a cada segundo, mesmo que seja sempre mais difícil em igual medida. Esse caos produzido por seus escritos é uma máquina que se conecta diretamente ao leitor (e nesse caso, o leitor é produtor de lógica, ao menos tenta ordenar o caos e destruir as possibilidades...). Pynchon dá movimento a mecanismos que nós nem pensamos existir em nós, primeiro provocando esse efeito conservador, de ordenação da realidade, em seguida como propagadores do caos (involuntariamente, no entanto), porque o mesmo princípio de entropia funciona aqui. A informação não se transforma em trabalho (no caso seria a modificação do mundo), mas acumulada, pode gerar um caos transformador. É inevitável. Porque vai chegar um momento em que a mera perda vai se tornar uma informação também, nós já vemos isso acontecer — com o perdão da palavra, a própria internet colabora para isso ao permitir que todos possam se pronunciar, tendo algo a dizer ou não, simulacros de informação. Enfim, a guerra de Pynchon não é contra o capitalismo ou neoliberalismo ou qualquer outro sistema político-econômico, sua revolução é contra o princípio da realidade, o que convencionamos chamar de verdade.

É comum ler comentários sobre Pynchon que falam de seus personagens absolutamente perdidos em meio ao dilúvio de informação, incapazes de se orientar e estabelecer um padrão de comportamento válido para sempre. Mas não creio que seja o caso; porque antes de tudo trata-se de um autor pós-moderno, para quem a busca da personalidade é fato irrelevante. Não é preciso compreender como funciona um computador, basta saber operá-lo; a busca de sentido na vida não faz da parte das nossas prioridades atuais. Preferimos aproveitar os benefícios da ciência a entender como ela significa profundamente. Não há mal algum nisso, e Pynchon não lamenta a complexidade do mundo, quer apenas mostrar que podemos modificá-lo.

Como explicar a paranóia, no entanto? Porque estamos acostumados a reagir negativamente quando essa palavra é mencionada, podemos deixar passar o que Pynchon está querendo mostrar. Se a realidade nunca é dada, mas construída por alguns poderosos e devemos antes de tudo brigar por seu status, a paranóia é o fio de Ariane nesse labirinto que pode nos guiar. Ou seja, pode-se não ter certeza que algo está errado, nem por onde começar a questionar, mas fica uma enorme dúvida. Mesmo que o conceito clínico de paranóia estabeleça que o “doente” se coloca como centro de tudo, aquele único a ser vigiado pelo mundo (que é composto apenas por espiões), o autor abandona essa idéia. Paranóia aqui deve ser entendida não como uma patologia, mas como o único instrumento de que dispomos para perceber esse movimento escondido das conspirações que constroem a verdade.

Porque há uma série de coisas que não podem ser totalmente esclarecidas, mais uma vez, não como metáfora mas como conhecimento aplicado, surge uma teoria da ciência para esclarecer um aspecto de suas formulações: o princípio da incerteza. Werner Heisenberg estabeleceu em 1927 que é impossível definir a posição de um elétron e sua velocidade ao mesmo tempo. Porque o elétron reage aos instrumentos de medição e sofre uma alteração impossível de ser medida, logo, não há no que nos apoiarmos para definir esse desvio, que precisaria ser medido antes mesmo de iniciarmos a medição. Isso acontece quando tentamos definir a velocidade do elétron e, paralelamente, quando queremos dizer sua posição. As duas medições se complementam e agem inversamente sobre a outra, ou seja, se definimos a posição, menos sabemos sobre a velocidade e vice-versa. Há inúmeras implicações dessa teoria na física quântica e no cotidiano de todos nós, mas aqui indica apenas que quanto mais os personagens abordam a história, mais se distanciam do que de fato está acontecendo no momento que vivem e, à medida que buscam esclarecer onde as conspirações atuam, mais perdem sua história. Aqueles personagens que conhecem a história das conspirações, de alguma forma estão fora delas, e aqueles que participam nunca são capazes de explicar nada.

