Manuela 18/06/2014De Brasília a JerusalemAcho que sou do tipo que gosta de histórias tristes. Ou cheias de vazios. Do tipo vazio de alma. Personagens solitários, mesmo quando acompanhados de uma multidão. O peso da alma que deveria ser leve. Essas contradições que aparecem em nossas vidas, nas nossas histórias.
Em Terra de Casas Vazias, André de Leones nos conta a estória de Arthur e Tereza, jovem casal, cujo tempo a cada dia envelhece, que precisa lidar com a perda de um filho. É a perda que perpassa a vida desses personagens e que delineia os seus dias. Tereza se sente sufocada pela presença da ausência. Arthur, pela ausência presente de sua esposa. No continuar da história, outros dois personagens são delineados. Aureliano e Camila. O primeiro, cuja ligação com Arthur é quase fraterna, a segunda, sua esposa, que descobriu, recentemente, uma doença que degrada e degenera - mais uma vez a morte, essa coisinha que se faz presente em paralelo à vida. Marcela e Nathalie fechariam esse triangulo de casais, conhecendo-se em uma situação de extremo: ambas em uma casa de reabilitação, após um surto decorrente do uso de cocaína.
A morte é sempre um personagem vigente, em qualquer que seja o contexto da estória. A morte que existe, a morte que vai existir, a morte que existiu. A linha tênue do próprio existir. Afinal, para morrer é o bastante que se esteja vivo. E só.
A escrita de André de Leones é belíssima. Longe de uma regularidade linear, ele pincela palavras a fazendo ganhar vida. A imagem é algo quase sublime, como se as letras tomassem forma, virassem árvores desarvoradas, prédios vazios, terra perpassada pelo nada.
Meu único adendo seria quanto a separação das partes do livro, que se divide em cinco. Penso que os adendos antecedentes, que explicam a parte que se segue, expõe mais do que deveria, objetiva aquilo que deveria ser ar, rarefeito, engolido como se pode, como se quer. Ou talvez seja só eu, que não gosto que me deem coisas de bandeja.
"É o pequeno jogo entre os dois, o mesmo de sempre, e no fundo ela aprecia a coisa toda, alguns minutos para si, um momento em que pode simplesmente sentar e, sozinha, fumar um ou dois cigarros sem que mais nada aconteça, sem que ninguém venha incomodá-la, como se o mundo fora do quarto desaparecesse e só restassem ele e a cama na qual está sentada e os cigarros e o criado-mudo e o pequeno cinzeiro e Arthur e o guarda-roupa onde se enfiou e as paredes do quarto, aquele quarto com eles e aquelas coisas dentro e eles dentro das coisas, e só." (p. 135)
Sem dúvida, virou favorito.