Graça infinita

Graça infinita David Foster Wallace




Resenhas - Graça Infinita


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Leila de Carvalho e Gonçalves 16/07/2018

Gigantesco e Desafiador
Gigantesco é um adjetivo que cai sob medida para "Graça Infinita", segundo romance de David Foster Wallace (1962-2008), cujo título se refere a um estranhíssimo objeto: um filme com fama de ser tão divertido quanto letal, isto é, seus espectadores ficam vidrados na tela até a morte. Trata-se da magnum opus ou o grand finale de um ex-cientista, metido a cineasta, dotado de um bizarro senso de humor.

Quanto ao livro, ele é um bom exemplo de literatura experimental e suas sequelas físicas não vão além de um torcicolo causado por 1100 páginas que exibem o dobro de palavras usualmente empregadas, afora 388 notas, imprescindíveis para o entendimento da história. Uma odisseia que requer um leitor experiente e um bom dicionário, apesar de algumas palavras serem invenções do próprio Wallace.

Por sinal, considerado um dos escritores mais talentosos de sua geração, DFW é capaz de abordar diferentes gêneros e estilos com raro virtuosismo. Infelizmente, aos 33 anos, ele se enforcou durante uma crise de abstinência provocada pela supressão de um antidepressivo que suspeitava ser a origem de um bloqueio criativo.

Publicado originalmente em 1994, esse romance levou vinte anos para ser lançado no Brasil e Caetano Galindo levou cerca de dois, para apresentar uma impecável tradução. Um trabalho hercúleo, já que se trata de um compêndio enciclopédico criado sob o parâmetro de "quanto maior, melhor". Nada mais nada menos do que uma confusão psicodélica de tudo o que surgia na cabeça de Wallace com direito a inúmeras personagens, bons casos, piadas, monólogos além de trechos desafiadores que assemelham-se a delírios alucinógenos.

Sua história é ambientada num futuro onde Estados Unidos, México e Canadá passaram a ser um único país, a Organização das Nações da América do Norte (ONAN). Dominada pelo comércio, a região apresenta até os anos patrocinados por marcas famosas, por exemplo, o "Ano da Fralda Geriátrica Depend" centraliza a maior parte da trama. A própria Estátua da Liberdade virou garota-propaganda e, ao invés de erguer a tocha, exibe produtos que vão de hambúrguer a sabão em pó.

As estranhezas não param por aí, rebanhos de hamsters selvagens cortam o país e a Nova Inglaterra foi transformada num lixão de residuos tóxicos produzidos por um novo tipo de energia, a fusão anular. Indubitavelmente, a população de Quebec não anda satisfeita com a incômoda vizinhança e um grupo separatista radical está disposto a obter a cópia mestre do tal filme para transformá-lo numa arma capaz de dizimar toda a população ianque.

Desaparecido sem deixar vestígios, o paradeiro desse cartucho acaba envolvendo a própria família do cineasta que, há poucos anos, resolveu explodir a cabeça num forno de micro-ondas. Dela, fazem parte a viúva, Avril Incandenza, proprietária da "Academia de Tênis Enfield", e seus três filhos: Orin, um ídolo do futebol americano, Mario, um jovem seriamente deformado, e Hal, candidato a futuro ídolo do tênis, se não for pego em algum exame antidoping...

Com várias subtramas, uma boa parte acontece na "Casa Ennet de Recuperação de Drogas e Álcool". Aí, quem rouba a cena é Don Gately, um ladrão viciado em narcóticos orais que frequenta os "Alcóolicos Anônimos" e tem sérias dúvidas sobre a existência de um Ser Superior.

Com uma estrutura complexa, esse livro não é indicado para o leitor tradicional, acostumado com conexões narrativas e histórias com começo, meio e fim. Se esse não for o seu caso, aceite o desafio de encarar um romance genial, laborioso e viciante. Aliás, o vício, suas causas e consequências são o fio condutor dessa jornada labiríntica que também aborda a tênis, entretenimento, publicidade, cinema, relações familiares e políticas. Boa sorte!
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Bbortolotti 29/12/2017

Experiência única de leitura
Vício. Controle. Imagens. Entretenimento. Fragmentação. Depressão. Drogas. Distopia. Paroxismo do consumo.