Pode-se apenas deduzir o que se passa, um exercício mental, a paranóia.
Maria.Medeiros 27/10/2020minha estante
Muito boa resenha.


Marc 28/10/2020minha estante
Agradeço a leitura e o comentário, Maria.




Thales 23/05/2022

Eu tinha pensado num trocadilho, mas não anotei e esqueci
Eu fiquei ruminando "O leilão do lote 49" alguns dias antes de escrever a resenha - coisa que eu tenho feito cada vez menos. Não vou falar muito da história nem nada, vou só comentar alguns aspectos.

Primeiro e mais importante em se tratando de Pynchon: a linguagem. A rapaziada faz mó caveira do sujeito por aí, dizem que tu tem que ter um doutorado em inglês feudal e outro em história da arte pra entendê-lo. Balela. Achei a narrativa super tranquila e bem amarrada, não tive problemas pra acompanhar os diálogos. Pynchon até força a barra algumas vezes, como quando narra uma peça de teatro inacompanhável ou descreve conflitos da Europa feudal, e parece que o faz pra testar nossa atenção e paciência; mas eis o pulo do gato: não é pra gente acompanhar esses rococós mesmo.

Realizar que tu não tem que entender cada vírgula de um livro é ponto de virada na vida de todo leitor. Isso é FUNDAMENTAL com Pynchon.

Além disso a história é MUITO boa, super original e diferente de tudo tudo tudo. A partir da inesperada tarefa burocrática da Édipa a gente embarca numa viagem que inclui de selos falsificados a tráfico internacional de ossos humanos, passando por uma impagável galeria de personagens bizonhos. Não que "Leilão do lote 49" seja um livro de fazer gargalhar, mas tudo isso é bem engraçado.

Eu ainda me pego imaginando algumas cenas e sequências e pensando "cacete, não é possível que o cara me saiu com uma dessa". Esse sentimento faz valer a pena a pretensa dificuldade de encarar o livro.

Obviamente - e esse é um disclaimer importante -: esse é só meu primeiro contato com o cara. Eu sei que "O Arco-Íris da Gravidade" não tem essa fama atoa e outros livros como "Vineland" devem ser mais trabalhosos, mas esse aqui não é tido como dos mais fáceis do autor e passou longe de ser um bicho de sete cabeças. Meu próximo deve ser "Vício inerente", que é um dos mais recentes e acessíveis do Pynchon, vamo ver se minha impressão persiste.

No mais, reclamar de alguns erros de revisão ao longo do livro. Coisas bobas que se repetem também em "Ruído branco". Chatão
Mary 29/11/2023minha estante
Essa resenha me motivou! (confesso que estava um pouco intimidada com as divagações e com a linguagem)




Jeffez 19/07/2023

Não entendi nada.
Muita confusão nesse livro, não sei se minha leitura é limitada para o que esse livro exige (se é que exige tanto ou não sei). fiquei perdido e confuso o livro todo. Nada tinha conexão, não sei se tudo isso era uma abordagem do LSD nos anos 60, se tinha realmente algo escondido para a protagonista descobrir. eu simplesmente terminei por terminar. Mas como mais pessoas leram e gostaram. Deve ter algo de bom que seja absorvido por quem goste desse livro.?
comentários(0)comente



wawaw 05/06/2024

The saint whose water can light lamps, the clairvoyant whose lapse in recall is the breath of God, the true paranoid for whom all is organized in spheres joyful or threatening about the central pulse of himself, the dreamer whose puns probe ancient fetid shafts and tunnels of truth all act in the same special relevance to the word, or whatever it is the word is there, buffering, to protect us from. The act of metaphor then was a thrust at truth and a lie, depending where you were: inside, safe, or outside, lost.
benja 06/06/2024minha estante
meteu o furtado




Kesio.Rodrigues 15/02/2022

Terminei e não entendi nada
Bom demais. Cheguei a duvidar da sanidade das frases por várias páginas, mas depois virou certeza: Nada faz o menor sentido quando se busca respostas para o acaso.
comentários(0)comente



Nilva 18/05/2014

O dr. Hilarious responde para Édipa Maas – em O leilão do lote 49, do Thomas Pynchon – quando esta lhe diz:

"Eu vim na esperança de que você me livrasse de uma fantasia."

