Terra de casas vazias

Terra de casas vazias André de Leones




Resenhas - Terra de Casas Vazias


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Matheus Braga 16/04/2013

Terra de Casas Vazias - André de Leones
Hey pessoal, tudo bem?

Este livro me foi enviado em parceria com a editora Rocco e, mesmo fugindo ao estilo literário abordado aqui no Vida de Leitor, qual seja, o de literatura fantástica, decidi tirar um tempo para ler e ver se André de Leones conseguiria me conquistar. Eis então que aparece o primeiro sentimento divergente, pois, ao passo que ele conseguiu construir personagens detalhadamente profundos e palpáveis, o enredo no qual são inseridos afasta um pouco o leitor da obra em si. Afinal, morte, finitude e perda são os maiores medos do ser humano.

O livro é dividido em várias partes, sendo que cada uma conta a história de um personagem ou dos personagens das partes anteriores no momento que estão interagindo com outros ou em diferentes passagens de tempo, como quando uma parte conta a história de Arthur em 2009 e outra mostra ele como criança conversando com sua mãe. Não vou falar de cada um dos personagens, mas os mais importantes são Arthur e sua esposa Teresa, e Aureliano - primo de Arthur - e sua esposa Camila. Terra de Casas Vazias é um livro que explora a morte e a perda, tendo Teresa perdido o filho e vivendo em um luto eterno e Aureliano vendo a esposa sofrer de uma degeneração muscular sem poder fazer nada para ajudá-la, ou seja, é um livro mórbido e que, por mais que tente passar uma lição de "superação", acabará afastando grande parte do público, já que temos nosso próprios problemas a superar e não precisamos testemunhar o sofrimento e definhação de outra pessoa.

Definitivamente não gostei do livro. Por mais que a intenção do autor tenha sido mostrar que o ser humano é finito e que temos que aprender a viver com a perda, não acho que esta seja uma obra que possa inspirar uma superação. É apenas mais uma obra que mostrar onde fica o fundo do poço de cada ser humano quando os mesmos tem que lidar com o luto ou com a impossibilidade de voltar no tempo e isso, a meu ver, não é algo que possa entreter e se destinar a um público jovem, mas sim, a quem tenha um gosto um pouco sombrio para literatura.

Os personagens são MUITO bem construídos e conseguem passar emoção ao leitor, mas como disse, a história na qual eles são inseridos não faz com que você tenha aquela "sede" de saber o que vai acontecer. O autor conseguiu mostrar o quão poderoso pode ser o amor de uma mãe através da dor e sofrimento de Teresa. Sério pessoal, chega a dar agonia ver essa mulher sofrendo, dopada e encolhida nos cantos. Ele também conseguiu mostrar a imperfeição do ser humano através dos erros cometidos por seus personagens, erros esses que muitos de nós cometemos todos os dias pelo simples fato de sermos seres humanos. A exemplo temos o rencontro de Arthur com Rita - ex-esposa - e o fato dele começar a ter "pensamentos " sobre ela sendo que acabou de perder o filho.

Não encontrei erros de revisão e devo dizer que no que tange ao vocabulário o autor está de parabéns. Não só pelo fato de enriquecer o meu a cada palavra desconhecida que lia e olhava o significado, como também pelas partes em que ele usava de metáforas poéticas para tentar descrever um sentimento. A única coisa que não pode agradar a todos é que ele não tem pudor no que tange ao uso de xingamentos comuns de nosso dia a dia como "vai tomar no #$" ou "vai à mer@$", se é que me entendem. A diagramação do livro é simples e como já foi dito, ele é dividido em partes.