O livro que sintetiza as vivências das gerações y e z. O que mais me afetou no livro foi a experiência da leitura. Não só pelo tamanho do livro e pelas 388 notas de pé de página. É impressionante como Foster Wallace conseguiu traduzir a experiência perceptiva dos leitores/espectadores/usuários contemporâneos para a literatura. Graça infinita é como se fosse um conjunto de hyperlinks, intertextualidades, afetos e imagens que se desenrolam simultaneamente sem seguir uma linearidade previsível. As ações e a linguagem de cada um dos personagens elaborados minuciosamente por D.F.W. fogem de qualquer descritivismo óbvio. Não há heróis. É como se você sentisse uma porrada em cada frase dita pelos personagens. Como esse livro me afetou.
Ariane 28/02/2018minha estante
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João Lucas Dusi 05/09/2017

O bom e velho Dave Wallace
Eu costumava pensar em deus como um mendigo viciado que masturba velhos tarados no banheiro do terminal do boqueirão em troca de cincão pra comprar pedra, mas com Graça Infinita aprendi que deus atende pelo substantivo feminino autoconsciência e David Foster Wallace foi enviado ao planeta terra pra espalhar sua palavra e daí se enforcar em 2008.

Eu costumava pensar que toda a tristeza do mundo estava condensada num poema de doze versos do Robert Walser, mas com Dave Wallace e seu Graça Infinita aprendi que toda a tristeza do mundo tem um quilo e meio, 1136 páginas e 388 notas de rodapé.

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São dois trechos do texto que escrevi sobre o Graça Infinita há um tempo.
O conteúdo está disponível, na íntegra, no portal LiteraturaBR (link abaixo).

site: http://www.literaturabr.com/2016/05/20/o-bom-e-velho-dave-wallace/
naiara.s 04/12/2017minha estante
Qual poema de Robert Walser?


João Lucas Dusi 11/12/2017minha estante
Oi, Naiara. O poema se chama "Sob um cinzento céu". Aqui, em tradução de André Caramuru Albert:

Sob um cinzento céu
sob um pesado céu
há uma casinha branca.
Dentro da casinha branca,
dentro de sua pequena sala,
eu estou sentado, triste.

Através das árvores desfolhadas,
através das árvores molhadas,
meu olho procura, vê,
e descobre pobres campinas.
Em nome destas campinas
Eu choro amargamente.

Se te interessar, há outras traduções no site do Rascunho: http://rascunho.com.br/robert-walser/


naiara.s 13/12/2017minha estante
obrigada :)




Oz 16/04/2017

O título faz jus ao livro
Fui levado a ler esse livro pela grande curiosidade que surgiu após ler alguns comentários que explicavam (ao menos tentavam) sobre o que ele tratava, qual era sua história. E a verdade é que essa história foi me parecendo cada vez mais original e intrigante, ainda que a imagem que eu fui formando sobre o livro fosse, na verdade, um grande quebra-cabeça, com inúmeras peças faltando. Bom, a única forma de montar esse quebra-cabeça era ler o livro. E que livro. Foi uma graça infinita ter a oportunidade de ler essa obra-prima.

É verdade que as mais de mil páginas assustam? É. É verdade que tem mais de 200 páginas de notas e algumas delas são bem enfadonhas? É. É verdade que o começo é um tanto quanto confuso, que o autor usa e abusa de siglas e que a construção da história é não linear? É. Então o livro é chato pra caramba? Nem a pau.

Tomando como principais ambientes uma academia de tênis para crianças e jovens, uma casa de recuperação para dependentes químicos e as movimentações de um grupo terrorista cujos integrantes são violentos cadeirantes, Wallace traça uma história distópica extremamente original, mas cujo ponto forte são as reflexões sobre temas profundos que permeiam a vida dos personagens. Por exemplo, talvez a melhor descrição sobre o pensamento de suicídio esteja nesse livro. É tudo muito convincente e visceral, lembrando que Wallace se suicidou. Outro exemplo é uma discussão que ocorre sobre o quão benéfico é a liberdade que as pessoas têm para buscar maximizar seu prazer. E se o prazer for mortal, como é o caso do filme que dá nome ao título do livro? Estaria a filosofia utilitarista que serve de fundação para as relações sociais, econômicas e até culturais dos EUA e de grande parte do Ocidente fadada ao fracasso lógico e moral?