"Cuide bem dela!", vociferou Hilarius. "E o que mais vocês têm? Agarre ela cuidadosamente por seu pequeno tentáculo, não deixe que os freudianos a expulsem com sua lábia ou que os psiquiatras a ponham para fora com venenos. Seja o que for, agarre ela firme, porque ao perdê-la uma parte de você passa para os outros. Você começa a deixar de existir."
Oz 07/09/2017minha estante
Engraçado, marquei apenas uma passagem do livro, justamente essa. Muito boa!




Jeffer 07/01/2009

Não vi nada demais
Considerada a obra-prima do norte-americano Thomas Pynchon, o livro apresenta a história de Édipa Maas, nomeada inventariante da herança de um ex-namorado. Pierce Inventarity era praticamente o dono da pequena cidade industrial San Narciso, Califórnia. Édipa, além de encontrar-se com tipos insólitos – um ex-ator mirim que virou advogado, quatro camareiros covers dos Beatles, um diretor de teatro impulsivo, um analista que receita LSD aos pacientes, etc – se depara com a organização secreta chamada Tristero, manentedora de um sistema de correios paralelo, com selos oficiais falsificados e carteiros bêbados. A começo da trama é coeso e interessante, mas vai se perdendo em devaneios alucinógenos até chegar ao ponto em que, no final, não se sabe se o que está sendo narrado é a realidade da trama ou uma ilusão da mente de Édipa. Ela praticamente sai do papel de protagonista e passa a acompanhar tudo junto ao leitor. Os críticos dizem que o autor aplica a teoria da entropia em sua obra, mas o certo é que a história não deve agradar os que gostam de finais onde os mistérios são solucionados. Eu sou um destes. O livro está esgotado no Brasil e é encontrado, raramente, em sebos.
JeffersonCevada 20/10/2016minha estante
devo estar tb cego: não vi de enriquecedor...




Exusiaco 07/04/2015

Nesse romance condensado e multifacetado, condizente com a contracultura, Pynchon tece uma ácida crítica ao american way of life, sempre pontuado no individualismo. Dentre inúmeros e dinâmicos aspectos nessa narrativa pós-moderna, fugidia no sentido de se tentar tirar conclusões definitivas botando-a numa lâmina de microscopia, vejo que o narcisismo dá o tom da obra.

A partir de uma emblemática cidade de “San Narciso”, onde se identifica a atuação especulativa no ramo imobiliário do falecido magnata Pierce, soma-se uma gama de fatores que recairá sobre “Édipa Maas”, causando-lhe uma revelação e a retirando de sua zona de conforto de pacata dona de casa.

Édipa se vê encarregada de inventariar o patrimônio do falecido Pierce, seu ex-amante que possui entre seus bens uma valiosa coleção de selos. Esta situação a embaraça e a faz entrar numa espiral de loucura e paranóia em torno de uma certa organização de mensageiros medievais denominada “Tristero”. Essa organização se viu deserdada durante o Sacro Império Romano Germânico, agindo na clandestinidade e fazendo eco underground até a contemporaneidade do imperialismo americano, que também tratou de monopolizar o serviço postal no princípio de sua consolidação. Esses grupos agem por meio de mensageiros secretos e bêbados. O método de falsificação de selos tem por fito a propagação de idéias subversivas contra o sistema com sutis alterações e acréscimos no desenho daqueles. Depreendi disso a importância da comunicação como cimento de poder (o meio é a mensagem – mcluhan) sendo o serviço postal imprescindível até o advento de outras mídias a internet atual. O nome Pierce (Peirce?) também merece menção nesse caleidoscópio narrativo.

