Marcelo Caniato 18/04/2021
Crime ocorre nada acontece feijoada
Normalmente eu detesto review que começa com "eu queria muito gostar, mas...", mas eu vou ser obrigado a dizer isso aqui: eu queria muito gostar desse livro, mas não deu. A razão de eu ter lido com expectativa alta foi ter gostado dos filmes. O segundo filme não é tão bom, mas o primeiro, O Último Tiro, é excelente.
Nada nesse livro é suficientemente bom. O enredo é mediano e as cenas de ação são fracas. Mas é o tipo de coisa que daria pra relevar, como um passatempo pra desligar a mente, se não fosse a escrita do autor. Eu até pensei que fosse problema de tradução (talvez algumas coisas até sejam), mas depois procurei na internet e vi que há críticas ao texto original também. A escrita dele é confusa, repetitiva, com diálogos ruins e cheia de frases curtas do tipo: "Fulano se levantou. E então ele se virou. Olhou para o homem na sua frente. Com uma faca na mão.", e assim por diante. Tem uma cena em que ele se refere a um mesmo veículo, em trechos diferentes, como caminhão, caminhonete, furgão e picape. Até agora não sei dizer qual é a forma exata desse veículo. Em outro momento ele fala que ficou no ar por 2h35 em um "táxi". Táxi aéreo? Não parecia, de acordo com o que havia sido dito antes. Ficou no ar no sentido de "ficou aéreo"? Não sei. Um parágrafo depois ele menciona estar num táxi, aí já claramente no chão, mas só serviu pra aumentar a confusão. E algumas páginas depois ele fala que pegou o avião de volta e demorou muito mais: 2h30 (??). Supus que "demorar mais" foi uma sensação dele. Mas pra que mencionar então o tempo de viagem novamente? Fora inúmeras outras passagens estupidamente confusas, que poderiam ser evitadas com mudanças simples no texto.
O livro tem 470 páginas. Quatrocentos e setenta! Nas primeiras 200, vários nadas acontecem. Logo no iniciozinho ocorrem umas cenas em um presídio que eu já desconfiava que não seriam muito interessantes, e não foram mesmo. O resto é uma investigação monótona, em que quase nada é revelado, e fica o Reacher rodando pra lá e pra cá descrevendo cada centímetro de paisagem. Não contente com isso, ele ainda se repete, descrevendo tudo de novo toda vez que ele pega aquele mesmo caminho.
Eu tinha visto um review dizendo que depois da metade o livro pega fogo. Eu não sei o conceito de metade da pessoa que escreveu aquilo, mas a história pra mim só ficou minimamente intensa na página 400. Foi o primeiro momento em que eu consegui me importar um pouco com os vilões. Até então, eles podiam viver ou morrer que não fariam diferença pra mim. Aí você pensa que o negócio vai engrenar, mas não. A cena final é tosca, extremamente forçada, e só tinha possibilidade de ocorrer com a bênção do roteirista mesmo. E nem de longe é incrível, como faz parecer o blurb na capa (inclusive, belo spoiler pra se colocar na capa).
Além do que já foi dito, a estória é recheada de coincidências absurdas e atitudes sem sentido dos personagens. A explicação que o Reacher dá pra como ele encontrou uma pessoa desaparecida chega a ser engraçada de tão absurda. Ao mesmo tempo, ele e os outros investigadores não enxergam coisas que são óbvias pro leitor desde o início. Com certeza tem outras coisas que estou esquecendo de comentar, mas enfim. Fica aí a não-recomendação pra quem se interessar.