Enfim, qualquer resenha para esse livro será sempre muito grande pela quantidade de conteúdo que ele apresenta e pelo que pode ser discutido, mas também sempre será muito curta, de forma a não conseguir passar nem uma minúscula parte do que esse livro entrega na experiência de sua leitura. Então fico por aqui. Só resta dizer que é realmente uma graça infinita ler esse livro. Provavelmente, meu livro favorito de todos os tempos.

site: www.26letrasresenhas.wordpress.com
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Assiris 16/10/2016

Impressões & Reflexões
Graça Infinita (ou Infinda Graça, como queria o tradutor) não é um livro difícil de ser compreendido, a sua dificuldade encontra-se menos no imaginário do que no léxico.
Não são poucos os leitores que buscam compreender a história da obra, numa tentativa hercúlea de ordenar o enredo fragmentado. Mas esta não era a intenção do autor.
Acredito que no Brasil não se tenha ainda adquirido a cultura do pós-modernismo, que encontrou o seu apogeu nos Estados Unidos já há algumas décadas.

Seja como for, há de se considerar o seguinte: no pós-modernismo a História e a Forma não são elementos predominantes. Por vezes nem existem, nem devem existir.

David Foster Wallace, com Infinda Graça, cria um romance pós-moderno um pouco atípico - intencional - ao tentar através do próprio pós-modernismo criticar a pós-modernidade e compilar as angústias de uma sociedade americana incapaz de recuar, de romper com a vertigem, impedir a própria queda. Ou seja, mesmo na fragmentação e na aparente falta de enredo, o romance de Wallace possui uma ideia central.

Hal, Orin, Pemulis, Gately, Joelle, Lenz, Bruce Green, Coitado do Tony, Kate Gombert, Erdedy, entre outros, são figuras incapazes de interromperem o constante declínio, a decadência. Tudo o que podem fazer é entorpecerem-se através dos mais variados vícios, substituindo um por outro na medida em que cada vício usurpa-lhe a vida.

O tema da alienação tem grande importância na obra. Nos romances de Thomas Pynchon e Don Delillo, os personagens são sujeitos paranoicos em constante conflito com o mundo que os cerca, todos cientes de que nas sombras existem pessoas, organizações, entidades, que estão trabalhando incessantemente para manipulá-los e prejudicá-los de alguma forma. No romance de Wallace, os personagens estão tão alienados e aprisionados pelos seus vícios que são incapazes de perceberem as conspirações e atos políticos que os cercam. Pelo contrário, há um foco desmedido no próprio umbigo. Acredito que o enredo envolvendo a ONAN/Marathe/Steeply/Orin surge tão apenas para que Wallace possa trabalhar o tema de alienação e subverter a paranoia americana.

Graça Infinita flerta constantemente com a dor, a incomunicabilidade e o desespero. Um livro doloroso, capaz de plantar em nossa mente a angústia (até o momento sinto-me incapaz de esquecer determinadas cenas e sensações).

Por fim, eu gostei muito de lê-lo. Doeu. Machucou o meu ego ao mostrar o quanto de alienação e vício existe em minha vida e era incapaz de enxergar.
Marquini 21/01/2017minha estante
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Rafael 22/08/2016

Genial, do começo ao fim.
O livro começa absolutamente confuso: David Foster Wallace utiliza os primeiros cinco capítulos pra acostumar o leitor com a sua maneira de lidar com a cronologia, gramática-de-manual-de-instalação-de-eletrodomésticos, uso de notas e pontos de vista de personagens diferentes. Você se acostuma com a tensão crescente, as palavras abreviadas e cheias de siglas, os capítulos que terminam de forma abrupta na “melhor parte” e aprende a gostar disso porque está no mundo dele agora. Depois a leitura vai mais devagar e confiante, apresentando dezenas de personagens secundários e pequenas respostas que aos poucos te situam no mundo distópico de Graça Infinita enquanto passeia por temas como separatismo, drogas, depressão e suicídio, incestos, abuso sexual/psicológico, pais ausentes, família, filmes, teoria do entretenimento, alienação, tênis (tanto como esporte como atividade metafísica), comunicação, liberdade, amor. Tudo. TUDO. Tudo no maior e mais maravilhoso exemplo do pós-modernismo e maximalismo literário que já existiu.

