Krisley 18/05/2016
Sensacionalista e extremamente parcial
O livro fala sobre o restabelecimento da escravatura por Napoleão nas colônias francesas (principalmente em Saint-Domingue - Haiti e República Dominicana - e Guadalupe) em 1802 e os crimes, massacres, combates e decretos segregativos que o seguiram (decretos que proibiam militares “de cor” a residir perto de Paris, que proibiam casamentos inter-raciais e que excluíam negros de estabelecimentos de ensino).
O autor usa citações sem referência, vibra com derrotas de Napoleão, preenche lacunas como melhor lhe convém, força um paralelo com Hitler e o nazismo, usa apelidos e adjetivos depreciativos para se referir a Napoleão e outros franceses ao longo de todo o livro.
- “O soldado [Napoleão] rebaixado e suicida morava em um pequeno hotel de má fama”. Pag 61
- “Pélage, lambe-botas ridículo”. Pag 95
- “Daquele [Napoleão] que Henri Guillemin [...] chamou de ‘pequeno chacal’, que Barras chamou de ‘pequeno farsante’ e que eu chamo de ‘pequeno negreiro’ ”. Pag 44
O autor também faz várias alegações especulativas sem apresentar nenhuma evidência que as suporte. Ele fala que o avô de Hitler era judeu, que Napoleão engravidou uma negra e sua enteada (filha de Josefina), que ele teve relação incestuosa com Pauline e que Josefina engravidou de um negro.
- “A encantadora Esther Vessey, ‘mulata’ de 16 anos, [...] era quem proporcionava ao negrófobo a oportunidade de satisfazer ao mesmo tempo sua libido ‘sazonal’ e também, sem dúvida, o fascínio neurótico do colono impotente pela dominação sexual de sua cativa, simultaneamente desejada e desprezada. [...] No outono de 1816, Esther ficou grávida.” Pag 75
- “Obviamente, é preciso ser muito desnaturado para lançar à rua um filho e a mãe desse filho, por receio do que possa ser comentado. Mas o herói que restabeleceu a escravatura não tinha escrúpulos. “Pag 76
- “ [...]Hortense, filha de Joséphine. As más línguas diziam que Napoleão teria engravidado sua própria enteada. “Pag 107
- “Pauline dominava Napoleão, porque muito certamente tinha relações incestuosas com ele. “Pag 107
- “Mas um homem tão bem-informado quanto o Primeiro Cônsul não poderia ignorar que ela fosse na realidade o fruto dos amores de Joséphine com um ‘negro’. “Pag 58
Há também uma boa quantidade de sarcasmo, que pessoalmente acho totalmente fora de lugar e desnecessário:
- “Belo programa, que pressupunha algumas centenas de milhares de mortes. Bonaparte o aprovou integralmente. ” Pag 134
- “ ‘lavagem do rosto com chumbo’ (o fuzilamento). Isso porque todos tinham a cara suja, não era verdade? “Pag 148
- “É verdade que haviam esquecido de dar-lhes roupas e que em Brest, naquele mês de janeiro de 1802, havia um certo friozinho. Não se pode pensar em tudo! “ Pag 169
Uma boa parte do livro é dedicada a engrandecer Thomas-Alexandre Dumas e reduzir Napoleão perante ele.
- “De pé sobre suas esporas, Napoleão, com um metro e cinquenta e cinco centímetros de altura, não poderia sentir senão ódio ao ver chegar o colosso negro, que ainda era seu superior hierárquico numa arma prestigiosa. “ Pag 61
- “As pilhagens e a caça aos cristãos haviam começado. Bonaparte estava ausente, ou talvez, mais provavelmente, oculto em seu alojamento, acreditando-se perdido. Dumas estava pronto a cumprir seu dever, mas sem grande convicção, porque a repressão não era seu forte.” Pag 63
- “Dumas já era general-de-divisão quando o homem [Napoleão] que seus camaradas apelidaram de “nariz de palha” era somente comandante de batalhão. “ Pag 60
Entre todos esses xingamentos, meias verdades e falácias foi possível extrair algum conhecimento útil (como nomes de personagens importantes, batalhas, decretos, acontecimentos) para futuras pesquisas e leituras em fontes confiáveis, único motivo de eu ter terminado a leitura.