Alessandra Pedrotti 12/05/2021
O jovem, as vezes ele só precisa dar uns beijos
Um dos contos da fase realista de Machado, Missa do Galo trata do despertar da paixão de um adolescente e a solidão e o adultério da mulher adulta da época. No conto temos o personagem principal, Nogueira, um jovem que está de visita na casa do viúvo de sua prima que se casou novamente com outra mulher, Conceição. A história gira ao redor de uma conversa que os dois personagens tiveram ao longo da noite de véspera de Natal, enquanto o jovem aguardava um amigo para ir à missa do galo da Corte.
Temos então esses dois personagens, Nogueira, um jovem tímido, leitor ávido, portador de uma inocência ainda infantil e Conceição, a encarnação da “boa esposa”, a figura feminina boazinha, a “santa” que perdoava tudo e não sabia odiar ninguém. Durante a conversa dos personagens podemos analisar a destruição dos estereótipos anteriormente apresentados para os dois. Nogueira tendo seu despertar romântico e sexual ao abandonar (mesmo que momentaneamente, não sabemos) sua inocência infantil e Conceição se colocando como uma mulher sensual que tentou seduzir o jovem, ao contrário da figura conivente e recatada que perdoava as traições do marido de bom grado.
Todo o momento da noite e madrugada que os dois passam conversando tem uma aura bastante misteriosa no texto, apesar da premissa do conto ser bastante simples. Não importava de fato o que os personagens estavam dizendo ou fazendo, mas sim o que eles poderiam ter feito. A temática do conto se transforma em um jogo de vontade e proibição.