É necessário ter um pouco de paciência (e perseverança) para desvendar aquela sociedade estranha, os anos subsidiados, a mentalidade das crianças, a cor azul (citada incessantemente durante o livro inteiro). Mas aos poucos você vai entendendo e sendo absorvido pela trama. E percebendo que nada ali é gratuito. Todos os elementos básicos da história simbolizam algo e se repetem ciclicamente, numa narrativa repleta de situações originais e absurdas, uma mais louca que a outra. É um livro que se supera um parágrafo de cada vez. Lembrando que a melhor parte do livro jamais foi realmente escrita. Você acha que não tem um final, mas tem sim. Há dicas que levam ao único final possível. E ele se desdobra conseguindo, como desde o início, superar a si mesmo. E pior: Quando você relê o início, percebe que este é um pedaço do fim, uma confirmação desse final. O prólogo é o epílogo? Ainda não consegui decidir. Enfim, as respostas finais não foram escritas, mas elas existem, elegantemente.

Enfim, eu não vou recomendar esse livro, eu vou implorar para que todos o leiam. Isso não é literatura básica pra fugir da sua realidade diária. Isso significa salvar vidas, conversar com Deus. Esse livro é a nossa resposta. Davi Faustão Valácio sabia a resposta!
É a nossa única esperança como seres humanos.
LEIA!

Resenha completa no Castelo de Cartas

site: http://www.castelodecartas.com.br/index.php/2016/08/18/graca-infinita-rapidinhas-7/
Dih 25/08/2016minha estante
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Jadna 02/01/2016

Graça Infinita - David Foster Wallace
Acho que esse é o primeiro livro que posso afirmar com certeza que na hora em que li a última palavra,imediatamente me deu vontade de voltar pro começo.
Claro que principalmente pelos motivos óbvios: o fato da narrativa ser não-linear,a quantidade de personagens que a gente demora muito a identificar,a linguagem e a siglas que a gente só aprende a desvendar depois de um certo tempo... entre outras coisas.
Só que é claro também que eu não vou encarar mais de 1000 páginas de novo. Talvez em um futuro próximo.

E os motivos não-óbvios são que, agora que não preciso mais me preocupar em entender a trama,posso identificar mais os sub-temas,que alías,são muitos.

Quando li a sinopse,imaginei uma história completamente diferente. Imaginei que teria uma linguagem difícil,mas que a trama seria uma coisa mais política,com um toque de crítica a produção de entretenimento. E pra todos os efeitos teve isso,mas também teve muito mais.

A história gira em torno da família Incandenza, mais especificamente do filho do meio,Hal,que é nada menos que um jogador de tênis (confesso que as partes que falavam desse esporte eram de longe as mais chatas pra mim).
A academia de tênis,que era propriedade da família dele,ficava logo ao lado de uma clínica de reabilitação,que ironicamente tem tudo a ver com a história.
O que nos leva ao tema principal dela (pelo menos pra mim): os vícios.

É claro que o vício nas drogas fala mais alto,e foi também foi o que mais me chamou atenção. Nunca aprendi tanto sobre as motivações,os pensamentos e os sentimentos de quem acaba entrando nesse mundo. Tem de tudo: gente intelectual com todas as suas convicções muito bem pautadas (principalmente os usuários de maconha,que ironicamente,é a “droga” mais problemática do livro); tem gente que passou por coisas dificílimas na vida,e que consequentemente,acabaram precisando de uma forma de escapismo. Aliás,algumas partes que falam sobre abuso e depressão,são realmente aterrorizantes,assim como a descrição de como acontece uma overdose. E falando sério,esses “ensaios” sobre fatos isolados da história é a coisa mais genial do livro,e perto deles,a trama principal nem interessa tanto assim ( o que falar sobre a descrição sobre o que é a Casa Ennet?).
E tem o Hal. Um usuário convicto – e chato – de maconha,assim como a maioria dos colegas dele da academia de tênis. Isso foi uma coisa que me deu um pouco de revolta (não do livro,nem do autor,mas dos personagens). Eles eram atletas,mas nem levavam isso em consideração. Aliás, pelo contrário,eles tinham um complexo esquema pra burlarem o exame anti dopping. E acho que essa é outra grande ironia do livro,o desperdício de tanta inteligência pra uma coisa que não ia levar a nada (e isso fica bem evidente em como as coisas se desenrolam no final).

