Flavio Assunção 21/08/2010Lançado na década de 80, "Fobia" é um daqueles livros que possuem uma premissa bem interessante, uma trama original e fatores essenciais para a criação de uma narrativa intensa e perturbadora. Nos dias de hoje poderia até ser lembrado como um clássico. Mas o autor Thomas Luke perdeu uma chance de ouro.
O livro fala sobre o Dr. Peter Ross, que quando criança viu sua irmã caçula morrer afogada. Sentindo-se culpado por ter ficado paralisado e incapaz de pedir ajuda quando ela caiu na piscina, adquiriu uma fobia de água, agravada ainda mais quando seu pai, querendo ensiná-lo a nadar, anos mais tarde, o jogou no lugar mais fundo da piscina. Quando cresceu e se tornou um conceituado psicoterapeuta, apostou todas suas fichas em um projeto experimental intitulado "Teoria da Implosão". O ponto chave do programa era fazer com que pessoas detentoras de determinada fobia passassem pelas situações referentes a ela para que assim conseguissem a libertação plena do seu problema interior.
A questão central da trama é que as "cobaias" de Dr. Ross são criminosos que, curiosamente, cometeram assassinados justamente por serem colocados em situações relacionadas a sua fobia. São eles: Barbara, que sofria de agorafobia; Laura, que fora violentada na adolescência e que adquiriu medo de homens; Henry, que preferiu matar um policial do que pular de uma altura de três metros para escapar de um assalto; Bubba, que espancou uma velhinha até a morte por pensar que as jóias que ela deixara cair eram na verdade cobras; e Johnny, que era trancado por sua mãe dentro de um armário enquanto ela se prostituía.
Lutando contra a opinião pública, contrários ao projeto, e a polícia, que quer apenas um único motivo para suspender o programa, Dr. Ross luta diariamente para ter resultados importantes com seus pacientes. Mas tudo acaba rolando ladeira abaixo quando eles começam a morrer um a um.
Como já citei, trata-se de uma obra um tanto instigante, que tinha tudo para envolver até a chegada a um final surpreedente. Talvez essa fosse a idéia de Thomas Luke, mas um pouco mal executada. A começar pelas inúmeras dicas que o autor deixa durante a narrativa sobre o assassino. A intenção, julgo eu, era para que fosse algo bem sucinto. Porém, o leitor mais atento já começará a desconfiar na metade da trama. Isso faz com que já não se sinta tão envolvido, e a tentar ligar as fichas por si só e continuar a leitura para confirmar se era aquilo mesmo que imagina.
De qualquer forma, "Fobia" é um bom livro de um modo geral. É curto e tem capítulos rápidos, o que não cansa o leitor. Claro, é fato que poderia ser uma obra mais intensa, com doses de tensão, mas o autor preferiu não aproveitar esse lado do suspense.
O maior problema do livro é mesmo a rapidez. Tudo é muito veloz. Não há um texto mais trabalhado ou algo que crie expectativas. As coisas simplesmente acontecem. Isso fica claro na revelação final, por exemplo, que é frustrante em todos os sentidos. Não só por ser previsível nessa altura, mas pela superficialidade com o qual as coisas se desenvolvem a partir dalí.
E é isso. "Fobia" seria um ótimo livro de suspense se o autor não houvesse se perdido na história e deixado de lado as técnicas de criar expectativa e tensão. Fora isso, é um livro interessante, que pode agradar algumas pessoas, embora os leitores mais exigentes possam acabar ignorando ainda na metade.