Estava pesquisando um pouco sobre a obra para ver de onde surgiu o autor e me deparei com uma informação muito interessante - no blog Aceita Um Leite? - sobre a capa do livro. A imagem usada é uma xilogravura de Wylma Martins - 1958 - intitulada Casas Nº 1. Ela é meio sem graça para quem está acostumado com as capas dos livros fantásticos banhados em cores e desenhos extravagantes mas, se parar para analisar um pouco a arte de Terra de Casas Vazias, conseguirá ver a beleza na simplicidade.
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Manuela 18/06/2014

De Brasília a Jerusalem
Acho que sou do tipo que gosta de histórias tristes. Ou cheias de vazios. Do tipo vazio de alma. Personagens solitários, mesmo quando acompanhados de uma multidão. O peso da alma que deveria ser leve. Essas contradições que aparecem em nossas vidas, nas nossas histórias.

Em Terra de Casas Vazias, André de Leones nos conta a estória de Arthur e Tereza, jovem casal, cujo tempo a cada dia envelhece, que precisa lidar com a perda de um filho. É a perda que perpassa a vida desses personagens e que delineia os seus dias. Tereza se sente sufocada pela presença da ausência. Arthur, pela ausência presente de sua esposa. No continuar da história, outros dois personagens são delineados. Aureliano e Camila. O primeiro, cuja ligação com Arthur é quase fraterna, a segunda, sua esposa, que descobriu, recentemente, uma doença que degrada e degenera - mais uma vez a morte, essa coisinha que se faz presente em paralelo à vida. Marcela e Nathalie fechariam esse triangulo de casais, conhecendo-se em uma situação de extremo: ambas em uma casa de reabilitação, após um surto decorrente do uso de cocaína.

A morte é sempre um personagem vigente, em qualquer que seja o contexto da estória. A morte que existe, a morte que vai existir, a morte que existiu. A linha tênue do próprio existir. Afinal, para morrer é o bastante que se esteja vivo. E só.

A escrita de André de Leones é belíssima. Longe de uma regularidade linear, ele pincela palavras a fazendo ganhar vida. A imagem é algo quase sublime, como se as letras tomassem forma, virassem árvores desarvoradas, prédios vazios, terra perpassada pelo nada.

Meu único adendo seria quanto a separação das partes do livro, que se divide em cinco. Penso que os adendos antecedentes, que explicam a parte que se segue, expõe mais do que deveria, objetiva aquilo que deveria ser ar, rarefeito, engolido como se pode, como se quer. Ou talvez seja só eu, que não gosto que me deem coisas de bandeja.

"É o pequeno jogo entre os dois, o mesmo de sempre, e no fundo ela aprecia a coisa toda, alguns minutos para si, um momento em que pode simplesmente sentar e, sozinha, fumar um ou dois cigarros sem que mais nada aconteça, sem que ninguém venha incomodá-la, como se o mundo fora do quarto desaparecesse e só restassem ele e a cama na qual está sentada e os cigarros e o criado-mudo e o pequeno cinzeiro e Arthur e o guarda-roupa onde se enfiou e as paredes do quarto, aquele quarto com eles e aquelas coisas dentro e eles dentro das coisas, e só." (p. 135)

Sem dúvida, virou favorito.
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Leonardo.Rodrigues 06/12/2020

Um ótimo livro sobre relações pessoais
André de Leones é conhecido pelos seus romances mais existenciais. E esse não é diferente. As diferentes personagens são acometidas por tragédias pessoas e precisam tentar se reerguer de alguma forma. É um livro que trata dessas tentativas de contornar os problemas mesmo que essas tentativas impliquem em deslocamentos, em rupturas e em reconstruções das relações pessoais.
A escrita de Leones é simples e tranquila, apesar de que as muitas descrições sobre os espaços onde a narrativa se desenvolve possa atrapalhar a fruição da leitura. Mas é algo que "pode" atrapalhar, ou seja, não significa que atrapalha. Um ponto positivo nesse caso é o narrador observador onisciente e os discursos indiretos presentes no livro, o que faz com que o leitor se aproxime cada vez mais dos estados de espírito das personagens tão marcadas pelas suas perdas e tragédias. Faz com que adentramos, cada vez mais, nas casas vazias do romance.
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