Édipa, no intuito de seguir sua “revelação”, se choca num emaranhado de individualidades, homens insulados em seus mundos que começam a auxiliando mas depois se afastam por força de seus egos, ou desintegração destes. Há seu marido que faz uso de LSD e se despersonaliza, o advogado Metzger que foge com uma adolescente como em Lolita de Nabokov, seu analista Hilarius que enlouquece numa patologia paranóica envolvendo israelenses, o diretor teatral Randolph Driblette que trabalhou na peça "A Tragédia do Mensageiro", de Wharfinger, que tanto absorveu nossa anti-heroína com menções ao Tristero, entre outros indivíduos singulares. Acho que a situação já era anunciada simbólicamente no início da narrativa, com os automóveis, símbolo do transporte individual e o consequente “Smog”. Édipa, ao cuidar do inventário de uma herança, paradoxalmente vai se vendo deserdada em muitos sentidos, existenciais e afetivos, analogamente à organização “Tristero”, sua intrigante revelação, organização que de certa forma também se viu deserdada outrora. A protagonista, em sua odisséia, vai se afastando e tomando consciência do "zeitgeist", ou espírito de seu tempo. Sua paranóia (chega a pensar que tudo não passa de uma grande conspiração com vistas a atingí-la, capricho do falecido Pierce) tem a virtude, como um "fio de ariadne", de ser um pressuposto indiciário para se chegar a uma dolorosa consciência do mundo em que vive e que vai se apartando.

A preponderância ideológica americana que preconiza o individualismo, a tecnologia, os inventores (bar escopo), o sucesso e a meritocracia, bem caros ao imperialismo, faz seres humanos vítima de “smogs” existenciais e a trajetória de Édipa é um exemplo.
Marc 28/05/2015minha estante
Gostei da sua resenha. É uma tentativa de organizar o mundo caótico do romance de acordo com um método, digamos, materialista. Eu evidentemente, como vc pode ver pela minha resenha, discordo completamente de vc, principalmente em relação ao sentido de conceitos chave, como o de paranoia, por exemplo. Mas foi interessante ver seu esforço para organizar o caos proposital de Pynchon, e uma visão totalmente diferente, embora embasada, sobre o autor.


Exusiaco 18/06/2015minha estante
Marc, o esforço de dez minutos da minha parte para pretensiosamente resenhar esse Pynchon, gerou uma ordem meio que canhestra, Apolo com dengue, bastante imperfeita pela dimensão caótica do objeto. Acredito que se trata dos EUA profundo e vejo que o narcisismo não destoa da paranoia, cara ao autor. Meu parco conhecimento de psicanálise vê na paranoia um ponto fixação no narcisismo, com direito à delírios de grandeza, megalomania, etc., com incidência no mundo corporativo, corolário da competição e meritocracia estadunidense. Um sujeito chamado Andy Grove, executivo-chefe da Intel nos anos 90 disse que só os paranoicos sobrevivem, dito que se tornou mote e mantra entre executivos e empresários do mundo todo. Vislumbra-se daí o terreno a ser pisado, pátio da brincadeira literária de Pynchon.




Gabriel 19/06/2022

Paranoia e entropia: a busca de significado numa sociedade fragmentada.
A tentativa de organização do estado das coisas num primeiro momento pode trazer uma sensação de ordenação. Mas Pynchon não fica no raso, penetra de forma labiríntica nas entranhas dos EUA. A história é um caldeirão de informações, passando da música erudita à cultura pop massificada, chegando até numa suposta rede subterrânea de serviço postal clandestina, e o ambiente é a Califórnia dos anos 60. E é nessa tentativa de ordenação que surge o caos. Neste cenário a paranoia não deixa de ser uma consequência. A paranoia como ordenação da sociedade contemporânea. Mas não apenas as paranoias referentes às teorias da conspiração, mas também aquelas que têm lastro na realidade (como as engrenagens imperialistas sugerem em muitas ocasiões). É possível confiar plenamente nas plataformas de comunicação oficiais? E as formas transgressoras de hegemonia, confundem ou auxiliam? Com as relações entre indivíduo, sociedade e instituições extremamente fragilizadas e consensos cada vez menos perenes, as possibilidades se tornam múltiplas (para o bem ou para o mal). E para onde ir sem se perder? Onde está a verdade? É nesse espiral de dúvidas que Édipa Maas, nossa protagonista, se depara ao investigar o espólio de um ex-amante que a deixou como inventariante de seus bens após sua morte, não sabendo o que encontrará (ou se encontrará algo de fato). Mas não sai exatamente de mãos vazias. A leitura não é simples e as discussões são complexas, mas ao mesmo tempo é um livro engraçado, espirituoso e com uma prosa belíssima. Pynchon lembra ao leitor que este não é uma mera figura passiva no exercício da leitura e o estimula a pensar em novos caminhos o tempo todo. Um romance que vale cada linha.
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