Mas voltando aos vícios,o segundo mais evidente,é o vício em entretenimento.
Em uma determinada passagem,um personagem se vicia em uma certa série policial,e a descrição de como esse vício aparentemente inocente vai progredindo é assustadora (outro dos famosos “ensaios” geniais). Pra resumir,o tal personagem,passa a acreditar que por sua vez,os personagens da série policial realmente existem,e os atores dessa série que por acaso fizeram outros trabalhos,são pra ele,a mesma pessoa,o que acaba criando dentro da mente dele uma espécie de rede de conspiração. Ele fica tão fissurado nessa teoria,que vira um verdadeiro stalker e manda até carta pros atores, mas eles é claro,nunca respondem,o que deixa o personagem ainda mais intrigado e convicto de que a conspiração é verdadeira. E no final de toda essa confusão,quando a série é cancelada,já dá pra imaginar o que aconteceu com ele.

Isso evidentemente,é uma metáfora para a trama principal e o filme do James Incandenza,que leva os seus espectadores à morte. No começo,eu imaginei que quem assistia tinha uma morte instantânea,principalmente porque o título “Graça Infinita” faz a gente ter essa impressão.Mas não,ele causa um certo efeito sim,mas o principal problema dele,é que a pessoa não consegue mais parar de ver e relembrar aquilo. É como se o filme se tornasse tudo pra ela,acima de qualquer religião ou pessoa,o que traz uma conexão direta ao conceito dos vícios.

Diferente do que imaginei,a trama não tem nada de política. Tem a caça ao filme e as convicções dos grupos separatistas,e não dá pra negar,que é isso que impulsiona tudo,mas ao mesmo tempo,a história é principalmente sobre a família Incandenza. É sobre o que levou a criação daquele filme,quem estava envolvido nele, aonde ele foi parar,e principalmente,o que ele é.

Quanto ao final,ele é compreensível,simplesmente porque ali não é o final. O fato da não-linearidade dá uma boa dica do que aconteceu,e a primeira aparição do Hal no começo do livro é bom fechamento pra o que tava sendo contado,mas a explicação mesmo tá ao longo do livro todo. Tudo tava desordenado,e as pistas estavam ali,entre os muitos ensaios e histórias isoladas.

Pra ser mais específica [SPOILER] [SPOILER] [SPOILER] os separatistas conseguiram sim ter acesso ao filme e utilizaram ele,mas se tiveram sucesso ou não,não dá pra saber. Ao meu ver,a intenção era dá início a uma guerra e não contar todo o desenrolar dela. A história de quando o Hal come mofo,não foi só um fato isolado na vida dele. Aquele foi o estopim de toda a vida dele,que o fez parar de falar e parar de ter sentimentos. James Icandenza acaba criando uma forma de consertar isso (o que remete ao tal episódio do “conversador profissional”) e no final,por algum motivo (e eu acredito fortemente que foi a abstinência da maconha),fizeram as consequências de ter ingerido mofo voltarem com força total. Isso somado a ansiedade do teste pra faculdade fizeram acontecer tudo aquilo que é contado nas primeiras páginas. [FIM DO SPOILER]

Enfim, comecei a leitura de Graça Infinita morrendo de medo de achar ele um livro pretensioso,parecido com aquele filmes cults propositalmente entendiantes que te contam uma história cheia de complexidades,que poderia ser explicada de uma forma muito mais simples. Mas graças a Deus,isso não aconteceu. Apesar da linguagem totalmente bagunçada ( e ela foi o motivo de eu não ter dado 5 estrelas,já que isso atrapalhava demais a leitura),esse foi um recurso compreensível e até posso chegar a admitir que necessário. Ela deu um toque de humor pra uma história pesada e triste,ao mesmo tempo que te deixava muito próximo dos personagens. Já disse isso e volto a repetir: nunca compreendi tão bem o que se passa cabeça de alguém com depressão, de quem sofre abuso,ou como se sente alguém na hora de uma overdose. É assustador.
Placido.Borba 03/10/2018minha estante
Li até a página 70 e estava pensando em abandonar, sua resenha me fez ter vontade de continuar!




Daniel 19/10/2015

(Des)
19/10/2015
Um livro com 1000 páginas TEM QUE ser muuuuuito bom, caso contrário não vale a pena. Achei chato, desinteressante, pretensioso, não senti vontade nem prazer em continuar a leitura. Não me lembro de ter abandonado outro livro sem terminar, e sinto meio que um fracasso da minha parte com este ato. Mas enfim, os livros também existem para serem abandonados....


18/10/18
Tentei ler este livro exatamente três anos atrás. Não dei conta e acabei abandonando. Por uma série de coincidências (amigos em comum que comentaram sobre o livro, matérias comemorativas de 20 anos do lançamento, etc.), resolvi reiniciar a leitura. Felizmente desta vez fui até o fim. Me incomodava aquele livro abandonado na estante do skoob, rs!
Infelizmente esta leitura de GRAÇA INFINITA envolveu muito mais esforço que prazer. Há trechos realmente lindos, surpreendentes, engraçados... tristíssimos... Geniais, de fato. Mas entre estes trechos há páginas e páginas e páginas de blablablá, verdadeiros surtos psicografados que, sinceramente, davam vontade de jogar o livro longe. E as quase 400 (isso mesmo: 400 !!! ) notas? E quantas destas notas, de fato, relevantes?
A história como um todo não me entusiasmou. Há ótimas idéias, sem dúvida, mas tudo acabou diluído no meio de TANTA informação. Acabei perdido no meio de tantos personagens, e nenhum me cativou de fato.
Acho que há muito hype sobre o autor... Tenho dúvidas ele seria considerado tão genial se não tivesse tirado a própria vida. Comparando com tantos outros autores contemporâneos, acho que talvez o que falte é o mesmo reconhecimento para Jeffrey Eugenides, Ian McEwan. Michael Cunningham e tantos outros. O tempo dirá.
Daniel Assunção 19/10/2018minha estante
Parabéns pela insistência e pela resenha... Só uma coisinha, mas acho q McEwan já é mais reconhecido q DFW.


Daniel 25/10/2018minha estante
Acho que vc tem razão, Daniel... Felizmente o Ian McEwan tem o reconhecimento que merece


bardo 27/03/2023minha estante
Pretendo retomar uma hora, li outros do autor, gostei mas concordo que ele pode ser meio maçante às vezes. Agora especificamente esse livro essa tradução aí é bem problemática, da outra vez que tentei retomar, peguei uma edição portuguesa e que alívio!! Um que fluí bem melhor é o Breves entrevistas com homens hediondos.




cristinaparga 26/04/2015

Cada história uma lente de aumento para a hipersensibilidade, necessidade de fuga, vulnerabilidade, complexidade e -- por isso -- beleza sem sentido do ser humano --uma piada infinita e triste.
Acabei de ler ontem e já me sinto completamente órfã. Eu sonhava com o Hal. A cena em que o Orin descreve a interface com as cobais é das descrições homem-mulher mais perpicazes que já li. Mas também tentei render o livro, porque só tinha vontade de que aquilo não acabasse nunca -- que eu nunca acordasse daquele sonho caleidoscópico feito de drogas de todo gênero, de personagens bizarros e até cruéis -- mas tão vulneravelmente humanos que simpatizamos com eles. Além do fato de ficarmos completamente viciados numa leitura sobre adição/compulsão e dependência (entre outras coisas, claro), o que é no mínimo irônico mas acontece sutilmente: DFW entrelaça histórias do nada e nos faz cair em armadilhas e calabouços narrativos do qual simplesmente, como dependentes, sabemos que temos que sair -- mas no fundo no fundo não queremos, não antes da última dose -- que é sempre a penúltima.
Comecei a ler no tijolão, mas era inviável andar com tanto peso, então comprei a versão kindle. Foi a melhor coisa que fiz. No final a leitura virou algo tão compulsivo que eu passeava a minha cachorra lendo. Andava de ônibus lendo. Esperava táxis, amigos, garçons e muitas vezes deixei de sair pra ficar em casa com Hal e Gately. Aprendi muito sobre a linha tênue entre uso ocasional, compulsão e dependência -- seja em relação a trabalho, droga, álcool, tv ou até no vício de agradar os outros. Me identifiquei inúmeras vezes, e reconheci a maior parte das pessoas que conheço -- e nenhuma está no AA. Aprendi tanto sobre negação, abusos e consequências, sobre a complexidade e vulnerabilidade humana em geral, que acho que valeu por anos de análise. Tive pesadelos com a Joelle, com o Gately, com o Hal (que sofria com alguma coisa e eu não conseguia ajudar)...e confesso, até desses pesadelos vou ter saudade. Como disse, estou órfã. DFW era um gênio, mas o que me derrubou no livro foi o olhar inesperado, agudo, tolerante/isento e tão profundo sobre mazelas humanas de que a gente só ouve falar, de longe.
05/10/2016minha estante
Comprei logo que saiu e desde então estou ensaiando pra começar a ler. Depois de sua resenha coloquei na fila como próximo a ser lido. Parabéns pela resenha.




Marcos 17/04/2015

DFW como experiência religiosa
Ler "Graça Infinita" é tipo assumir um relacionamento sério, um compromisso bastante duradouro que, por mais que saiba que chega ao fim alguma hora, você não consegue muito bem vislumbrar esse momento nem antever quando acontecerá. Dependendo de como for sua experiência (GI, definitivamente, não é um livro pra todo mundo, ou melhor, pra todos os gostos), também gostaria de evitar o fim por mais inevitável que ele possa ser (mil e tantas páginas: pode não parecer, mas são finitas). De repente você se pega por semanas (meses, provavelmente) a fio andando por aí com um belo calhamaço pesado nas mãos (na mala, na mochila), carregando um romance que pesa como pedra. Nunca a ideia de “tijolo” para descrever um livro foi tão literal. Você ama e odeia o livro por conta disso. O peso extra na mochila nunca te deixa esquecer que ele está ali, insistindo em te puxar. Você abre mão de outras coisas pra carregá-lo, abre mão de outras leituras pra privilegiar o fluxo da narrativa. Das narrativas. Cabe muita coisa num livro desses. Os narradores se alternam, as situações, a memória e o tempo, tudo um pouco entrecortado. Há descrições pormenorizadas de como funciona uma academia de tênis construída para adolescentes de performance de alto nível, o aquecimento, os treinamentos, as táticas, os jogos; páginas e páginas sobre o funcionamento de uma casa de recuperação vinculada a um AA, a rotina, as reuniões, seus problemas práticos e relacionais. Um manual sobre medicamentos e drogas sintéticas, para todos os efeitos. Um manual sobre um jogo absurdo e aparentemente bastante sem graça chamado Eskhaton. Claro que o que interessa, no entanto, são as personagens inseridas nesses espaços - acompanhamos a história de vários deles, todos "mui sui generis", bizarros nos mais variados sentidos. "Bizarro" é uma boa palavra para descrever o enredo, com toda a certeza. Às vezes DFW parece perder a mão e a noção, e exagerar no andar (ou na lentidão) da coisa - mas claro que o faz de propósito. O incômodo e a angústia também fazem parte da experiência, com certeza. Também fazem parte da proposta, do Entretenimento (diferente do Entretenimento fílmico e homônimo do enredo, que promete ser tão arrebatadoramente prazeroso que impossibilita qualquer um que o assista de fazer qualquer outra coisa que não seja assisti-lo). Tudo aqui pode ser percebido como metafórico e proposital, como essencialmente experimental. Às vezes há a tentação de voltar pra Lá Fora, deixar o livro de lado - mas a gente tem é que Aguentar Firme. Continuar Vindo. Continuar Lendo. Porque logo nos Identificamos com muita coisa. Muita coisa. DFW fala de uma sociedade num futuro tão presente que parece sempre pronto a acontecer (isso já há 20 anos, já que o livro foi lançado em 1996). DFW fala sobre todos nós. Expõe muita coisa nossa, enquanto sociedade e também enquanto sujeito. Li o livro em pouco menos de dois meses, em três estados brasileiros, em pelo menos uma dúzia de cidades diferentes. Carregava sempre comigo. As viagens de ônibus me ajudaram a manter um bom ritmo de leitura. Mas li "Graça Infinita", principalmente, logo antes de dormir. Trocava um pouco de sono por um pouco mais de leitura. Um sacrifício nem tão sacrificante assim. Isso, porém, foi significativo na minha experiência pessoal com o livro, com toda a certeza. Tive uma porção de sonhos bizarros por conta dessa rotina de leituras pré-sono. Sonhei com partidas de tênis. Sonhei com o pequeno grande Mário. Sonhei com cadeirantes assassinos. Gately era meu chapa. Hal, meu companheiro de quarto. Sonhei com mortes bizarras, com teatros de fantoches, com pessoas que usavam um véu. Sonhei com pessoas incrivelmente altas e canhotas. Sonhei com reuniões de AA. Sonhei que dirigia um filme. Sonhei que dirigia um guincho. Sonhei com tempestades de neve. Meus sonhos ficaram muito mais sem pé nem cabeça. Vou sentir falta desses sonhos.
Ana 17/04/2015minha estante
uau, vc terminou! rs adorei a resenha!
mas quando ler, vou de kindle ... rs


Marcos 17/04/2015minha estante
Ehehehe obrigado, Ana! =] E pensei que o Kindle era mesmo uma boa "saída" pra boa parte dos problemas práticos que envolviam a leitura.. ahahaha! Mas, particularmente, como acabei por fim não me ajeitando tão bem assim ao Kindle (o meu anda abandonado talvez a mais de um ano) e perdi o costume de leituras, talvez não conseguisse encarar um livro desse tamanho por lá. Mas pra você que se familiarizou bastante, é uma mão na roda, com certeza =] depois trocamos umas ideias quando ler!


Carol 17/04/2015minha estante
Resenha bem apaixonada, hehe. Quero ler, mas ando com um pé atrás pela expectativa que tem sido gerada em cima do lançamento. Enquanto isso fico aqui na moita do skoob :)


Marcos 17/04/2015minha estante
Ahahaha a experiência de leitura foi bacana, o livro "encaixou" no tempo que eu tinha e isso ajudou.. expectativa sempre interfere, não tem jeito, mas tem que arriscar e ver qual vai ser a da leitura. Quando pegá-lo por aí trocamos umas ideias sobre ele, Carol =]


Carol 18/04/2015minha estante
Massa!


Julyana. 18/04/2015minha estante
Você terminou! :)


Patricio 01/06/2016minha estante
Muito legal a sua resenha, Marcos! gostei muito da descrição que fluiu espontaneamente!
Vou encarar o livro ainda este ano, pois tenho algumas metas de leitura a cumprir.
Forte abraço e continue sonhando!



biancalara 05/04/2017minha estante
To no meio do livro e você descreveu EXATAMENTE como eu me sinto. Graça Infinita é um livro pra lembrar pra vida.


laloarauxo 13/10/2020minha estante
Eu pretendo adquirir o tijolo em breve.
Também não me adaptei com o Kindle. Sou da geração analógica.


GuyNB 12/02/2023minha estante
Que lindo!


EduardaMariaGG 24/02/2024minha estante
ca-ram-ba




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Itallo 18/12/2014minha estante
Gostei muito da resenha! Parabéns por ter terminado o livro tão rápido (pelo que observei no histórico do skoob). Ainda hoje me pego pensando no melancólico Hal e nos casos assombrosos contados na Ennt House, como por exemplo, quando você mesmo me fez lembrar da Êxtase de Santa Teresa. Até agora tento imaginar como deve ser a mulher do Marathe... Mas nada se compara ao meu medo de dormir logo depois de ler as descrições do filme, sério mesmo, tinha um medo pavoroso de sonhar com a Joelle e virar um bocô rsrsrs. Enfim é DFW, é denso, é divertido, é nojento é o Ulysses da nossa geração.


Itallo 18/12/2014minha estante
Gostei muito da resenha! Parabéns por ter terminado o livro tão rápido (pelo que observei no histórico do skoob). Ainda hoje me pego pensando no melancólico Hal e nos casos assombrosos contados na Ennt House, como por exemplo, quando você mesmo me fez lembrar da Êxtase de Santa Teresa. Até agora tento imaginar como deve ser a mulher do Marathe... Mas nada se compara ao meu medo de dormir logo depois de ler as descrições do filme, sério mesmo, tinha um medo pavoroso de sonhar com a Joelle e virar um bocô rsrsrs. Enfim é DFW, é denso, é divertido, é nojento é o Ulysses da nossa geração.


Gustota 19/12/2014minha estante
Cara, sensacional. O lance da mulher do Marathe achei uma coisa estranhamente romântica pra alguém que tem uma cabeça de geléia. Vc chegou na parte em que ele tá na Ennet explicando como salvou ela??


Itallo 04/01/2015minha estante
Já cheguei sim a esta parte, na verdade já tinha lido o livro no final de setembro pela edição portuguesa. Achei sensacional também, Marathe realmente consegue ser um dos personagens a serem mais "estudados" pela sua "filosofia de vida" rsrsrssrs




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