Paty 06/02/2014

O livro pesa na cabeça de quem o lê. Faz sentido ou é pura loucura? O que ele tenta nos dizer, ou será que o sentido é apenas o que está escrito? Pynchon é odiado por muitos e torna-se obsessão para outros. Não dá pra ficar totalmente indiferente ou totalmente satisfeito. O livro não termina.
Arsenio Meira 06/02/2014minha estante
Loucura há, pois de perto não há humano normal, ainda mais escritor. E nem tudo pode fazer sentido, não é não Patty? Para dar uma mexida nesse caldo morno do dia. Mas é pesado, concordo e no entanto eu gostei. Clarice escreveu, e o dito se alastrou: "Perder-se também é caminho". Bjos




Rafael 21/10/2016

Muito que bem!
A jornada paranóica de Édipa Maas em busca dos segredos de uma sociedade secreta de correios que pode ou não existir. À medida em que ela desvenda a história, fica cada vez menos claro se há uma conspiração envolvida ou se toda a história se passa apenas dentro da sua cabeça.

A história começa leve e bem humorada, de um jeito muito solto e gradualmente vai ficando mais séria, por isso é fácil subestimar a escrita do autor no início. O último capítulo é tocante. O sentimento de paranoia é constante e muito bem trabalhado e reflete através da desorientada protagonista num zeitgeist sem regras direto na gente. A própria Édipa, em meados do fim, desiste de tudo e vai acompanhando desolada o desenrolar das coisas, junto ao leitor. Essa cumplicidade é ótima.

O Leilão do Lote 49 é um episódio dOs Simpsons em romance, com personagens abundantes e excêntricos, as dicas sutis de conspiração e o feeling de estar sendo vigiado. Também é um livro muito americano, no sentido estadunidense da palavra. Seja lá qual era o intuito de Pynchon, ele o alcança: Todas as coisas pequenas estão lá por algum motivo. Não há coincidências gratuitas, não há palavras desperdiçadas. O livro é repleto de referências, e há duplos sentidos até nos nomes dos seus personagens.

Reza a lenda que esse sentimento de paranóia que Thomas Pynchon consegue criar em seus livros é a grande característica da sua escrita. O próprio Pynchon é uma lenda, recusando-se a aparecer ao vivo, dar entrevistas, mostrar seu rosto. Na internet há apenas meia dúzia de fotos suas e os fãs especulam teorias absurdas à respeito do autor. Os livros no Brasil infelizmente ainda não receberam a atenção devida e são bem raros e caros.

Após a leitura tem-se a impressão de que é um livro muito superestimado, nada demais. Mas aos poucos se faz experimentar também um feeling de paranoia no mínimo interessante. O que é a verdade afinal?

site: http://www.castelodecartas.com.br/index.php/2016/10/06/imortalidade-rapidinhas-12/
comentários(0)comente



Leo Leiva 29/07/2023

O plot do livro não acho interessante. Correios?... Mas o que está ao redor é que torna a obra magnifica. É Pynchon fazendo poesia sobre o mundano, sobre as entranhas dos EUA e consequentemente do Ocidente pós-Segunda Guerra. Transformando paranoicos e drogados em poetas como não era feito desde o final do século XIX. É uma revitalização da literatura na segunda metade do século vinte e nisso está boa parte do seu valor.
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



28 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR